O Irã lançou drones e mísseis contra Israel no sábado (13/4), depois de prometer uma retaliação pelo ataque mortal ao seu consulado em Damasco, capital da Síria.
Israel não assumiu a autoria do ataque ao consulado, mas acredita-se que esteja por trás dele.
Esta é a primeira vez que o Irã ataca diretamente Israel.
Até então, Israel e o Irã travavam uma "guerra nas sombras" que durou anos — atacando ativos um do outro sem admitir responsabilidade.
Estes ataques aumentaram consideravelmente durante a atual guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do grupo palestino Hamas a Israel, em outubro do ano passado.
Entenda a crise em seis pontos.
Por que Israel e Irã são inimigos?
Os dois países foram aliados até a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que deu origem a um regime que utilizou a oposição a Israel como parte fundamental da sua ideologia.
O Irã não reconhece o direito de existência de Israel e quer sua erradicação.
O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, já havia chamado Israel de "tumor cancerígeno" que "sem dúvida vai ser extirpado e destruído".
Israel acredita que o Irã representa uma ameaça à sua existência, como evidenciado pela retórica de Teerã e pela formação de forças que agem "por procuração" e juraram destruir Israel.
Também estão nesta lista o financiamento e armamento de grupos palestinos pelo Irã, incluindo o Hamas e o grupo xiita libanês Hezbollah.
E o que Israel acredita ser uma busca secreta do Irã por armas nucleares, embora o Irã negue que esteja tentando construir uma bomba nuclear.
Irã queria vingança após ataque a consulado
O Irã afirma que o bombardeio da noite de sábado contra Israel é uma resposta ao ataque aéreo de 1º de abril contra o prédio do consulado iraniano na capital síria, que matou altos comandantes iranianos.
O Irã culpa Israel pelo ataque aéreo, que considera uma violação da sua soberania.
Israel não disse que realizou o ataque, mas presume-se que tenha realizado.
Treze pessoas foram mortas, incluindo o general Mohammad Reza Zahedi – um alto comandante das Forças Quds, o braço de relações exteriores do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). Ele foi uma figura essencial na operação iraniana para armar o grupo libanês Hezbollah.
O ataque ao consulado seguiu um padrão de ataque aéreo contra alvos iranianos amplamente atribuído a Israel. Vários altos comandantes do IRGC foram mortos em ataques aéreos na Síria nos últimos meses.
O IRGC envia armas e equipamentos, incluindo mísseis de alta precisão, pela Síria para o Hezbollah. Israel está tentando impedir estas remessas, assim como que o Irã reforce sua presença militar na Síria.
Quem são os aliados do Irã?
O Irã construiu uma rede de aliados e forças "por procuração" no Oriente Médio que diz fazerem parte de um "eixo de resistência" que desafia os interesses dos EUA e de Israel na região. O país apoia esses aliados em variados graus.
A Síria é o aliado mais importante do Irã. Assim como a Rússia, o Irã ajudou o governo sírio de Bashar al-Assad a sobreviver à guerra civil que já dura uma década no país.
O Hezbollah, no Líbano, é o mais poderoso dos grupos armados apoiados pelo Irã.
Tem trocado disparos com Israel na fronteira quase diariamente desde que eclodiu a guerra com o Hamas. Dezenas de milhares de civis de ambos os lados da fronteira foram forçados a abandonar suas casas.
O Irã apoia várias milícias xiitas no Iraque que atacaram bases dos EUA no país, na Síria e na Jordânia com disparos de foguetes. Os EUA retaliaram depois que três dos seus soldados foram mortos num posto militar avançado na Jordânia.
No Iêmen, o Irã apoia o movimento Houthi, que controla as áreas mais populosas do país.
Para demonstrar seu apoio ao Hamas em Gaza, os Houthis lançaram mísseis e drones contra Israel — e também atacaram embarcações comerciais perto da sua costa, afundando pelo menos um navio.
Os EUA e o Reino Unido atacaram alvos Houthi em resposta.
O Irã também fornece armas e treinamento a grupos armados palestinos, incluindo o Hamas, que atacou Israel em 7 de outubro do ano passado, desencadeando a atual guerra em Gaza e os confrontos que atraem o Irã, suas forças "por procuração" e os aliados de Israel no Oriente Médio.
O Irã nega, no entanto, que tenha desempenhado qualquer papel no ataque de 7 de outubro.
Como as capacidades militares do Irã e de Israel se comparam?
O Irã é muito maior do que Israel geograficamente, e tem uma população de aproximadamente 90 milhões de habitantes, quase dez vezes maior que a de Israel – mas isso não se traduz em um maior poderio militar.
O Irã investiu fortemente em mísseis e drones. Não só tem um vasto arsenal próprio, como também tem fornecido quantidades significativas a aliados que agem "por procuração" – como os Houthis, no Iêmen, e o Hezbollah, no Líbano.
O que falta a ele são sistemas modernos de defesa aérea e aviões de combate.
Acredita-se que a Rússia esteja ajudando o Irã a aprimorá-los em troca do apoio militar que Teerã deu a Moscou na guerra do país com a Ucrânia – o Irã forneceu drones Shahed de ataque, e a Rússia estaria agora tentando fabricar por conta própria as armas.
Em contrapartida, Israel tem uma das forças aéreas mais avançadas do mundo.
De acordo com o Balanço Militar do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), Israel tem pelo menos 14 esquadrões de jatos – incluindo F-15, F-16 e o mais novo caça invisível F-35.
Israel também tem experiência na realização de ataques nas profundezas de territórios hostis.
Irã e Israel possuem armas nucleares?
Presume-se que Israel possua suas próprias armas nucleares, mas adota uma política oficial de ambiguidade deliberada.
O Irã não possui armas nucleares, e também nega que esteja tentando usar seu programa nuclear civil para se tornar um Estado com armas nucleares.
No ano passado, a agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) encontrou partículas de urânio enriquecidas com uma pureza de 83,7% – muito próximo do percentual necessário para fabricação de armamento – na instalação subterrânea de Fordo, no Irã.
O Irã alegou, por sua vez, que podem ter ocorrido "flutuações não intencionais" nos níveis de enriquecimento.
O país vem enriquecendo abertamente urânio com uma pureza de 60% há mais de dois anos, violando um acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais.
Mas este acordo estava à beira de entrar em colapso desde que o então presidente dos EUA, Donald Trump, abandonou unilateralmente o acordo – e restabeleceu fortes sanções ao Irã em 2018.
Israel havia sido contra ao acordo nuclear desde o início.
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