Um bombardeio israelense ocorrido por volta das 17h (11h em Brasília) desta segunda-feira (1º/4), no coração de Damasco, destruiu um anexo do consulado do Irã na capital da Síria e matou 11 pessoas, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana e três altos comandos da Força Quds — o seu braço de operações no exterior: o general de brigada Mohamad Reza Zahedi e o seu vice, Mohammad Hadi Haji Rahimi, além do general Hossein Amirollah, chefe do Estado-Maior da facção na Síria e no Líbano. As autoridades de Teerã prometeram uma "resposta decisiva" à agressão. Segundo a nacionalidade, as vítimas são oito iranianos, dois sírios e um libanês, todos combatentes, nenhum civil. O movimento xiita libanês Hezbollah sublinhou que o bombardeio "não passará sem que o inimigo seja punido e receba vingança".
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Por meio da rede social X (antigo Twitter), o embaixador do Irã na Síria, Hossein Akbari, denunciou o ataque. "Com extrema brutalidade, contrariando todas as convenções internacionais, atacaram o meu local de residência e a secção consular da embaixada. Retaliaremos quando quisermos", avisou. De acordo com ele, o bombardeio foi executado por aviões de combate F-35 e seis mísseis. O Ministério da Defesa sírio divulgou nota por meio da qual afirmou que o ataque "destruiu todo o edifício, matando e ferindo todos os que estavam dentro".
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir Abdollahian, telefonou para o chanceler sírio, Faysal Meqdad, e condenou a ação israelense. Abdollahian acusou o governo de Benjamin Netanyahu de "violar todos os compromissos e convenções internacionais" e disse que o responsabilizaria pelas "ações criminosas". Ele acrescentou que o premiê israelense "perdeu completamente seu equilíbrio mental depois de derrotas repetidas em Gaza".
Para o iraniano Naysan Rafati, analista do think tank International Crisis Group (ICG), o ataque foi importante por duas razões: além de ter alvejado vários integrantes da Guarda Revoluciária, atingiu um prédio do consulado. "Ele também ocorre no momento em que as tensões entre Israel e Irã haviam aumentado, tanto direta, quanto indiretamente, por meio de vários grupos apoiados por Teerã no Líbano, no Iraque e no Iêmen", afirmou ao Correio. Apesar de admitir que as autoridades iranianas alertaram sobre uma resposta ao bombardeio, Rafati vê com ceticismo essa possibilidade. "A retaliação contra os interesses de Israel ou dos Estados Unidos poderia resultar em uma espiral de escalada mais perigosa."
Por sua vez, Abas Aslani — jornalista e pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos sobre o Oriente Médio (em Teerã) — lembrou à reportagem que Irã e Israel têm estado em confronto há vários anos, basicamente de forma indireta. "O que aconteceu hoje (ontem) é diferente e representa uma grave escalada por uma série de razões. Em primeiro lugar, pela qualidade das personalidades mortas no bombardeio, incluindo um comandante sênior, responsável pela presença da Guarda Revolucionária na Síria e no Líbano. Em segundo lugar, pelo fato de o consulado iraniano ser considerado território do Irã. Esse ataque israelense foi um ato de provocação contra o Irã", observou Aslani.
O especialista acredita que, ao atacar o consulado em Damasco, Israel busca forçar um envolvimento mais incisivo dos Estados Unidos na guerra contra o movimento extremista islâmico Hamas, após não conseguir alcançar os objetivos. "Ao criar uma crise externa, Netanyahu tenta concentrar as atenções e obter apoio de aliados", disse Aslani. Ele aposta que levará tempo para uma retaliação iraniana. "Poderá vir com um ataque direto a interesses israelenses ou norte-americanos no Oriente Médio ou a forças aliadas do Irã na região. O Irã não tem saída a não ser retaliar. Uma atitude passiva representaria luz verde para que os israelenses mantenham ataques desse tipo", acrescentou.