Aos 76 anos, a advogada e ex-juíza Shirin Ebadi é uma das duas únicas iranianas a ganharem o Prêmio Nobel da Paz. A outra, a ativista Narges Mohammadi, 52, está detida na famigerada prisão de Evin, desde 2015, depois de levar 154 chibatadas. Em 2003, o Comitê Nobel Norueguês reconheceu Ebadi "por seus trabalhos pela democracia e os direitos humanos". Segundo o Comitê, ela "focou-se especialmente na batalha pelos direitos das mulheres e das crianças". Depois da Revolução Iraniana, em 1979, abriu um escritório, em Teerã, para defender cidadãos perseguidos pelas autoridades. Em 2009, exilou-se em Londres. Em entrevista exclusiva ao Correio, Ebadi assegurou que o presidente Ebrahim Raisi, morto em um acidete de helicóptero, no domingo, era "odiado" pela população e responsável por milhares de execuções de prisioneiros políticos. Mesmo distante de seu país, faz questão de preservar as raízes: aceitou a entrevista, por e-mail, desde que fosse feita em persa.
Como a senhora vê o peso político de Raisi para o Irã?
Quando o líder caiu, o povo do Irã celebrou e se alegrou em todas as cidades. Isso porque Raisi foi parte de um comitê que sentenciou mais de 4 mil prisioneiros políticos à morte. Ele era odiado pela população.
Qual o efeito da morte dele para o país e o regime iraniano?
No Irã, toda a autoridade repousa sobre o líder da República Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei. O presidente apenas segue suas ordens. Portanto, a sua morte não tem qualquer efeito no Irã e na política.
De que forma a senhora avalia o legado dele?
O legado dele foram as sentenças de morte que ele emitiu no ano 1367 (ano persa), no começo da Revolução Isâmica (em 1979), e também suas ações contra o Movimento Mehsa, criado em prol da liberdade das mulheres. Mais de 20 mil pessoas foram aprisionadas; nove, executadas, por participarem dos protestos. Cerca de 100 acabaram sentenciadas à morte e aguardam a aplicação da pena. Todos esses decretos foram assinados durante a presidência de Raisi.
Ele era um nome forte para suceder o aiatolá Ali Khamenei?
Não acho que ele era um candidato forte. Por ser muito ignorante e por ter cometido vários erros, Raisi era ridicularizado e, ao mesmo tempo, odiado, por causa dos assassinatos durante o começo da Revolução Islâmica. Mas eu não acredito que ele tivesse alguma chance.
A senhora vê o risco de um aumento nos protestos ou de um levante no Irã após a morte de Raisi?
É possível que haja protestos. O Irã é com um barril de pólvora em que basta o fósforo certo para acendê-lo. A qualquer momento podemos testemunhar protestos massivos, como aqueles ocorridos em 2021, o movimento encabeçado por mulheres.
Milhares começam a se despedir do ex-presidente
Dezenas de milhares de iranianos prestaram homenagem ao falecido presidente Ebrahim Raisi, cuja morte em um acidente aéreo abriu um período de incerteza política que culminará em eleições em junho para seu sucessor. O funeral começou pela manhã em Tabriz, uma grande cidade no noroeste do Irã, perto de onde Raisi morreu, no domingo (19/5), na queda de um helicóptero, com outras sete pessoas. Os oito caixões, cobertos com a bandeira iraniana, foram posteriormente transferidos para um aeroporto na capital, Teerã, para serem levados à cidade sagrada de Qoms, onde outra cerimônia está programada para a tarde. Raisi será homenageado na capital, nesta quarta-feira e na quinta, em sua cidade natal, Mashhad, no nordeste do país, onde será enterrado à noite. Uma grande multidão, vestida principalmente de preto, encheu a praça principal de Tabriz, agitando bandeiras e retratos do presidente. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei — a mais alta autoridade do país — disse que o incidente não causaria "nenhum transtorno" à administração do país. Ele nomeou o vice-presidente, Mohammad Mokhber, como presidente interino até a realização de novas eleições em 28 de junho.
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