Observatório

Armênia: De olho no céu desde a era soviética

Há 78 anos, o Observatório Byurakan, na encosta do Monte Aragats, é motivo de orgulho para o povo armênio. Perto dali, um radiotelescópio da era soviética convida uma volta no tempo

Yerevan — Quando fala sobre o Observatório Byurakan, os olhos do astrofísico Kamo Gigoyan, 65 anos, brilham. Construído em 1946, logo depois da Segunda Guerra Mundial, o Byurakan foi finalizado dez anos depois. O complexo de seis telescópios — um deles menor, para a observação do céu noturno pela própria comunidade — tornou-se motivo de orgulho para a Armênia. Em 2008, o Byurakan sediou um simpósio internacional que contou com 200 participantes de 27 países.

Visitar o observatório equivale a retornar pelo menos quatro décadas no tempo. Fundado pelo astrofísico Viktor Ambartsumian, o Byurakan está na encosta do Monte Aragats, o ponto mais alto da Armênia. "Meus colegas da França, da Itália e da Alemanha têm organizado visitas ao nosso observatório. Nós temos publicado novos artigos informando sobre nossas recentes descobertas", afirmou Gigoyan ao Correio. "Em 8 de maio de 1961, o líder soviético Nikita Khrushchov veio ao Byurakan para inaugurar um telescópio Schmidt de 1m de largura", acrescentou. Gigoyan começou a trabalhar no Byurakan em 1984. O maior dos seis telescópios impressiona. Para chegar até ele, é preciso subir três lances de escada em um prédio erguido durante o regime soviético. O espelho monolítico primário, de 2,6m de diâmetro, aponta para o universo todas as noites em que o céu está estrelado. "Periodicamente, precisamos de novos detectores sensíveis. A cada 10 anos temos que fazer uma manutenção no espelho primário e acrescentar dispositivos modernos."

Rodrigo Craveiro/CB/D.APress - O astrofísico Kamo Gigoyan trabalha há 40 anos no Observatório Byurakan: orgulho e paixão

De acordo com Gigoyan, o Byurakan fez uma série de descobertas importantes ao longo dos anos. "Ambartsumian encontrou associações estelares em 1947. Nossas investigações sobre o Sistema Solar nos mostraram que as estrelas nascem de forma continua. Em 1956, reportamos atividades dentro dos núcleos das galáxias. Agora, temos usado a espectroscopia para detectar novas estrelas de carbono na cavidade da Via Láctea", comentou. Pelo menos 40 astrofísicos trabalham no Byurakan, além do pessoal administrativo.

 

Segundo Gigoyan, a mais importante função do observatório armênio é o estudo da evolução dos objetos celestiais ao longo de 8 bilhões ou 9 bilhões de anos. Ele explica que quando desconfia de um objeto novo, confronta os dados coletados com a base de informações do Centro de Dados Astronômicos de Estrasburgo (França). "Depois que fica comprovada a descoberta, escrevemos o artigo científico detalhando o achado", disse.

Visita ao passado

Os vidros quebrados da porta e a fachada antiga sugerem mais uma visita ao passado. A 5 km de Byurakan, a sala de controle do radiotelescópio espacial de Orgov surpreende qualquer um. Quem visita o local sente-se entrar em filme de ficção dos anos 1970. Não é para menos. Fundado em 1975, o prédio está abandonado desde o colapso da União Soviética, em 1991. Três imensas e rústicas estações de controle do radiotelescópio estão na sala principal. São mesas repletas de botões, disjuntores antigos e telefones de disco. Sobre elas, documentos históricos em russo tornam o ambiente ainda mais interessante.

Rodrigo Craveiro/CB/D.APress - A antiga sala de controle do radiotelescópio espacial de Orgov, a 50 minutos de Yerevan, capital da Armênia

No prédio abandonado, um piano divide espaço com outra mesa de controle. No subsolo, uma parafernália de fios e equipamentos antigos completam o cenário soviético. Do lado de fora, o imenso prato de 54m de diâmetro mira o céu — tornou-se peça para visitação. Da plataforma do radiotelescópio, é possível ter uma visão magnífica do Monte Ararat.

*O repórter viajou a convite da União Geral Armênia de Beneficência (UGAB)

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