Cultura

Por que os japoneses usam palavras parecidas com o português?

No Japão, há muitas palavras que são parecidíssimas com as de mesmo significado em português — e não é por acaso.

O fumi-e, em ilustração do alemão Philipp Franz von Siebold, datada de 1850  -  (crédito: Domínio Público)
O fumi-e, em ilustração do alemão Philipp Franz von Siebold, datada de 1850 - (crédito: Domínio Público)

As línguas são vivas e, longe de serem estáticas, sofrem a influência de seus falantes, transformando-se com o passar do tempo e por meio do intercâmbio com outros idiomas e outras culturas.

No Japão, há muitas palavras que são parecidíssimas com as de mesmo significado em português. E isso não é por acaso.

Quase cinco séculos atrás, os japoneses incorporaram ao seu vocabulário termos específicos, muitos utilizados até hoje. Por exemplo: pan para designar pão, biroodo para veludo, tabako para tabaco e karuta para carta de baralho.

Mas 11 mil quilômetros separam Lisboa de Tóquio e, aparentemente, não há nada em comum entre essas duas culturas, uma forjada na Europa medieval, outra carregada do tradicionalismo oriental nipônico.

A explicação está na religião.

Mais especificamente, nos esforços empreendidos pela Companhia de Jesus — mesma ordem religiosa que, por meio de José de Anchieta (1534-1597) e tantos outros, encarregou-se de catequizar indígenas brasileiros durante a colonização, e mesma ordem religiosa do argentino Jorge Bergoglio, o Papa Francisco.

Esta história pode ser resumida no fato de que os portugueses foram pioneiros no contato frequente entre europeus e nipônicos. Mas suas nuances culturais e religiosas estão no cerne de uma fascinante troca linguística. E está em evidência por causa da série Xógum: A Gloriosa Saga do Japão, que estreou em fevereiro e é baseada no romance Sh?gun, escrito pelo britânico James Clavell (1924-1994) e publicado originalmente em 1975.

“Os primeiros portugueses a chegar ao Japão foram alguns comerciantes, em 1541 ou 1542. Desenvolveu-se, a partir dessa altura, uma importante atividade comercial que, com base em Macau, transportava produtos, principalmente seda e prata, entre a China e o Japão”, pontua à BBC News Brasil o padre jesuíta português Nuno da Silva Gonçalves, ex-reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e diretor da revista La Civiltà Cattolica.

Conforme conta à reportagem a professora de japonês Monica Okamoto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), isso ocorreu precisamente em Tanegashima, uma pequena ilha ao sul do Japão.

“Foi o primeiro encontro do povo japonês com o ocidente”, relata.

“Na época, o Japão estava sob o domínio do xogunato, um sistema de governo militar, e os xoguns ficaram impressionados com algumas tecnologias apresentadas pelos portugueses, sobretudo a arma de fogo do tipo mosquete.”

“Assim, num primeiro momento, os xoguns permitiram a entrada dos portugueses com a intenção de conhecer outras inovações ocidentais nos campos militar e naval”, acrescenta Okamoto.

“Os portugueses, por outro lado, iniciaram suas missões de catequização, introduzindo o catolicismo no Japão por meio da instalação de escolas, santas casas e igrejas. Desse intenso e curto período de relações internacionais entre Japão e Portugal [até por volta de 1630], muitas palavras portuguesas acabaram sendo incorporadas ao vocabulário japonês.”

Padroado

Fumi-e, em ilustração do alemão Philipp Franz von Siebold, datada de 1850
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O fumi-e, em ilustração do alemão Philipp Franz von Siebold, datada de 1850

“O primeiro jesuíta a chegar ao Japão foi [o missionário] São Francisco Xavier [(1506-1552)], em 1549. Era navarro [na atual Espanha] e fez parte do grupo que, com Santo Inácio de Loyola [(1491-1556)], fundou a Companhia de Jesus”, contextualiza Gonçalves.

Teria sido o próprio Loyola quem havia decidido enviar Xavier para o oriente, “a pedido do rei de Portugal, dom João 3º [(1502-1557)], que pretendia desenvolver a atividade missionária nos territórios alcançados pelos navegadores portugueses”, conta o padre.

