Há boas notícias para quem admira a aurora boreal como a que pôde ser vista recentemente em alguns países: é quase certo que há mais a caminho.
O enorme aglomerado de manchas solares que lançou energia e gás em direção à Terra girará de volta em nossa direção em cerca de duas semanas.
Os cientistas dizem que o aglomerado provavelmente ainda será grande e complexo o suficiente para gerar mais explosões que poderiam atingir o campo magnético da Terra, criando mais auroras boreais.
Há mais de uma semana, o Sol está emitindo radiação crescente — uma enorme explosão solar na terça-feira (14) interrompeu as comunicações de rádio de alta frequência em todo o mundo.
E estas manchas solares hiperativas não serão as últimas. O Sol está se aproximando do que é chamado de “máximo solar”, um ponto durante um ciclo de 11 anos em que sua atividade é mais forte.
Isso acontece quando os polos magnéticos do Sol se invertem, um processo que cria manchas solares.
Este ciclo solar é o 25º desde que os humanos começaram a observar sistematicamente as manchas solares, em 1755.
Os cientistas dizem que o ciclo atual parece mais forte do que o esperado.
A intensidade de um ciclo é estimada pelo número de manchas solares, explica Krista Hammond, meteorologista espacial do Met Office, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido.
Mas isso não nos diz realmente quão fortes serão as tempestades solares quando chegarem à Terra, diz ela.
A tempestade geomagnética de alguns dias atrás foi de uma dimensão que só ocorre uma vez em 30 anos e a maior desde 2003, explica Sean Elvidge, professor de ambiente espacial na Universidade de Birmingham.
Ela foi causada por pelo menos cinco ejeções de massa coronal (CMEs, na sigla em inglês) através de erupções de campos magnéticos e tempestades solares.
Após cerca de 18 horas para chegar à Terra, as CMEs interagiram com o nosso campo magnético.
Esta magnetosfera é o que nos protege de toda a radiação imensamente poderosa que vem de fora — sem ela, não haveria vida na Terra.
A tempestade revelou-se tão potente que teve uma classificação de alerta G5 — a mais alta dada pelos meteorologistas do Met Office e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.
Mas estas tempestades não são apenas feitas de luzes bonitas — elas trazem problemas, explica Ian Muirhead, pesquisador de sistemas espaciais da Universidade de Manchester.
“Somos muito mais dependentes tecnologicamente agora do que na última grande tempestade de 2003. Muitos dos nossos serviços vêm do espaço, nem sequer percebemos isso. É a cola que mantém unida grande parte da nossa economia.”
Estão aparecendo relatos sobre os impactos da tempestade recente na comunicação global, nas redes elétricas e nos sistemas de GPS.
Elon Musk, dono da SpaceX, disse em sua rede social X que a tempestade colocou "sob muita pressão" seus satélites Starlink que fornecem internet.
Um porta-voz da Agência Espacial Europeia (ESA) disse que os satélites Starlink tiveram picos de tensão.
Os satélites que nos permitem usar o GPS e sistemas de navegação também tiveram perturbações de sinal à medida que a radiação extra pulsava em direção à Terra, disse a ESA.
Um voo de São Francisco para Paris foi redirecionado para evitar sobrevoar o Ártico, onde a radiação era mais forte, menciona Elvidge.
Agricultores que usam tratores com GPS de alta precisão relataram ter sido afetados, e a empresa John Deere, do setor, alertou os usuários sobre interrupções.
Já um satélite operado pela empresa britânica Sen, que filma a Terra em alta definição, foi colocado em estado “inativo” por quatro dias, o que significa que perdeu a captura de imagens de eventos como os incêndios florestais no Canadá.
Houve também tensão nas redes elétricas, à medida que a corrente extra pressionava os sistemas.
Na Nova Zelândia, que tem uma rede elétrica semelhante à do Reino Unido, alguns circuitos foram desligados como precaução para evitar danos nos equipamentos.
A Energy Networks Association, associação que representa os operadores de redes elétricas do Reino Unido, disse que tomou algumas precauções, como garantir “geração de reserva extra para lidar com quaisquer flutuações de tensão".
O clima espacial não é apenas uma ameaça remota para nós na Terra. O governo britânico considera os riscos de condições climáticas espaciais extremas maiores do que os de terremotos ou incêndios florestais.
No sistema nacional de riscos — que inclui também, por exemplo, pandemias —, as condições meteorológicas espaciais extremas são classificadas como nível 4 em uma escala que vai de 1 a 5 e mede ameaças em termos de probabilidade e impacto (1 é para eventos de menor risco e 5, maior).
Uma tempestade espacial extrema, mais poderosa do que de dias atrás, pode causar mortes e ferimentos devido a falhas de energia, segundo o sistema britânico.
"A geração móvel de energia de reserva seria necessária em algumas áreas durante um período prolongado", alerta.
O pior cenário é o que os estudiosos do clima espacial chamam de “evento no nível de Carrington”.
A referência é a uma enorme tempestade solar que ocorreu em uma noite de 1859. A aurora boreal foi tão brilhante que as pessoas começaram a preparar o café da manhã, pensando que já era dia.
Foi gerada tanta corrente que os operadores telegráficos no Canadá continuaram transmitindo mesmo quando os equipamentos foram desconectados manualmente, por segurança.
Houve incêndios em equipamentos danificados.
Um evento parecido hoje poderia ser catastrófico.
"O consenso geral é que uma supertempestade solar é inevitável. Uma questão não de 'se', mas de 'quando'", diz um relatório da Academia Real de Engenharia.
Mas, agora, temos duas coisas que nos ajudam: previsão e preparação, explica Elvidge.
Meteorologistas como Krista Hammond monitoram satélites 24 horas por dia em busca de atividade solar.
Eles emitiram alertas para governos e empresas de infraestrutura sobre a horda de CMEs que se dirigiam à Terra no início de maio.
As autoridades locais e os serviços de emergência testam cenários, incluindo planos para garantir que as ambulâncias ainda possam navegar caso percam a conexão GPS.
Mas Hammond diz que a questão do fornecimento de energia é delicada, com implicações comerciais, e as empresas podem não estar dispostas a divulgar o nível de pressão colocada na rede.
A previsão do tempo espacial é recente em comparação com o clima atmosférico, mas à medida que aprendemos mais sobre o Sol e enviamos mais equipamentos para o espaço, a previsão da próxima supertempestade ficará cada vez mais próxima.
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