AVIAÇÃO

A pressão sobre a Boeing após denúncia de funcionário sobre preocupações com segurança

Engenheiro acusou a empresa de usar atalhos na construção dos jatos 787 e 777.

A Boeing está enfrentando uma nova crise depois que um funcionário da companhia denunciou preocupações de segurança em relação à fabricação de alguns de seus aviões aos órgãos reguladores dos EUA.

O engenheiro Sam Salehpour acusou a empresa de usar atalhos na construção dos jatos 787 e 777.

Ele alegou que foi “ameaçado de demissão” depois de levantar as preocupações com os chefes.

Mas a Boeing disse que as acusações eram “imprecisas” — e acrescentou estar convicta de que seus aviões eram seguros.

“As questões levantadas foram objeto de rigorosas avaliações de engenharia sob supervisão [da Agência Federal de Aviação]”, declarou a empresa.

“Esta análise validou que estas questões não apresentam quaisquer preocupações de segurança e que a aeronave vai manter sua vida útil durante várias décadas."

As ações da Boeing caíram quase 2% na terça-feira (9/4), depois que a Agência Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) anunciou que estava investigando as denúncias, e a fabricante de aeronaves informou que havia entregue apenas 83 aviões no primeiro trimestre deste ano — o menor número desde 2021.

A denúncia do funcionário, publicada pela primeira vez pelo jornal New York Times, é o incidente mais recente a chamar a atenção para a segurança dos aviões fabricados pela Boeing, com sede nos EUA, uma das duas maiores fabricantes de aviões comerciais do mundo.

A empresa já estava enfrentando uma investigação criminal e outros problemas na Justiça, depois que uma das portas da saída de emergência de um de seus aviões 737 Max 9 foi ejetada poucos minutos após a decolagem, em janeiro deste ano.

Os passageiros escaparam de ferimentos graves, mas o incidente mergulhou a companhia em uma crise, forçando a paralisação temporária de dezenas de aviões 737 Max 9, desencadeando investigações regulatórias e levando a Boeing a desacelerar drasticamente a fabricação de suas aeronaves.

A crise também levou o CEO da companhia, David Calhoun, a anunciar no mês passado que deixaria o cargo até o final do ano.

Na terça-feira, as advogadas do engenheiro Salehpour disseram que a Boeing havia tomado decisões para a montagem das aeronaves 787 que colocavam pressão nas articulações que ligavam partes do corpo dos jatos, um problema que afetaria mais de 1.000 aviões.

Na denúncia apresentada à FAA em janeiro, ele alegou que o método poderia reduzir a vida útil das aeronaves.

“Esses problemas são o resultado direto da decisão da Boeing nos últimos anos de priorizar os lucros em detrimento da segurança, e de um regulador na FAA que se tornou reverente demais à indústria”, disseram as advogadas do engenheiro, Debra Katz e Lisa Banks, em comunicado.

As advogadas acrescentaram que Salehpour foi transferido para trabalhar no Boeing 777 depois de levantar as preocupações.

E, de acordo com elas, ele logo observou outros problemas na montagem deste avião.

“Ele foi ameaçado de demissão, excluído de reuniões, projetos e comunicações importantes, teve pedidos razoáveis de licença médica negados, foi designado a realizar trabalhos fora da sua área de especialidade, e declarado efetivamente persona non grata a seus colegas”, afirmaram.

O 787 Dreamliner é um avião maior que o 737, usado com frequência em voos internacionais. A aeronave voa comercialmente desde 2011, mas tem sido alvo praticamente desde o início de reclamações relacionadas à qualidade.

A Boeing acabou desacelerando a produção e interrompendo as entregas por quase dois anos, respondendo às questões que haviam sido levantadas. Em 2022, a FAA autorizou a Boeing a retomar as entregas.

A FAA, que aumentou sua supervisão sobre a Boeing desde que a porta da aeronave foi ejetada em janeiro, disse em comunicado que incentivava as pessoas da indústria da aviação a compartilhar informações.

“Investigamos minuciosamente todos as denúncias”, disse a agência quando questionada sobre a denúncia.

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