Nas primeiras horas da madrugada desta segunda-feira (13/5), surgiram relatos de tremores em alguns bairros de Caxias do Sul, um dos municípios afetados pelas fortes chuvas e inundações que acometem o Rio Grande do Sul.
De fato, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) detectou tremores de 2.3 na escala Richter não apenas em Caxias do Sul, mas também em Pinto Bandeira e Bento Gonçalves entre 1h48 e 3h03 no horário de Brasília. As três cidades ficam na região serrana do Estado.
O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) também notificou a ocorrência de sismos de 2.2 a 2.4 durante a madrugada nos municípios gaúchos de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Veranópolis.
Geralmente, tremores dessa magnitude são mais leves e até passam despercebidos — mas podem ser detectados por estações geológicas.
Mas será que o surgimento desses abalos pode estar de alguma maneira relacionado à água acumulada nas últimas semanas?
Há uma possível relação entre grandes volumes de água e o aparecimento de tremores, mas a possibilidade é considerada remota por especialistas neste momento.
O professor Marcos Vasconcelos, do Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia da Universidade Federal da Bahia (CPGG-UFBA), explica que existem exemplos registrados na literatura científica em que grandes volumes hídricos fizeram o chão tremer.
"Há um fenômeno conhecido como sismicidade induzida por reservatório", cita o especialista.
"Ele acontece quando um rio é represado e esse volume de água aumenta a pressão na porosidade das rochas. Essa pressão hidrostática pode causar fraturas e deslocamentos", complementa.
O segundo processo tem a ver com os chamados olhos d'água, que são tipos de nascentes onde surgem os rios. Nesses locais, a água "brota" ou mina a partir de rochas para dar origem aos cursos fluviais.
Em situações de chuvas muito intensas, que acumulam água na superfície, pode ser que os olhos d'água deixem de minar o líquido para o ambiente externo. Com isso, a água se acumula no interior das rochas — o que gera uma pressão por trás dos sismos.
O geofísico da UFBA diz que, segundo eventos parecidos registrados em outros países, como Alemanha, Suíça e França, os tremores relacionados à pressão das águas costumam ter uma magnitude menor.
"Vale dizer que ainda não sabemos se é isso o que está acontecendo em Caxias do Sul. Por enquanto, essas são apenas possibilidades teóricas, que sabemos serem possíveis em cenários parecidos", pondera Vasconcelos.
Para entender se os tremores têm a ver com a sismicidade induzida por reservatório ou com o bloqueio de olhos d'água, os pesquisadores precisam identificar o epicentro dos tremores e a profundidade em que eles ocorreram.
A partir dessas informações, eles poderão definir as causas exatas do fenômeno — e se ele está relacionado (ou não) às chuvas.
Em uma postagem nas redes sociais, a Rede Sismográfica Brasileira (RSB) disse que a possibilidade de os tremores terem relação com as chuvas é baixa.
"Em geral, seriam necessários alguns meses depois das chuvas para tremores desse tipo ocorrerem, mas não se pode descartar essa possibilidade. De qualquer forma, são necessários estudos aprofundados para afirmar com precisão as causas desses sismos", declarou Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da USP, na mesma publicação.
A RSB também lembrou que "a região do Rio Grande do Sul já possui um histórico de ocorrência de tremores de terra de magnitudes entre 2.0 e 3.0".
"Nos últimos 10 anos, a região da Serra Gaúcha registrou 27 sismos. Portanto, é mais provável que esses sismos tenham causas naturais", conclui o texto.
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