Donald Trump vai comparecer nesta segunda-feira (15/4) perante um tribunal de Nova York — e vai se tornar o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser julgado em um processo criminal.
Ele é acusado de falsificar registros financeiros empresariais para encobrir um pagamento clandestino feito à ex-atriz pornô Stormy Daniels, pouco antes das eleições de 2016.
Trump, de 77 anos, pode pegar no máximo quatro anos de prisão se for condenado, mas também pode ser punido apenas com uma multa.
Ele se declara inocente.
O julgamento histórico de Trump terá como pano de fundo a campanha presidencial deste ano — e pode, em última análise, acabar com o provável candidato republicano se tornando condenado em julgamento criminal meses antes de os eleitores irem às urnas em novembro.
"É algo sem precedentes", afirma Alex Keyssar, professor de história e políticas públicas na Kennedy School da Universidade de Harvard, nos EUA. "Não houve nada remotamente comparável a isso."
O julgamento, que vai começar com a seleção do júri nesta segunda-feira, deve durar de seis a oito semanas — e vai girar em torno do reembolso que Trump fez ao seu então advogado Michael Cohen pelo suposto pagamento feito a Stormy Daniels.
Cohen, de 57 anos, afirma que foi instruído a pagar US$ 130 mil à ex-atriz pornô em troca de seu silêncio sobre um suposto affair que ela teve com Trump, algo que os promotores descreveram como uma tentativa de "influenciar ilegalmente" as eleições de 2016.
Pagar para comprar o silêncio de alguém não é ilegal. Mas o Gabinete do Procurador Distrital de Manhattan alega que Trump cometeu um crime ao registrar indevidamente o reembolso feito a Cohen como uma despesa jurídica.
No total, ele é acusado de 34 crimes de falsificação em primeiro grau de registros financeiros empresariais. Para chegar a um veredicto, todos os 12 jurados devem concordar se Trump é culpado ou inocente de uma acusação específica.
A expectativa é de que o julgamento em Manhattan conte com depoimentos do elenco singular que está no cerne do processo, incluindo Stormy Daniels e Michael Cohen, que foi preso em parte por causa do escândalo.
Os especialistas estão divididos em relação à força do caso da promotoria, que envolve uma abordagem jurídica mais inovadora para apresentar acusações criminais sobre a falsificação de registros financeiros.
Trump fez várias tentativas fracassadas de postergar o julgamento e transferi-lo de Manhattan, que é composto predominantemente por democratas.
Suas declarações inflamadas sobre o caso, que ele descreveu repetidamente como tendo motivação política, levaram o juiz a impor uma ordem de silêncio que o proíbe de fazer comentários públicos sobre pessoas relacionadas com o caso, incluindo testemunhas.
A ordem foi ampliada depois que Trump dirigiu seus ataques online à filha do juiz, chamando-a de "Hater raivosa de Trump".
A campanha de Trump afirmou, por sua vez, que a ordem de silêncio era inconstitucional e violava seus direitos de liberdade de expressão.
Este processo criminal é apenas um dos quatro que Trump vai enfrentar neste ano. Mas pode ser o único julgamento a ocorrer antes da revanche eleitoral de 2024 com o atual presidente, Joe Biden.
Como réu primário, mesmo que Trump seja condenado, os especialistas dizem que é improvável que ele vá para a prisão. Mesmo que acabasse indo, segundo a lei dos EUA, ele ainda poderia servir como presidente.
Mas a sua condenação marcaria a primeira vez que um criminoso concorre à presidência como candidato de um partido importante, destaca Alex Keyssar.
"O que é notável nisso é que não parece incomodar uma parte significativa do eleitorado", acrescenta o professor de Harvard, observando que a popularidade de Trump não foi abalada como resultado das acusações criminais.
Mas o potencial drama judicial vai colocá-lo no centro do noticiário a poucos meses das eleições.
E essa atenção redobrada significa que qualquer notícia vinda do tribunal, por menor que seja — boa ou ruim para Trump — pode desempenhar um papel na disputa eleitoral entre o ex e o atual presidente, segundo Hans Noel, professor de governança da Universidade de Georgetown, nos EUA.
"Acho que esta vai ser uma eleição bastante acirrada", diz ele.
"E, por isso, qualquer coisa pequena pode ter importância".
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