Uma curiosidade é que no mesmo ano em que Xavier desembarcou no Japão, chegou à colônia portuguesa que daria origem ao Brasil o primeiro grupo de jesuítas, cujo superior era o padre Manuel da Nóbrega (1517-1570).

A chegada de Xavier foi o começo de um movimento que, ao longo dos anos, levaria dezenas de padres jesuítas ao Japão.

Segundo o padre jesuíta Nilson Maróstica, ex-reitor do Santuário Nacional São José de Anchieta, dos 95 membros da Companhia de Jesus que trabalharam no Japão até 1600, 57 eram portugueses, 20 eram espanhóis e 18, italianos.

O que os levava, segundo afirma Maróstica à BBC News Brasil, era “a esperança de levar o cristianismo e o catolicismo para o Japão”.

Mas se as nacionalidades eram um tanto difusas, a missão jesuíta no oriente tinha comando lusitano. Isto porque esses sacerdotes atuavam no âmbito do chamado padroado português. Era um acordo selado em meados dos anos 1400, início do processo conhecido como expansão marítima, em que a Santa Sé delegou à Coroa de Portugal o poder exclusivo de organização e financiamento de todas as tarefas religiosas nos domínios e nas terras conquistadas pelos portugueses.

Gonçalves comenta que o mecanismo consistia de “um conjunto de privilégios e obrigações concedidos por sucessivos papas aos reis de Portugal”.

“Pelo padroado, a Coroa tornou-se a principal responsável pela missionarização nos territórios alcançados pelos navegadores portugueses. Em alguns desses territórios, estabeleceu-se uma administração portuguesa estável. Foi o caso de Goa, Malaca ou Macau, no oriente”, exemplifica. “Em outros territórios, existia apenas uma presença baseada nos interesses comerciais recíprocos, sem qualquer dominação política ou militar. Esse foi o caso do Japão, onde os protagonistas da presença europeia foram os comerciantes e os missionários.”

“Inicialmente, apenas missionários jesuítas. Mais tarde, também franciscanos e dominicanos”, completa Gonçalves.

Maróstica define o padroado “como iniciativa dos reis católicos de implantarem em suas terras recém-descobertas a igreja de seus reinos”.

“Os jesuítas recebiam normalmente verbas anuais para instalarem religiosos, quase sempre 18 padres, em um colégio ou em uma igreja. Ou seja, eram os reis que contratavam as congregações religiosas para instalarem a fé católica nas novas posses de seus reinos”, explica.

300 mil cristãos japoneses

Ilustração de autoria desconhecida de uma missa cristã no Japão, provavelmente do século 17
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Ilustração de autoria desconhecida de uma missa cristã no Japão, provavelmente do século 17

Conforme apontam pesquisas, os jesuítas foram bem-sucedidos no trabalho de evangelização, fazendo com que o país chegasse a ter cerca de 300 mil cristãos no período.

“[Os missionários] conseguiram rapidamente muitas conversões”, ressalta Gonçalves.

“Por isso, tem-se afirmado que a chegada de Xavier […] marca o início do ‘século cristão do Japão’”. Essa expressão foi cunhada pelo historiador britânico Charles Boxer (1904-2000), autor de, entre outros, ‘The Christian Century in Japan, 1549-1650’.

A metodologia missionária dos jesuítas era chamada de “acomodação”.

“Adotaram os costumes locais, estudaram a língua e escreveram catecismos e outras obras em japonês. Adaptaram, sempre que possível, a prática cristã às tradições culturais japonesas”, comenta Gonçalves. Um modus operandi muito parecido com o aplicado no território colonial brasileiro.

De acordo com os registros, o primeiro japonês tornado católico foi um homem chamado Anjiro (1511-1550) — de cuja biografia pouco se sabe. Ele havia cometido um homicídio e, quando encontrou os jesuítas, acabou sendo contratado como tradutor. Maróstica afirma que, por ter sabido “do perdão dos pecados [conforme prega o cristianismo], ele se interessou em abraçar esta fé para livrar sua consciência”.

Depois de batizado, ele ganhou nome português. Tornou-se Paulo de Santa Cruz.

