O helicóptero no qual viajava o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, caiu ontem (19/5), na região de Jofa, na província do Azerbaijão Oriental, por volta de 6h30 (horário de Brasília). O acidente ocorreu na Floresta Dizmar, perto da cidade de Varzaghan. "Esperamos que Deus devolva o presidente e seus companheiros aos braços da nação", declarou o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Após a queda, o gabinete do país realizou uma sessão de emergência para medir as consequências do acidente, que envolveu outros membros do alto-escalão iraniano.
Três aeronaves acompanhavam a comitiva presidencial. Duas pousaram sem problemas em Tabriz, no noroeste do Irã, mas a que transportava Raisi, aiatolá de 63 anos, não conseguiu. Além do presidente, Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores do Irã; Malek Rahmati, governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental; e Hojjatoleslam Al Hashem, líder religioso, estavam a bordo do helicóptero — modelo Bell 212 de fabricação americana, com capacidade para 15 pessoas.
Cerca de 46 equipes de resposta rápida e resgate das províncias do Azarbaijão Oriental, Teerã, Alborz, Ardabil e Zanjan foram enviadas para ajudar na operação de busca e resgate. A televisão estatal mostrou imagens de membros do Crescente Vermelho iraniano caminhando em meio a uma densa neblina e de fiéis rezando pela saúde do presidente em mesquitas, incluindo o templo de sua cidade natal, Mashhad, no nordeste do país.
Apesar de o clima não estar moderado em razão da primavera, a queda foi no nordeste do Irã, na região do Azerbaijão Oriental, onde o clima está frio e muito nebuloso. Foi informado ao Correio que, meia hora depois do ocorrido, dois passageiros ligaram. Por volta de 0h desta segunda-feira (20/5), agências de notícias iranianas confirmaram que não havia nenhum sinal de vida no local dos destroços.
O vice-presidente do país, Mohammad Mokhber, 69 anos, deixou Teerã à tarde rumo a Tabriz, acompanhado de vários ministros, conforme informou o porta-voz do governo. Caso Raisi morra, Mokhber, também conservador, assume o posto. A lei do país determina que, em caso de morte do presidente da República, o vice assuma e convoque novas eleições.
Trita Parsi, um dos fundadores do Conselho Nacional Iraniano Americano, detalhou que, apesar de Raisi não ter sido um presidente particularmente poderoso, sua possível morte é bastante impactante. "Primeiro, realizar novas eleições dentro de 50 dias será muito complicado para o regime, dada a apatia da população. Em segundo lugar, Raisi era um candidato para assumir a posição de líder supremo", cargo ocupado por Ali Khamenei.
Por outro lado, Ali Alfoneh, cientista político e criador da teoria da transformação da República Islâmica em uma ditadura militar, considera a importância de Raisi muito baixa. "Sua morte será tão inconsequente quanto sua vida. Ele tem um histórico de ineficácia e incompetência e não fez diferença alguma durante sua presidência."
Para o especialista, garantir que um novo líder seja eleito dentro de 50 dias pode ser um problema. "Provavelmente, criará uma intensa competição entre as elites governantes para servir como presidente e, talvez, até suceder Khamenei." A eleição também pode embaraçar o regime se houver uma baixa taxa de participação. "Alternativamente, os iranianos com mentalidade de oposição podem reviver os protestos contra o regime."
Compromisso oficial
Raisi havia viajado à província do Azerbaijão Oriental, onde inaugurou uma barragem ao lado do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, na fronteira entre os dois países. "Rezamos pelo presidente Ebrahim Raisi e pela delegação que o acompanhava", disse Aliyev, que também ofereceu ajuda nas buscas.
Considerado ultraconservador, ele foi eleito presidente em 18 de junho de 2021, no primeiro turno de uma eleição marcada por abstenção recorde e sem um adversário de peso. Ele sucedeu o moderado Hassan Rouhani, que o derrotou nas eleições presidenciais de 2017 e que, após dois mandatos consecutivos, não pôde concorrer novamente. Raisi saiu fortalecido das legislativas de março, as primeiras eleições nacionais desde os protestos de 2022 pela morte de Mahsa Amini, presa por não seguir o código de vestimenta para mulheres.
