Fracassou, no Cairo, a última rodada de negociações pela trégua entre Israel e Hamas, com as duas partes acusando uma à outra de inflexibilidade. Amanhã, será realizada uma nova tentativa na capital egípcia, após sete meses de guerra, afirmou o site Al Qahera News, citando uma "fonte bem informada". Questões como o fim do conflito e a libertação dos reféns israelenses são algumas das que emperram a pauta.
O principal obstáculo nas negociações foi a duração de um cessar-fogo, com o Hamas exigindo que fosse permanente, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel, manifestando abertura a uma suspensão apenas temporária dos combates. O líder israelense afirmou que aceitar os termos do movimento palestino seria "uma derrota terrível para o Estado de Israel", equivalente à "capitulação". Tel Aviv também anunciou, ontem, o fechamento de um corredor de ajuda humanitária a Gaza (leia mais abaixo).
"Sabotagem"
A última proposta de trégua que os mediadores internacionais — Catar, Egito, Estados Unidos — apresentaram ao Hamas previa uma interrupção dos combates durante 40 dias e a troca de reféns israelenses detidos em Gaza desde 7 de outubro por palestinos presos em Israel. Poucas horas antes da retomada do segundo dia de negociações, porém, um líder do movimento islamista destacou que não seria aceito, "em nenhuma circunstância", um acordo que não incluísse explicitamente o fim da guerra.
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"Quando Israel mostra a sua boa vontade, o Hamas persiste nas suas posições extremas, entre as quais se destaca a sua exigência de retirada das nossas forças da Faixa de Gaza, o fim da guerra e a preservação do Hamas", reagiu Netanyahu em uma reunião de gabinete. "Israel não pode aceitar isso", declarou. Em resposta, o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou o israelense de "sabotar os esforços dos mediadores" para obter uma trégua no território palestino, devastado após quase sete meses de conflito.
William Burns, chefe da Agência de Inteligência Norte-americana, CIA, participou das negociações na capital egípcia e, agora, tentará, no vizinho Catar, uma "reunião de emergência" com o primeiro-ministro Mohamed bin Abdulrahman al Thani. Já o Fórum de Famílias de Reféns mostrou-se decepcionado com o impasse, e pediu a Netanyahu para "ignorar a pressão política" e aceitar um acordo que permitiria a libertação dos israelenses.
Durante meses, as negociações destinadas a alcançar um cessar-fogo e a libertação de reféns registaram poucos progressos, mas surgiram sinais de que as duas partes estavam mais perto de um acordo. Israel recuou em algumas das suas exigências de longa data e um alto responsável do Hamas chegou a dizer que o grupo estudava a última oferta de Netanyahu com um "espírito positivo".
Ataque
Além de não concordar com o fim da guerra, Israel, que classifica o Hamas como organização terrorista, insiste em lançar uma ofensiva terrestre contra Rafah, por considerá-la o último reduto dos comandos islamistas. Ontem, tropas israelenses anunciaram que três soldados morreram e 11 foram feridos em um ataque de foguete do Hamas na cidade. Em resposta, o Exército fechou a passagem Kerem Shalom que dá acesso à Faixa de Gaza — e por onde entra a ajuda humanitária. Dezesseis palestinos teriam morrido em um contra-ataque, não confirmado oficialmente.
Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, opõem-se a uma invasão de Rafah, onde 1,2 milhão de pessoas estão aglomeradas, a maioria delas deslocadas pela guerra. Uma operação terrestre na cidade também comprometeria a ajuda humanitária que entra em Gaza, especialmente por meio dessa localidade, na fronteira com o Egito.
Em plena crise humanitária, as relações entre Israel e a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) seguem deterioradas, desde que Israel acusou uma dúzia de seus funcionários de ter participado no ataque de outubro. O diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, denunciou ontem que as autoridades "negaram, mais uma vez, a entrada em Gaza".
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