HORROR NO ORIENTE MÉDIO

Militares destituídos após ataque a comboio humanitário

Exército israelense exonera major e coronel da reserva responsabilizados por erro em ofensiva que matou sete voluntários na Faixa de Gaza. Conselho de Direitos Humanos da ONU pede suspensão de venda de armas para governo Netanyahu

O Exército israelense admitiu, ontem, que uma sequência de erros resultou no bombardeio ao comboio da ONG World Central Kietchen (WCK), que matou sete voluntários da missão que levava ajuda humanitária a palestinos na Faixa de Gaza, na última terça-feira. Diante da conclusão das investigações internas, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram
a destituição de dois oficiais — um major e um coronel da reserva. Segundo o informe, outros três militares receberam reprimendas em razão do episódio.

No desfecho das investigações, um novo — e raro — pedido de desculpas de Israel, que vem sendo pressionado por aliados, inclusive os Estados Unidos, por não fazer o suficiente para proteger os civis em Gaza em meio à guerra com o grupo terrorista Hamas. Os resultados foram apresentados um dia depois de Washington ter condicionado, pela primeira vez, seu apoio a medidas mais eficazes de defesa de palestinos e integrantes de missões humanitárias.

De acordo com a apuração militar, as tropas cometeram “um erro de apreciação operacional da situação”, após terem visto um suposto “homem armado do Hamas” disparar do telhado de um dos caminhões do comboio da ONG. O Exército indicou que o inquérito foi entregue ao advogado-geral dos militares, que decidirá se os oficiais ou qualquer outra pessoa envolvida nas mortes devem receber mais punições ou serem processados.

Grande violação

As Forças de Defesa de Israel assinalaram que a decisão de realizar um bombardeio aéreo nos carros dos trabalhadores humanitários foi “executada em grave violação” dos procedimentos das FDI. Enfatizou ainda que considera o ocorrido um “erro grave decorrente de uma falha
grave devido a uma identificação errada” de que os veículos transportavam terroristas do Hamas.

Além disso, conforme o apurado, os operadores do drone que estava rastreando o comboio
não foram informados do trajeto dos trabalhadores humanitários. Embora os veículos da WCK estejam marcados com o logotipo e o nome da organização em seus tetos, o logotipo não era visível para as câmeras que rastreavam o veículo à noite, segundo Yoav Har-Even, chefe do mecanismo de apuração e avaliação das FDI.

“É uma tragédia”, disse o porta-voz das FDI, o contra-almirante Daniel Hagari, aos repórteres. “É um evento sério pelo qual somos responsáveis e não deveria ter acontecido e vamos garantir que não aconteça novamente”, acrescentou.

A WCK enfatizou que seu comboio estava em coordenação com oficiais militares israelenses e tinha autorização para percorrer a rota. Na quinta-feira, a ONG, que suspendeu a atuação no enclave após a tragédia, pediu uma “investigação independente e de terceiros” sobre o ataque.

“Genocídio”

Em Bruxelas, o Conselho de Direitos Humanos da ONU exigiu ontem o fim da venda de armas a Israel, invocando o risco de “genocídio” em Gaza, onde mais de 33 mil palestinos morreram desde outubro na guerra entre o Estado israelense e o Hamas. Foi o primeiro posicionamento dessa instância das Nações Unidas sobre o conflito. O conselho, porém, não dispõe dos meios para que a resolução seja vinculante.

Vinte e oito dos 47 membros do organismo votaram a favor do texto, seis votaram não — entre eles Estados Unidos e Alemanha — e 13 se abstiveram, incluindo França, Índia e Japão. “Um voto sim é um voto para o Hamas”, disse a embaixadora de Israel, Meirav Shahar. “Vocês têm que acordar e encerrar esse genocídio transmitido ao vivo pelas televisões do mundo todo”, rebateu o representante palestino, Ibrahim Mohammad Khraishi.

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