Masih Alinejad, escolhida recentemente pela revista Time como "a mulher do ano" e temida pelo regime teocrático islâmico, afirmou ao Correio que, se confirmada, a morte de Raisi aumentará o caos na liderança da República Islâmica. "A maioria da alta liderança, como Khamenei, está na casa dos 80 anos. Raisi, com seus 60 e poucos anos, estava sendo preparado para suceder Khamenei, mas seu mandato como presidente não foi muito bem-sucedido. Sua incompetência e baixo QI se tornaram evidentes para todos."
Para Alinejad, não há um candidato claro para substituir Khamenei. Seu filho mais velho, Mojtaba, é apontado como uma possibilidade, mas ele não é conhecido pela maioria do povo iraniano. "Ao mesmo tempo, recebi um vídeo de fogos de artifício comemorativos iluminando o céu no Irã após a queda do helicóptero. As redes sociais iranianas estão inundadas de piadas sobre isso. É assim que as pessoas oprimidas lutam, por meio do humor. Essa reação reflete o sofrimento generalizado e a raiva direcionada a ele por seu papel em inúmeros abusos dos direitos humanos."
Repercussão
Vários governos e organizações internacionais ofereceram ajuda logística, enquanto o Crescente Vermelho Iraniano afirmou ter enviado cerca de 40 equipes de resgate distintas para a região. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores iraniano afirmou que o país "agradece sinceramente os numerosos governos, nações e organizações internacionais por suas expressões de solidariedade e apoio ao governo e ao povo do Irã". Também expressou gratidão pelas "ofertas de ajuda e assistência para a operação de busca e resgate". Confira as reações internacionais abaixo.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoan, declarou sua solidariedade diante do acidente e enviou equipes de buscas para ajudar na localização. "Estamos profundamente tristes pelo fato de o presidente do Irã, o meu irmão Ibrahim Reisi, e a sua delegação terem sofrido um acidente de helicóptero. Gostaria de expressar que, enquanto República da Turquia, estamos acompanhando de perto o incidente, em pleno contato e coordenação com as autoridades iranianas, e que estamos prontos para prestar todo o apoio necessário."
A Arábia Saudita, conhecida rival regional do Irã, expressou "grande comoção" com o acidente envolvendo o helicóptero no qual viajava o presidente iraniano e também se ofereceu para ajudar nas buscas. "O reino está com a República Islâmica do Irã, sua irmã, nestas circunstâncias difíceis, e está disposto a fornecer qualquer ajuda que as agências iranianas precisarem", dizia o comunicado da chancelaria saudita.
Os Estados Unidos afirmaram acompanhar os desdobramentos do acidente. Enquanto isso, a União Europeia ativou seu serviço de cartografia para auxiliar na procura pela aeronave e seus ocupantes. O Iraque também disse ter "recursos disponíveis", segundo declaração do porta-voz do governo Bassem al Awadi.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil declarou que está acompanhando a situação e está em contato com a Embaixada do Brasil em Teerã que, por sua vez, monitora o ocorrido junto à chancelaria iraniana.
O Hamas emitiu um comunicado expressando "grande preocupação" pelo ocorrido. "Neste doloroso incidente, expressamos a nossa total solidariedade com a República Islâmica do Irã, a sua liderança, governo e povo, e pedimos a Alá Todo-Poderoso que proteja e garanta a segurança do presidente iraniano e da delegação que o acompanha". Já a Rússia enviou duas aeronaves avançadas com helicópteros especiais e 50 socorristas de montanha. O reforço se juntará às equipes iranianas. Vladimir Putin, presidente russo, também recebeu o embaixador do Irã em Moscow em seu escritório no Kremlin para avaliar a queda.
Perfil de Raisi
Nascido em novembro de 1960 e conhecido por suas visões ultraconservadoras, Ebrahim Raisi fez carreira no Judiciário iraniano. Ele foi procurador-geral por dois anos, até 2016. Anteriormente havia sido promotor e procurador adjunto de Teerã. Foi eleito em 2021 com o apoio do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Escolhido com 62% dos votos, Raisi tornou mais rigorosas as leis morais no Irã, que permitem espancar mulheres que não cobrem a cabeça. Ele foi também um dos juízes que assinaram o mandado de morte de mais de cinco mil prisioneiros políticos no início dos anos 1980.
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