INTERNACIONAL

Brasileiros e americanos lideram investimentos para vistos gold em Portugal

Governo português acabou com os benefícios para a compra de imóveis acima de 500 mil euros (R$ 2,8 milhões), mas manteve portas abertas para aplicações em fundos de ações e de bônus de empresas em troca de cidadania

Desde o início deste ano, as consultas efetivas pelos interessados nos vistos gold aumentaram quatro vezes em relação ao mesmo período de 2023 -  (crédito: Luís Feliciano/Unsplash)
Desde o início deste ano, as consultas efetivas pelos interessados nos vistos gold aumentaram quatro vezes em relação ao mesmo período de 2023 - (crédito: Luís Feliciano/Unsplash)

Lisboa — Apesar das restrições impostas pelo governo de Portugal aos vistos gold, que abrem as portas para pedidos de cidadania portuguesa e para autorização permanente de residência no país, a procura por esses instrumentos continua grande, sobretudo, por parte de brasileiros e norte-americanos.

Segundo Gustavo Caiuby, sócio-diretor da Heed Capital, que administra quase R$ 2 bilhões, desde o início deste ano, as consultas efetivas pelos interessados nos vistos gold aumentaram quatro vezes em relação ao mesmo período de 2023. A demanda vem, principalmente, de altos executivos, aposentados e famílias que desejam dar uma educação internacionalizada para seus filhos.

“Muita gente quer compreender o que realmente ocorreu com os vistos gold e como é possível ainda utilizá-los em Portugal”, afirma Caiuby. Ele explica que há uma certa confusão, pois se entendeu que esses instrumentos de atração de capital tinham sido extintos, o que não é verdade. O que o governo de Portugal fez, em outubro de 2023, foi acabar com os vistos gold para a compra de imóveis ou para a aplicação de recursos em fundos de investimentos que tenham empreendimentos imobiliários entre seus ativos, direta ou indiretamente.

Esse tipo de visto realmente acabou, mas ainda há quatro outras maneiras de se utilizá-lo. A mais procurada pelos interessados permite que eles transfiram ao menos 500 mil euros (R$ 2,8 milhões) para fundos de investimentos multimercados que apliquem, no mínimo, 60% do patrimônio em ações, debêntures e bônus de empresas portuguesas, ou para fundos de venture capital, voltados para participações acionárias em firmas de tecnologia e startups. “Essas opções de investimentos têm sido as preferidas de nossos clientes. São mais de 240, de 25 nacionalidades”, detalha Caiuby.

Outra modalidade de investimentos que permite o acesso aos vistos gold também apreciada por aqueles que pretendem fincar os pés em Portugal prevê a destinação de 500 mil euros para a criação de empresas no país que gerem 10 empregos ou mais. Essa mesma quantia pode ser usada para o reforço de capital de uma companhia com as mesmas características.

Com isso, o governo português quer atrair recursos produtivos e não aqueles que, ao longo dos últimos anos, inflacionaram os preços dos imóveis e contribuíram para uma gravíssima crise habitacional. Há, ainda, a possibilidade de se transferir 500 mil euros para pesquisas científicas e tecnológicas e 250 mil euros (R$ 1,4 milhão) em doações para projetos culturais.

De olho na União Europeia

O diretor da Heed Capital afirma que a cidadania portuguesa e mesmo a autorização permanente de residência em Portugal são muito desejadas pelos endinheirados, porque permitem a livre circulação pelo Espaço Schengen, que engloba os 27 países da União Europeia. O dinheiro ingressado por meio dos vistos gold deve ficar em Portugal por, no mínimo, cinco anos. É somente a partir desse prazo que os cidadãos estrangeiros que recorreram a esses mecanismos podem requerer os benefícios previstos em lei.

“A maioria dos nossos clientes continua no mercado de trabalho, portanto, não deseja se mudar agora para Portugal. Por meio dos vistos gold, precisam passar apenas sete dias no país no primeiro ano do investimento, depois 14 dias nos dois anos seguintes e outros 14 ao longo de mais dois anos. Nos pedidos normais de autorização de residência, é exigido que a pessoa fique pelo menos 180 dias por ano em Portugal”, ensina Caiuby. “Ou seja, os vistos gold dão flexibilidade aos investidores, que estão preocupados com o planejamento de mais longo prazo, pois vários são donos de empresas nos países de origem ou altos executivos”, emenda.

A tendência, acredita o diretor da Heed, é de a procura pelos vistos gold se acelerar nos próximos meses, especialmente, nos Estados Unidos, que terão eleições em novembro. A polarização naquele país é enorme e a questão política tem pesado bastante nas decisões tomadas pelos investidores. “Entre os norte-americanos, há uma particularidade que os têm atraído para Portugal: o sistema público de saúde.

Muitos dizem que, se ficarem nos EUA, vão gastar tudo o que pouparam com saúde ao envelhecerem. Em Portugal, terão acesso a um sistema gratuito de boa qualidade”, diz Caiuby. “Além disso, como houve uma valorização expressiva dos imóveis nos Estados Unidos nos últimos anos, vendem o que têm, compram em Portugal e ainda sobra dinheiro”, acrescenta.

Entre os brasileiros, que têm R$ 126 milhões sob gestão da Heed oriundos dos vistos gold, Portugal é encarado como a principal porta de entrada para a Europa. E a dupla cidadania é um ativo e tanto. No total, desde 2012, quando os vistos gold foram lançados pelo governo português para atrair capital, os brasileiros aplicaram R$ 473 milhões no país, atrás apenas dos chineses, que destinaram cerca de R$ 2 bilhões. Os chineses, assim como os indianos e os japoneses, optam por pedir a autorização permanente de residência em Portugal, e não a cidadania, pois teriam de abrir mão da nacionalidade original.

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postado em 24/05/2024 11:08
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