GUERRA

Entenda primeiro ataque direto do Irã a Israel

Irã lançou ataque contra Israel no sábado, em uma represália que já era esperada

Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023 -  (crédito: Reuters)
Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023 - (crédito: Reuters)

Pela primeira vez, o Irã realizou ataques diretos contra o território de Israel no sábado (13/4).

No meio da noite de sábado, alertas de ataque aéreo dispararam em Israel. Os residentes procuraram abrigo enquanto explosões eram ouvidas e as defesas aéreas eram ativadas.

As interceptações iluminaram o céu noturno em vários lugares do país, enquanto muitos drones e mísseis foram abatidos pelos aliados de Israel antes de chegarem ao território israelense.

  • Clique aqui para seguir o canal da BBC News Brasil no Whatsapp, tanto pelo celular quanto pelo WhatsApp Web
  • Você também pode nos encontrar se buscar por "BBC News Brasil" na aba "Atualizações" do WhatsApp

Pelo menos nove países estiveram envolvidos na escalada militar — com projéteis disparados do Irã, Iraque, Síria e Iêmen e abatidos por Israel, pelos EUA e pela França, bem como pela Jordânia.

Uma represália era esperada. O Irã havia prometido retaliar depois de um ataque ao seu consulado na Síria, no dia 1º de abril, que atribuiu a Israel (embora Israel não tenha confirmado ser o autor).

Naquele ataque, 13 pessoas foram mortas, incluindo um general de 63 anos com um longo histórico de serviços prestados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), o poderoso exército paralelo do Irã — e o mais numeroso dentro das suas Forças Armadas.

A seguir, veja o que se sabe sobre o ataque e entenda as origens da rivalidade entre Israel e Irã, uma das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio.

'Permanecer alerta'

As forças israelenses estão em alerta máximo e "monitorando todos os alvos", segundo afirmaram autoridades no fim de semana.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, contra-almirante Daniel Hagari, disse que o Irã disparou mais de 300 projéteis contra Israel durante a noite, 99% dos quais foram abatidos. Ele acrescentou que alguns dos lançamentos chegaram do Iraque e do Iêmen.

Hagari disse que alguns mísseis iranianos atingiram o interior de Israel, causando pequenos danos, mas sem vítimas.

Um dos mísseis atingiu a base aérea de Nevatim, no sul do país, causando poucos danos.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que "muito poucos danos foram causados", mas alertou que "a campanha ainda não terminou" e disse que Israel deve "permanecer alerta".

O serviço de ambulância de Israel disse que uma menina beduína de sete anos foi ferida por estilhaços de destroços na região sul de Arad.

Hagari disse que o ataque em larga escala foi uma "grande escalada" e disse que Israel e seus aliados operaram com força total para defender Israel.

Após o ataque, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que "juntos venceremos".

O ministro centrista Benny Gantz disse que Israel vai responder "quando chegar a hora" e vai "cobrar o preço" do ataque.

O presidente dos EUA organizou uma reunião online dos líderes do G7, enquanto a Casa Branca insistiu que não quer ver a crise no Médio Oriente aumentar.

O presidente Biden disse ter reafirmado "o firme compromisso da América com a segurança de Israel" mas disse também que os EUA não vão participar de um ataque se Israel decidir retaliar.

Repercussão internacional

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou os membros para não aumentarem ainda mais as tensões com represálias contra o Irã, dizendo que o Oriente Médio já está "no limite".

Ao discursar durante a reunião do Conselho de Segurança no domingo (14/4), ele afirmou: "As pessoas da região enfrentam um perigo real de um conflito devastador em grande escala. Agora é a hora de desarmar e desescalar. Nem a região nem o mundo podem permitir mais guerras".

Na mesma reunião, o enviado de Israel na ONU instou o Conselho de Segurança a impor "todas as sanções possíveis" contra o Irã após os ataques sem precedentes do país.

Já o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, declarou que o Irã sofreu uma "dupla derrota": primeiro, o ataque falhou; segundo, a ação mostrou a verdadeira natureza do país ao mundo

Cameron diz que agora é a hora de diminuir a escalada e exorta Israel a pensar com "a cabeça, não com o coração".

