Reham Al-Qeeq, 40 anos, ativista comunitária em Rafah, no extremo sul de Gaza, aguarda o momento de fugir do inferno. Dentro de uma tenda, na região oeste da cidade, a pouco mais de 1km do Mar Mediterrâneo, ela e os quatro filhos — três garotos de 12, de 10 e de 6 anos, e uma menina de 8 — não sabem para onde ir. Grande parte da Faixa de Gaza, um território de 41km de comprimento por 13km na parte mais larga, e uma área de 365 quilômetros quadrados, foi praticamente transformada em ruínas.
- Guerra em Gaza estremece final do Eurovision na Suécia
- Protestos pró-Gaza em universidades dos EUA: quais os paralelos com manifestações contra guerra no Vietnã em 1968
- Vitória palestina na Assembleia Geral da ONU irrita Israel; entenda
- Guerra em Gaza: Israel pode lutar sozinho, diz premiê Benjamin Netanyahu
Ao ignorar os apelos da comunidade internacional, as Forças de Defesa de Israel ampliaram a zona de combate em Rafah e lançaram folhetos nos quais exigiam a partida de civis de regiões centrais. Até poucos dias, Rafah abrigava 1,2 milhão de palestinos. Desde segunda-feira (6/5), 300 mil atenderam aos alertas do Exército judeu e fugiram.
Em meio aos preparativos para uma invasão por terra a Rafah, uma notícia vinda de Washington trouxe esperança. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou sobre a possibilidade de uma trégua, a partir deste domingo. "Haveria um cessar-fogo amanhã se o Hamas libertasse os reféns", disse o democrata, ontem, durante evento de angariação de fundos nos arredores de Seattle. "Israel disse que cabe ao Hamas, se eles quiserem fazer isso, poderíamos encerrar amanhã (domingo, 12)", declarou Biden ao público de cerca de 100 pessoas. Na quarta-feira (8/5), Biden tinha avisado a Israel que suspenderia o fornecimento de armas ao aliado, caso elas fossem usadas contra a população de Rafah.
A União Europeia (UE) criticou a expansão da retirada de civis de Rafah por parte de Israel. "As ordens de evacuação de civis presos em Rafah para áreas inseguras são inaceitáveis", declarou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu. "Pedimos ao governo israelense que respeite o direito internacional humanitário e instamos que não empreenda nenhuma operação terrestre em Rafah."
"No caso de uma incursão selvagem ao centro de Rafah, eu sairei, porque tenho filhos e todos são pequenos. Até o momento, não encontramos lugar para nos abrigar", conta Reham ao Correio, por meio do WhatsApp. Ela acusa Israel de bombardear Rafah sem dar tempo suficiente para as pessoas fugirem. "O bombardeio continua nas regiões leste e central de Rafah. Até o momento, temos cerca de 20 mártires", acrescentou, ao usar o termo adotado pelos palestinos para fazerem referência aos mortos durante a guerra. De acordo com Reham, alguns de seus amigos deixaram suas casas, no leste de Rafah, e saíram sem carregar nenhum pertence. "Israel não esperou por mais de uma hora, para que as pessoas abandonassem seus lares. Então, bombardeou as casas, com quem estavam dentro delas. O Exército de ocupação pediu que os residentes abandonassem o leste de Rafah; então, concentrou os disparos de artilharia no centro de Rafah."
A ativista, os quatro filhos e o marido, um funcionário da Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, amargam a condição de deslocados internamente, por várias vezes, em Gaza, assim como centenas de milhares de pessoas. "Nós morávamos no bairro de Al-Rimal, na Cidade de Gaza. Todo o local foi destruído. Então, nos mudamos para o bairro de Tal Al-Hawa e, devido à intensidade dos ataques e ao medo das crianças, viemos para Rafah. Tivemos que nos deslocar, em mais uma ocasião, dentro da cidade, a uma área de segurança criada pelas forças de ocupação. A jornada de deslocamento é muito difícil e repleta de perigos, não fosse a providência divina", comentou Reham. As crianças não escondem o temor da morte, ante o bombardeio aleatório de tanques israelenses.
A 9km ao norte de Rafah, Khalil Abu Shammala, 53 anos, contou que a cidade de Khan Yunis está superlotada. "Temos recebido muitos refugiados de Rafah. Há tantas pessoas que não sabem para onde ir. Não há mais locais para os desbrigados", disse à reportagem, também por meio do WhatsApp. "As pessoas procuram por água e segurança. A água não existe em todos os lugares, e a segurança não é mais garantida." As condições de higiene ruins contribuíram para mais de 80 mil casos de hepatite A entre os palestinos, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas. Abu Shammala afirmou que, apesar de suficiente, a qualidade da comida é duvidosa. "Temos comida desidratada. Quase ninguém pode comprar peixe, porque é um produto muito caro. A carne também não pode ser adquirida pela maioria da população."
Refém morto
Durante os ataques de 7 de outubro, o Hamas capturou e levou para Gaza cerca de 250 israelenses. O governo de Benjamin Netanyahu acredita que 128 deles ainda estão no cativeiro, incluindo 36 que morreram. Neste sábado (11), o grupo extremista anunciou a morte do refém israelense-britânico Nadav Popplewell, 51 anos, sequestrado no kibbutz Nirim. Nadav tinha aparecido vivo, horas antes, em uma gravação. As Brigadas Ezzedine Al Qassam afirmam, em um segundo vídeo, que o refém tinha falecido ontem, após "ferimentos causados pelos aviões de combate sionistas que bombardearam o local onde estava detido, há mais de um mês".
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br