Uma brasileira entregadora de comida em Londres que mordeu o polegar de um cliente continua trabalhando para uma plataforma de delivery — mesmo depois de ter sua conta suspensa.
Jenniffer Rocha, de 35 anos, de Aldershot, no Sudeste do Reino Unido, se declarou culpada de lesões corporais graves após uma discussão por causa de uma pizza que ela entregou em dezembro de 2022. Rocha estava trabalhando no país legalmente.
Após seu comparecimento ao tribunal, a plataforma de entrega de comidas para a qual ela trabalhava, Deliveroo, cancelou sua conta.
Mas a BBC filmou Rocha em abril ainda entregando comida, aparentemente usando uma outra conta do Deliveroo.
A empresa disse que uma segunda conta que Rocha estava acessando também foi suspensa.
Ela deve ser sentenciada na sexta-feira (3/5) pelo incidente de dezembro.
Algumas plataformas permitem que entregadores indiquem em suas contas quem são seus "substitutos" — pessoas que trabalham no seu lugar em dias que elas não podem.
Os três grandes aplicativos de entrega – Deliveroo, Just Eat e Uber Eats – anunciaram esta semana que iriam reforçar seus sistemas para verificar as identidades dos entregadores substitutos.
Atenção: esta reportagem contém relatos de violência que podem ser considerados perturbadores para alguns leitores.
O incidente aconteceu em 14 de dezembro de 2022, quando Stephen Jenkinson, de 36 anos, pediu uma pizza pelo aplicativo Deliveroo.
Depois que Rocha chegou ao local errado, Jenkinson desceu a rua para encontrá-la – mas esqueceu de pegar o telefone.
Isso gerou uma discussão, pois ele precisava fornecer a Rocha um código de entrega de seu celular para retirar a comida.
Jenkinson disse que foi atacado.
Ele disse que levou a mão ao capacete da motociclista de Rocha e ela mordeu seu polegar com "força".
Quando ela finalmente o soltou, Jenkinson levantou o braço e jogou sangue na entregadora, já que seu polegar havia sido decepado logo acima da junta.
O Deliveroo classificou o incidente como "horrível".
Novos controles em plataformas
Rocha se declarou culpada de uma acusação de lesão corporal grave em um tribunal em 19 de março.
Mas semanas depois, a BBC localizou Rocha em Aldershot e observou-a duas vezes andando de motocicleta e pegando comida para entrega.
Na segunda ocasião, no dia 18 de abril, ela foi filmada indo para um restaurante de delivery, recolhendo um saco de comida, colocando-o na caixa da sua moto e partindo.
Quando questionado, o gerente de delivery confirmou que Rocha estava entregando usando uma conta Deliveroo.
Um porta-voz do Deliveroo disse que a empresa está comprometida em prevenir o uso indevido de sua plataforma.
Eles disseram: "Cancelamos imediatamente a conta que estava sendo usada no momento deste terrível incidente e posteriormente encerramos uma conta alternativa".
"Fortalecemos nossos processos e recentemente introduzimos um novo processo de registro e tecnologia de verificação de identidade para entregadores substitutos."
Na terça-feira, o governo britânico anunciou que Deliveroo, Uber Eats e Just Eat iriam reforçar suas verificações de identidade.
Uma das preocupações das autoridades é que o sistema atual pode permitir trabalho ilegal.
Todos os entregadores são autônomos e podem emprestar sua conta para quem quiserem – o chamado substituto.
Pelas regras antigas, o titular da conta principal era responsável por verificar se o substituto tem mais de 18 anos, não tem condenações graves e está legalmente autorizado a trabalhar.
A BBC revelou no ano passado como isso levou trabalhadores ilegais e até crianças a trabalhar para a Deliveroo, com a criação de um mercado paralelo de contas para venda ou aluguel online.
O Ministério do Interior criticou as empresas por não conseguirem combater o trabalho ilegal e organizou uma série de reuniões com elas.
A Deliveroo lançou seu novo sistema no mês passado. A empresa diz ter sido a primeira grande plataforma a realizar "verificações diretas de direito ao trabalho".
A empresa disse que o novo esquema inclui "um processo de registro e tecnologia de verificação de identidade".
A vítima do ataque disse que não conseguiu trabalhar desde o ataque.
Após meses de cirurgia reconstrutiva, parte do dedão do pé foi enxertada no coto do polegar perdido.
Encanador de formação, Jenkinson teve que reaprender tarefas básicas, como apertar botões ou amarrar cadarços – e disse que ainda não tinha nenhuma sensação nisso.
"Financeiramente, estou arruinado. Estou desempregado. Estou com muitas dívidas e não vejo a luz no fim do túnel", disse ele.
Ele diz que seu relacionamento com a namorada, mãe da filha recém-nascida, terminou após o incidente.
"Terei que conviver com isso pelo resto da minha vida", disse Jenkinson.
"Quero usar minha história para ajudar os outros, para dizer: ‘Isto tem que mudar."
* Reportagem adicional de Charlotte Andrews
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