Xavier ganhou alguém para atuar ao seu lado na comunicação com os locais. “[Anjiro] o conduziria a outros japoneses e lhe ensinaria os rudimentos da cultura”. Os missionários jesuítas dedicaram-se ao estudo do idioma e, depois de pouco tempo, já conseguiam ler textos cristãos em japonês nas praças públicas.

O interesse era instigado. Em carta da época, Xavier escreveu que “esses japoneses são tão curiosos que, desde a nossa chegada, não se passou um só dia sem que tivesse vindo ter conosco bonzos [monges budistas] e leigos, desde a manhã até a noite, para nos fazerem perguntas de toda espécie”.

Segundo Maróstica, como “nenhum habitante” daquelas terras havia feito ainda “a travessia do mar”, a chegada dos europeus “despertou muita curiosidade neles”.

“Essa euforia da multidão japonesa despertou o interesse do daimio [algo como senhor, uma autoridade da época] local, Shimazu Takahisa [(1514-1571)], que mandou um dos funcionários [até os jesuítas] para que eles fossem trazidos ao palácio”, relata o religioso.

Conta-se que Xavier foi recebido com presentes e toda a pompa da corte. O jesuíta presenteou a autoridade japonesa com uma encadernação da Bíblia. “E o único presente que aceitou dele foi a liberdade para poder pregar pelas cidades daquela região. O damio concedeu com alegria. E se interessou em saber o conteúdo do livro sagrado dos cristãos”, acrescenta.

Mas se os religiosos eram movidos pelo divino, Portugal tinha olhares mais terrenos. “O interesse dos portugueses nesta aproximação era puramente comercial”, resume Maróstica.

“Ao chegar, encontraram uma cultura e civilização estabelecida há milhares de anos e, assim, começaram a trocar mercadorias. Sempre em silêncio, pois nenhum falava a língua do outro, até a chegada de Francisco Xavier, como eu disse, que aprendeu rapidamente o idioma.”

“Da parte dos japoneses, o daimio, governador ou senhor local, tinha interesse nas mercadorias trazidas pelos portugueses, mas principalmente em conhecer a língua, a cultura e os conhecimentos dos europeus”, comenta o jesuíta.

“Nesse período, os reinos do Japão não viviam com muita paz. Eram tempos intranquilos. E os japoneses eram ávidos por conhecimento.”

O padre conta que eles “queriam conhecer especialmente as armas de fogo”. Por outro lado, os lusos “pagavam muito bem pelas especiarias e mercadorias de fabricação japonesa”.

A cristianização japonesa deixou de ser um movimento localizado e logo se expandiu por outras regiões.

“Até o final do século 16 era possível encontrar pessoas batizadas em praticamente todas as províncias do Japão, muitos deles organizados em comunidades. Mesmo sem a presença de sacerdotes, eles se organizavam em comunidades leigas”, conta Gonçalves.

Cruz proibida

 Pintura de autoria desconhecida, provavelmente do século 17, ilustra o martírio de cristãos no Japão
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Pintura de autoria desconhecida retrata o martírio de cristãos no Japão

Mas a lua de mel foi gradualmente terminando. “Estima-se que, no seu auge, tenha chegado a haver cerca de 300 mil cristãos no Japão. Mas a intromissão estrangeira em um país em fase de unificação incomodou as autoridades locais. Logo, o catolicismo foi progressivamente reprimido e martirizado em várias partes do país, até ser proibido”, diz Maróstica.

“A expulsão dos missionários e a proscrição do cristianismo foi acompanhada de violentas perseguições”, ressalta Gonçalves. “Muitos foram condenados à morte e martirizados, testemunhando com a dádiva da própria vida a fé que professavam.”

Fizeram parte desta história alguns nomes japoneses que, mais tarde, se tornaram beatos ou santos da Igreja, como é o caso de São Paulo Miki (1562-1597), samurai que se tornou catequista e tinha fama de exímio pregador.

