Investimentos

Crises políticas e violência na América Latina assustam investidores espanhóis

Empresas da Espanha veem riscos de a forte polarização afetar a democracia nos países latinos. A insegurança preocupa, sobretudo, no Brasil, no México e no Equador. Apesar dos temores, 76% das companhias vão ampliar os investimentos na região neste ano, de olho do grande mercado consumidor

Madrid — As empresas espanholas que têm negócios na América Latina estão sobressaltadas com a insegurança política que tomou conta da região, fruto da forte polarização que ameaça a democracia. A esse temor, se soma o aumento da violência, em especial no Brasil, no México e no Equador, e a instabilidade cambial, que amplia os riscos das operações.

Esse quadro nada alentador faz parte do XVI Informe Panorama de Investimentos Espanhóis na América Latina, divulgado nesta quarta-feira (10/4). O levantamento mostra que 84% das companhias pesquisadas citam a desestabilização política como o principal problema a ser enfrentado neste ano. A questão cambial é citada por 49% e a insegurança nas cidades, por 45%.

Apesar de todas essas preocupações, 76% das empresas espanholas dizem que vão ampliar seus negócios na América Latina em 2024, seja por meio de um crescimento orgânico ou por intermédio de aquisições, 22% asseguram que vão manter os investimentos e apenas 2%, diminuí-los. Os cinco países que mais devem receber recursos são México, Colômbia, Chile, Peru e Brasil.

Para as companhias, o que mais atrai os investidores nessa região é o tamanho do mercado interno. Nesse quesito, o Brasil é o grande destaque. Ao mesmo tempo, há o temor de que a economia brasileira entre em uma rota de desaceleração econômica. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 2,9%. Para este ano, as estimativas estão convergindo para algo entre 2% e 2,5%.

Na avaliação de Juan Carlos Martínez Lázaro, professor da IE University e responsável pelo informe, do ponto de vista econômico, o pior momento para a América Latina no pós-pandemia ficou para trás. Depois de um surto inflacionário que agravou as desigualdades sociais, a região vê o custo de vida caminhando para as metas perseguidas pelos bancos centrais, graças à alta das taxas de juros “Agora, com a inflação mais baixa e os juros caindo, o nível de atividade deve se fortalecer”, diz.

Ele lembra que, em 2023, houve surpresas positivas que levaram a um PIB maior do que o esperado na região. Inicialmente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou expansão de 1,6%, contudo, o resultado foi de 2,5%. “Para este ano, fala-se em crescimento de 2%, desempenho que pode melhorar ao longo do ano”, frisa o professor.

Emaranhado de impostos

Outro dado mereceu destaque na pesquisa: as empresas espanholas ainda não conseguem ver os benefícios que a reforma tributária pode trazer para o Brasil. A complexidade dos impostos no país é citada como um entrave para a ampliação dos negócios no país. Numa escala que vai de um (mais amigável às empresas) a cinco (mais prejudicial às operações), o Brasil teve nota 4,83, superando de longe o segundo colocado, a Argentina, com 3,86. Uruguai (2,45) e Honduras (2,29) estão no outro extremo.

Segundo o levantamento, as pequenas e médias empresas espanholas dizem não ter o menor interesse no mercado brasileiro por causa da estrutura de tributos. É um entrave que essas firmas não querem enfrentar.

As companhias espanholas afirmam, ainda, que, atualmente, já faturam mais com seus negócios na América Latina do que na Espanha, onde têm suas sedes. Para 82% das empresas ouvidas pela pesquisa da IE University, o faturamento na região vai aumentar nos próximos três ano. Esse índice é maior do que o observado em 2023 (79%) e em 2022 (77%). Quando olham para a União Europeia, 66% afirmam que as receitas vão crescer. Já nos negócios localizados no restante da Europa, o caixa deve engordar para 40% das firmas ouvidas.

“Ou seja, os rendimentos oriundos da América Latina e no Caribe estão se tornando cada vez mais importantes para as empresas espanholas”, ressalta o professor Lázaro.

A invasão de produtos chineses na América Latina e no Caribe não perturba as companhias espanholas. Segundo 70% das empresas, as mercadorias vindas da segundo economia do planeta não atrapalham seus negócios, pois não são concorrentes de peso. Muito dessa posição confortável, destaca a pesquisa, tem a ver com a disposição das firmas sediadas na Espanha em investir na inovação: 65% delas têm levado tecnologia e conhecimento para as filiais latinas.

Já as localidades da região com mais sedes de empresas espanholas são a Cidade do México, Bogotá e São Paulo. Também entra nesse ranking a norte-americana Miami.

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