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota em que diz acompanhar o conflito "com grave preocupação".

"Desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, o Governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", disse o Itamaraty.

"O Brasil apela a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada."

'Quase todos'

Ao expressar forte condenação pelo ataque, durante o fim de semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que os EUA ajudaram Israel "a derrubar quase todos" os mísseis e drones.

"O Irã e os seus representantes que operam a partir do Iêmen, Síria e Iraque lançaram um ataque aéreo sem precedentes contra instalações militares em Israel", disse Biden.

Em um comunicado oficial, o Irã afirmou que o ataque foi nomeado "Operação Promessa Verdadeira" e disse que lançou "dezenas de mísseis e drones contra alvos específicos" em Israel.

A declaração militar do Irã diz que o ataque está relacionado a "crimes repetidos" de Israel, incluindo o ataque em 1º de abril ao consulado iraniano, que Teerã atribuiu a Israel.

Devido aos ataques, os espaços aéreos foram fechados em todo o Oriente Médio no sábado.

A Jordânia, o Líbano e o Iraque, três países localizados na provável trajetória de voo destes drones, fecharam o seu espaço aéreo. O Irã e Israel também fecharam os seus para todos, exceto aeronaves militares.

Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023
Reuters
Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023

Desdobramento da guerra em Gaza

Entre os inúmeros desdobramentos da guerra de Israel contra o Hamas na Faixa Gaza, a intensificação da inimizade entre Israel e o Irã é considerada a mais explosiva, escreve a correspondente internacional da BBC Lyse Doucet.

Os países têm uma grande rivalidade há anos, o que já deixou um grande número de mortos, muitas vezes em ações secretas em que nenhum dos governos admite sua responsabilidade.

Desde que a guerra em Gaza eclodiu há seis meses, Israel intensificou os seus movimentos contra o Irã, não apenas atacando o fornecimento de armas e infraestruturas na Síria, mas assassinando altos comandantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) do Irã e do Hezbollah (organização política e paramilitar fundamentalista islâmica, criada no Irã e presente no Líbano).

O Irã então apreendeu um navio comercial com ligações a Israel na manhã de sábado (13/4), mas analistas já afirmavam que era pouco provável que Teerã considerasse esta uma "resposta apropriada" aos últimos atos de Israel.

O especialista israelense Raz Zimmt, pesquisador sênior do Instituto de Segurança Nacional em Tel Aviv, alertou que o Irã agiria com força. "A paciência dos iranianos esgotou-se diante dos reveses atribuídos a Israel", disse o pesquisador em rede social.

Origem da Rivalidade

Israel e Irã estão há anos em uma rivalidade sangrenta que virou uma das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio e cuja intensidade varia de acordo com o momento geopolítico.

As relações entre Israel e o Irã foram bastante cordiais até 1979, quando a chamada Revolução Islâmica dos aiatolás conquistou o poder em Teerã.

E embora tenha se oposto ao plano de fatiamento da Palestina que resultou na criação do Estado de Israel em 1948, o Irã foi o segundo país islâmico a reconhecer Israel, depois do Egito.

O Irã era uma monarquia na qual reinavam os xás da dinastia Pahlavi e um dos principais aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Assim, o fundador de Israel e seu primeiro chefe de governo, David Ben-Gurion, procurou e conseguiu a amizade iraniana como forma de combater a rejeição do novo Estado judeu de seus vizinhos árabes.

Mas a Revolução de Ruhollah Khomeini, em 1979, derrubou o xá e impôs uma república islâmica que se apresentava como defensora dos oprimidos e tinha como principais marcas a rejeição ao "imperialismo" americano e a Israel.

Teerã então passou a considerar que Israel não tem o direito de existir.

Os governantes iranianos consideram o país o "pequeno Satanás", o aliado no Oriente Médio dos Estados Unidos, que chamam de "grande Satanás".

Já Israel acusa o Irã de "financiar grupos terroristas" e de realizar ataques contra seus interesses, movidos pelo antissemitismo dos aiatolás.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

BBC
BBC Geral
postado em 15/04/2024 18:08 / atualizado em 15/04/2024 20:15
x