Espanha

Pedro Sánchez diz que não renuncia, mesmo com denúncias contra a mulher

O primeiro-ministro da Espanha havia levantando a possibilidade de deixar o cargo, mas, após cinco dias de reflexão, afirmou que não cederá ao movimento que usa difamações e mentiras para atacar os adversários políticos

Lisboa — Depois de cinco dias de suspense, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou que continuará no cargo. Ele havia levantado a possibilidade de renunciar de suas funções devido a um escândalo envolvendo a mulher dele, Begoña Gómes. Ela é acusada de tráfico de influência e corrupção. Na manhã desta segunda-feira (29/4), o político, do Partido Socialista (Psoe), disse que continuará à frente do país “com mais força, se possível”, e convocou os espanhóis a fazerem uma mobilização social contra o que chamou de “política da vergonha”, em que grupos radicais usam a difamação contra adversários.

“Esta não é uma questão ideológica, estamos falando de respeito, de dignidade. Por isso, vamos trabalhar com firmeza e segurança na regeneração da nossa democracia e pela consolidação dos direitos e liberdades. Mostraremos ao mundo como se defende a democracia”, afirmou Sánchez. Segundo ele, é preciso mostrar uma “intransigência incondicional” contra os que atentam às instituições democrática. O socialista se comprometeu, ainda, a provar a desmontar todas as denúncias contra a mulher dele. O caso foi arquivado pelo Ministério Público, mas as polêmicas continuam.

O primeiro-ministro, que também exerce o cargo de presidente da Espanha, ressaltou que usou os últimos cinco dias para refletir se continuaria nas funções ou se renunciaria. “Há vezes em que a única forma de avançar é parar, refletir e decidir com clareza por onde queremos continuar”, frisou. Mas acrescentou que não cederia: “Se, como sociedade, aceitarmos que a ação política permita o ataque indiscriminado a pessoas inocentes, então não vale a pena. Se consentimentos que a disputa partidária consiste num exercício de ódio e de divulgação de falsidades sobre terceiras pessoas, então não vale a pena. Se permitimos que as mentiras mais grosseiras substituam o debate respeitoso e racional, então não vale a pena. Não há cargo que justifique o sofrimento injusto das pessoas de que mais gostamos”.

Na avaliação de Sánchez, não se pode confundir liberdade de expressão com liberdade de difamação. “Isso é uma perversão democrática de consequências desastrosas", enfatizou, questionando: “Queremos isso para a Espanha?”. O premiê admitiu que a campanha de difamação contra ele e a mulher não vai parar. “Estamos sofrendo há 10 anos, e conseguimos aguentar. É grave, contudo, não é o mais relevante. O importante é que queremos agradecer as demonstrações de solidariedade e empatia que recebemos”, assinalou. Foram muitas os pedidos nas redes sociais para que ele não renunciasse.

O socialista disse ter a convicção de que é preciso dar um basta à degradação da vida pública. “Ou dizemos basta ou esta degradação da vida pública determinará o nosso futuro, nos condenando como país, pois não se trata de uma questão ideológica, mas de respeito, de dignidade, de princípios que vão muito mais além das opiniões políticas e que nos definem como sociedade”, disse. No entender dele, se as vítimas de mentiras forem obrigadas, a todo tempo, terem de demonstrar a sua inocência, contrariando a regra mais elementar do Estado Democrático de Direito, se a sociedade permitir o discurso de que o papel das mulheres se resume aos deveres domésticos para beneficiar a carreira política dos maridos e se a não-razão se converter em rotina, a democracia sofrerá um dano irreparável.

No discurso em que reafirmou que continuará no cargo, Sánchez destacou que o se vê na Espanha não é exclusivo do país, pois faz parte de um “movimento reacionário internacional”, cujo objetivo é impor uma agenda regressiva baseada na difamação e na falsidade, no ódio e nas ameaças. “Durante um longo tempo, deixamos que a lama contaminasse a nossa vida pública. Ponhamos fim a este lamaçal coletivo”, afirmou. Ele reforçou que o que está em jogo neste momento não é destino de um dirigente particular. “Trata-se de decidir que tipo de sociedade queremos. Penso que o país precisa fazer esta reflexão coletiva, para que a sociedade se liberte de práticas tóxicas”, concluiu.

Mais Lidas