“Apesar dos esforços dos missionários para se adaptarem à cultura local, o cristianismo foi visto pelos dirigentes japoneses como uma religião estrangeira. Além disso, a presença dos missionários, no final do século 16 e princípio do século 17, coincidiu com um período de centralização e unificação política no Japão. Essa unificação incluía também uma dimensão religiosa que não era propícia à aceitação de uma religião importada”, analisa Gonçalves.

“Espalhou-se também o receio de que os missionários fossem a guarda-avançada de uma tentativa de domínio militar e político por parte das potências europeias”, completa ele. Era soft power.

Como diz Gonçalves, “estas razões de política interna e o desejo de preservar a própria autonomia levaram ao encerramento do Japão à influência exterior”.

Os missionários foram expulsos em 1614. “E, pouco tempo depois, o próprio cristianismo foi proibido”, diz o padre.

Essa expulsão foi formalizada por documento elaborado pelo monge Konchi’in S?den (1569-1633), encarregado de questões religiosas e relações exteriores no governo do xogum Tokugawa Hidetada (1579-1632). “Foi considerada a primeira declaração oficial e completa de proibição dos cristãos [no Japão]”, explica Maróstica.

“Tempos de martírio vieram: as torturas físicas e psicológicas foram usadas contra os cristãos. As autoridades criaram o fumi-e, que consistia em obrigar os cristãos a pisar na imagem de Cristo ou da Virgem [Maria], apostatando-se de sua fé”, conta o jesuíta.

O ponto emblemático dessa virada de mesa foi o episódio conhecido como rebelião de Shimabara, iniciada em 1637. Calcula-se que cerca de 40 mil japoneses, em boa parte católicos, tenham se revoltado contra a proibição da fé cristã no país. O movimento foi sufocado pelas tropas do governo. A partir dali, os cristãos remanescentes passaram a celebrar na clandestinidade. Eram os chamados kakure kirishitan — “cristãos escondidos”.

“Apesar da proibição, pequenos grupos de cristãos japoneses, sem a presença de clero ou missionários, mantiveram-se em comunidades escondidas”, salienta Gonçalves.

Palavras portuguesas

Os portugueses foram expulsos, mas ficaram as palavras em português. “Há muitas palavras japonesas que têm origem no vocabulário português. E uma boa parte dela foi introduzida no século 16”, diz a professora Okamoto.

“Algumas palavras em português foram introduzidas para o japonês, para dar nomes a coisas novas que não tinham antes no país. Entraram objetos novos e então tiveram a necessidade de dar os nomes a cada uma das novidades. Havia também palavras relacionadas ao cristianismo que eram inseridas entre os fiéis e escritos nas publicações dos jesuítas”, explica à BBC News Brasil a professora Junko Ota, que leciona língua e literatura japonesa na Universidade de São Paulo (USP).

“Foi inevitável que palavras, nomes substantivos que chegaram pela primeira vez ao Japão no século 16, fossem incorporados à língua local. Estas palavras se referem a produtos que lá não havia e costumes que não pertenciam àquela cultura”, complementa Maróstica.

Botan é botão. Pan é pão. E há muitos outros exemplos, como: tabako, cigarro; kirishitan, cristão; bateren, padre; birôdo, veludo; biidoro, vidro; karuta, jogos de carta. “Em geral, [são palavras que] correspondem a objetos ou costumes introduzidos pelos portugueses”, pontua Gonçalves.

“Antes dessa influência portuguesa, algumas dessas palavras não tinham um correspondente para o japonês porque esses elementos não existiam no Japão”, concorda Okamoto. “Por exemplo, o pão e o bolo castela [tipo de pão-de-ló, chamado de pão de Castella e, em japonês, ‘kasutera’].”

Ota relativiza, contudo, a influência dos religiosos europeus no léxico japonês. “Os jesuítas portugueses tiveram um número bastante grande de fiéis, mas isso causou a repressão bastante forte por parte da força dominante da época, resultando na retirada deles do país”, comenta. “Assim, as publicações deles caíram no esquecimento dos japoneses por séculos. Só mais tarde descobriram o valor, do ponto de vista linguístico, por exemplo, do dicionário Japonês-Português compilado no início do século 17.”

