A convocação de marchas em defesa da educação atraiu dezenas de milhares de argentinos, a maioria estudantes e professores, às ruas de Buenos Aires e de outras cidades do país, num gigantesco protesto — um dos mais expressivos — contra a política de ajustes do presidente Javier Milei. Com livros para o alto, os manifestantes denunciaram os cortes de verbas para as universidades públicas, que declararam emergência orçamentária depois que o governo decidiu manter este ano o orçamento recebido em 2023, apesar da inflação em 12 meses, que atingiu quase 290% em março.
Na capital, segundo a polícia,100 mil pessoas participaram dob ato. De acordo com a Universidade de Buenos Aires (UBA), meio milhão aderiu ao chamado, que teve a Praça de Maio como epicentro. Sindicatos e partidos de oposição reforçaram a marcha, considerada uma ação política pela Casa Rosada. Sergio Massa, adversário de Milei nas eleições do ano passado, marcou presença. Professores universitários acompanhara com uma greve.
“A educação nos salva e nos torna livres. Convocamos a sociedade argentina a defendê-la”, disse a estudante e presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández.
Nas principais cidades do país, outros milhares de alunos e professores das 57 universidades nacionais públicas também saíram em passeata “em defesa do ensino público gratuito”. Na cidade de Córdoba, sede da prestigiosa universidade homônima, ruas ficaram lotadas.
Cerca de 2,2 milhões de pessoas estudam no sistema universitário público argentino, escolhido por 80% dos estudantes em comparação com as instituições privadas, em um país onde quase metade dos 47 milhões de habitantes vive na pobreza.
Milei recusa-se a adaptar o orçamento em favor da sua política de deficit zero comprometida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Não esperem a saída por meio do gasto público”, alertou, na segunda-feira, ao anunciar na televisão nacional um superavit no primeiro trimestre.
Segundo o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, na semana passada, já no calor da mobilização estudantil, Milei anuiu “aumentar as rubricas de despesas operacionais em 70% em março e outros 70% em maio”, além de uma quantia para os hospitais universitários. Essas despesas excluem os salários dos docentes, que representam 90% do orçamento.
Os reforços contrastam com o custo das tarifas de energia, que aumentaram 500% este mês, colocando as universidades à beira da paralisação. “Pelo ritmo que estão nos dando dinheiro, só poderemos funcionar de dois a três meses”, disse o reitor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Ricardo Gelpi.
Cerco às fraudes
O governo de Javier Milei anunciou uma “auditoria abrangente” das indenizações concedidas às vítimas de violações dos direitos humanos durante a ditadura argentina (1976-1983), após casos de “irregularidades no tratamento ou pagamento”. O Ministério da Justiça informou que vai averiguar “todos os pedidos feitos em nome das leis de reparação”, à luz de ações judiciais relativas a benefícios concedidos de forma fraudulenta.
As indenizações concedidas por detenção, exílio ou desaparecimento de um familiar, por exemplo, estão previstas em diversas leis denominadas “reparação às vítimas do terrorismo de Estado”, promulgadas durante as décadas de 1990 e 2000. Nos últimos anos, vários processos judiciais revelaram fraudes, incluindo um caso famoso em que cinco pessoas foram acusadas, no fim do ano passado, de organização criminosa, por utilização de documentos e testemunhos falsos.
O governo anterior também iniciou ações judiciais e investigações contra “gangues” especializadas na obtenção de reparações. O ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, especificou que existem “mais de 100 casos” suspeitos de terem recebido cerca de US$ 150 mil (em torno de R$ 780 mil).
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