Yerevan — A Armênia provavelmente ainda guarda segredos arqueológicos de valor histórico inestimável, depois da descoberta do par de sapatos e da bodega — local de fabricação de vinho — mais antigos do planeta. A pouco mais de 100km ao sul da capital Yerevan, três cavernas estão abertas à visitação turística. Entre os séculos 7 e 8, quando o atual território da Armênia fazia parte da rota da seda, os viajantes buscavam abrigo dentro das galerias da Areni. Objetos ligados a esses nômades foram escavados na caverna, que funcionava como um "caravansaray", tipo de "hotel antigo" usado para pernoites ou em períodos curtos. A descoberta de diferentes moedas de várias regiões do mundo e de caixas com algodão sustenta a tese de que a caverna foi habitada ao longo dos séculos.
No entanto, um dos principais achados data do ano 3.500 antes de Cristo: um par de sapatos recheado de ervas, provavelmente para tornar o uso mais confortável e para proteger os pés do frio extremo durante o inverno. A peça, confeccionada com a pele de algum animal, está exposta, hoje, no Museu Nacional, na Praça da República, em Yerevan.
As cavernas de Areni estão dentro de um dos muitos maciços rochosos que se estendem por vários quilômetros no centro-sul da Armênia, próximas a um cânion e ao longo do Rio Arpa, no sul da meseta do Cáucaso. O par de sapatos foi encontrado na maior delas, chamada de Areni 1, apenas em 2010. Por sua vez, a bodega foi escavada mais ao fundo, a cerca de 200m da entrada da caverna. Estava na mesma área onde foram retirados artefatos dos séculos 13 e 14 depois de Cristo, além de pequenos pedaços de manuscritos. Apenas entre 10% e 20% das cavernas foram explorados pelos arqueólogos.
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No local da bodega, os estudiosos recuperaram enormes tachos, onde o vinho era armazenado e fermentado, sem nenhum tipo de filtragem e sem a separação do bagaço da uva. Ao lado, escavaram dois crânios e encontraram o corpo de um bebê de cerca de 9 meses sepultado dentro de outra vasilha de barro, acompanhado de um prato de comida. Um indicativo de que, há seis mil anos, os habitantes de Areni utilizavam o vinho que produziam para rituais de sacrifício humano.
O repórter viajou a convite da União Geral Armênia de Beneficiência (UGAB Brasil)
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