“Há uma lista enorme de palavras japonesas de origem portuguesa resultante da chegada ao Japão dos portugueses em 1543, sendo os primeiros europeus a aportar e a estabelecer um fluxo contínuo e direto de comércio entre o Japão e a Europa”, afirma Maróstica. “Os portugueses também trouxeram novos alimentos, plantas e produtos para o Japão, como o tabaco e o pão.”

O linguista Caetano Galindo, professor na UFPR e autor de, entre outros, Latim em Pó, explica à BBC News Brasil como ocorre esse tipo de influência de um idioma em outro.

“A história do contato linguístico é a história do contato de culturas, de povos. E o vocabulário, muito especificamente, é a área mais suscetível a esse tipo de influência”, diz.

“Costumo dizer que o vocabulário é a epiderme da língua, é a área dos toques, onde os contatos se dão com mais facilidade”, diz. “No caso da presença portuguesa no território japonês, isso foi prolongado e algo material. Não foi só um livro que chegou. Foram pessoas, foi uma leva cultural, um processo de interpenetração cultural que deixou marcas e essas marcas vão estar na cultura japonesa assim como as marcas da imigração japonesa vão estar na cultura brasileira e a gente continua comendo sushi e usando esta palavra.”

Mas dentre as influências mais curiosas, ele lembra do tempurá, uma fritura de vegetais que se tornou prato clássico da culinária nipônica. “Isso tende a demonstrar um contato mais profundo entre as culturas”, comenta ele.

Essa comida não existia no Japão, mas quando os missionários portugueses lá estiveram acabaram criando esse prato para o período da quaresma, em que tradicionalmente católicos praticantes se abstêm do consumo de carne.

Não há um consenso para a origem do nome, se oriunda da palavra “tempero” ou da expressão latina ad tempora quadragesimae — justamente a que designa o período da quaresma.

Em texto publicado originalmente em 1975, o pesquisador Tai Whan Kim, ligado à Universidade de Coimbra, identificou que a maioria dos termos emprestados do português ao Japão são aqueles relacionados à prática religiosa cristã. Kurusu, por exemplo, é cruz; inheruno, inferno; e anjo ficou exatamente igual.

Kim também observou que a maior parte das palavras relacionadas à cultura material ocidental acabaram ficando obsoletas e hoje são consideradas arcaicas — foram substituídas por termos mais modernos. É o caso de boro, para bolo; amendo, para amêndoa; konpradoru, para comprador; e sabon, para sabão.

“Uma quantidade de palavras portuguesas sobrevivem nos dialetos de Kyushu, particularmente em Nagasaki, que foi o centro do trabalho missionário católico e das relações comerciais no século cristão”, acrescenta Kim. Exemplos são bobura, para abóbora; banco para banco; e baranda, varanda.

“A palavra mais frequentemente usada pelos japoneses, que é totalmente portuguesa, é o nosso famoso cacoete ‘né?’”, comenta Maróstica.

Impactos culturais

De acordo com o jesuíta Maróstica, a influência cultural dos portugueses sobre o Japão foi além do vocabulário.

“Por exemplo, o costume de jejuar nos tempos das grandes solenidades do cristianismo”, afirma. “Foi muito bem aceito pelos japoneses.”

Os jesuítas também levaram e traduziram para o japonês obras clássicas da literatura ocidental, como as fábulas de Esopo e as cartas de Sêneca. “E ensinaram aos japoneses o canto gregoriano e a música polifônica, bem como o uso de instrumentos musicais como o órgão, o violino e a flauta”, diz o religioso.

“Os japoneses adaptaram esses instrumentos e estilos à sua própria tradição, criando gêneros como o krishitan ongaku, a música cristã.”

Não à toa, órgão em japonês é orugan.

“Os portugueses introduziram no Japão alimentos como o açúcar, o pão, o trigo, a batata-doce e a fritura em óleo”, acrescenta.

“Finalmente, a influência portuguesa no Japão também se fez sentir na área econômica. Os portugueses foram os primeiros a abrir o comércio entre o Japão e o resto do mundo, trazendo consigo produtos valiosos como a seda, as especiarias, o açúcar e o ouro.”

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BBC
Edison Veiga - De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
postado em 16/04/2024 06:51 / atualizado em 16/04/2024 09:49
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