Eleições na África Sul

Eleições na África Sul: partido de Mandela pode perder maioria pela 1º vez, sugerem resultados iniciais

Muitos eleitores culpam partido governista pelos elevados níveis de corrupção, criminalidade e desemprego no país. Resultado final das eleições deve ser divulgado neste fim de semana.

As filas, como esta em Joanesburgo, lembram a votação de 1994 na África do Sul -  (crédito: Getty Images)
As filas, como esta em Joanesburgo, lembram a votação de 1994 na África do Sul - (crédito: Getty Images)

Foram anunciados os primeiros resultados das eleições consideradas as mais disputadas na África do Sul desde que o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) chegou ao poder, há 30 anos.

Com resultados de 27% dos distritos eleitorais contabilizados até agora, o ANC lidera com 43%, seguido pela Aliança Democrática (DA, em inglês) com 25%.

Os radicais Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF, em inglês) têm 9%, enquanto o Partido uMkhonto weSizwe (Partido MK) do ex-presidente Jacob Zuma tem 8%.

O resultado final deve ser divulgado neste fim de semana.

Os resultados iniciais sugerem que o ANC perderá a maioria parlamentar pela primeira vez desde que Nelson Mandela levou o partido à vitória após o fim do sistema racista do apartheid, em 1994.

Muitos eleitores culpam o ANC pelos elevados níveis de corrupção, criminalidade e desemprego no país.

O respeitado Conselho de Investigação Científica e Industrial (CSIR) e o site News24 projetaram que a votação final do partido poderá chegar aos 42%, uma grande queda em relação aos 57% obtidos nas eleições de 2019.

Isso pode forçá-lo a formar uma coligação com um ou mais partidos, a fim de formar maioria no parlamento.

O DA tem políticas econômicas liberais, enquanto tanto o EFF como o MK defendem maior intervenção estatal e nacionalização. Assim, a escolha por um parceiro faria uma enorme diferença na direção futura da África do Sul.

Não está claro se o presidente Cyril Ramaphosa permanecerá no poder, pois poderá ser pressionado pelo ANC a renunciar, caso o partido tenha menos de 45% dos votos finais, diz o professor William Gumede, presidente da organização sem fins lucrativos Democracy Works Foundation.

"O ANC pode transformá-lo num bode expiatório, e grupos dentro do partido podem fazer pressão para que ele seja substituído pelo seu vice, Paul Mashatile. A EFF e o MK também provavelmente exigirão sua demissão antes de concordarem com qualquer coligação com o ANC”, diz o professor Gumede à BBC.

Os sul-africanos não votam diretamente para presidente. Em vez disso, elegem os membros do parlamento que escolherão o presidente.

Os resultados iniciais mostram que o ANC está sofrendo pesadas perdas para o MK, especialmente em KwaZulu-Natal, onde o partido de Zuma lidera com 43% dos votos contra 21% do ANC.

Zuma causou uma grande surpresa ao anunciar, em dezembro, que estava abandonando o ANC para fazer campanha pelo MK.

KwaZulu-Natal é a região natal de Zuma e a província com o segundo maior número de votos, o que a torna crucial para determinar se o ANC mantém a sua maioria parlamentar.

Embora Zuma tenha sido impedido de concorrer ao parlamento devido a uma condenação por desacato ao tribunal, o nome dele ainda apareceu no boletim de voto como líder do MK.

Se o MK vencer KwaZulu-Natal, seria uma "grande reviravolta" e anunciaria a "potencial dizimação" do ANC na província, diz Gumede.

O ANC também corre o risco de perder a sua maioria no coração econômico de Gauteng, onde o partido tem atualmente 36% contra 29% do DA.

A eleição de quarta-feira (29/5) registrou longas filas de eleitores nos locais de votação até altas horas da noite em todo o país.

De acordo com a comissão eleitoral, a última sessão foi encerrada às 3h de quinta-feira (30/5), no horário local.

Um responsável eleitoral em Joanesburgo disse à BBC que as filas lembravam as históricas eleições de 1994, quando os negros puderam votar pela primeira vez.

Sifiso Buthelezi, que votou no Joubert Park de Joanesburgo – o maior colégio eleitoral da África do Sul – disse à BBC: "A liberdade é ótima, mas precisamos combater a corrupção."

A mudança tem sido um sentimento recorrente, especialmente entre os eleitores mais jovens.

"A participação entre eles foi elevada e votaram contra o ANC", diz o professor Gumede.

Ayanda Hlekwane, membro da chamada geração "nascida livre" da África do Sul, o que significa que nasceu depois de 1994, disse que, apesar de ter três diplomas, ainda não tem um emprego.

"Estou trabalhando na minha proposta de doutorado para poder voltar a estudar caso não consiga um emprego", disse ele à BBC em Durban.

Mas Hlekwane disse estar otimista quanto à possibilidade de as coisas mudarem.

Espera-se que o apoio ao ANC seja maior entre a geração mais velha.

Uma mulher de 89 anos, Elayne Dykman, disse à BBC que espera que os jovens na África do Sul não considerem o voto dela como garantido.

Concorreram um recorde de 70 partidos e 11 independentes, com os sul-africanos votando num novo parlamento e em nove legislaturas provinciais.

O DA assinou um pacto com dez deles, concordando em formar um governo de coligação se obtiverem votos suficientes para tirar o ANC do poder.

Mas isso é altamente improvável, prevendo-se que o ANC continue a sendo o maior partido, colocando-o na primeira posição para liderar uma coligação.

BBC Africa podcasts

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

BBC
Farouk Chothia - Da BBC News em Joanesburgo
postado em 30/05/2024 19:49 / atualizado em 30/05/2024 19:59