Aconteceu durante o Eid Al Fitr, o feriado que marca o fim do Ramadã — mês sagrado e de jejum para os muçulmanos. Um drone bombardeou o carro em que viajavam Amir Haniyeh, Mohammed Haniyeh e Hazem Haniyeh, filhos de Ismail Haniyeh, líder máximo do movimento fundamentalista islâmico Hamas, no campo de refugiados de Al Shati, no norte da Faixa de Gaza. Além dos três filhos, pelo menos quatro netos morreram no ataque aéreo. Ismail Haniyeh recebeu a notícia enquanto visitava palestinos feridos internados em um hospital de Doha, no Catar.
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Um vídeo divulgado pela rede de tevê Al-Jazeera mostra o chefe do Hamas balançando a cabeça ao ser informado sobre as mortes. "Que Deus tenha piedade deles", respondeu, antes de prosseguir com a visita. "O sangue dos meus filhos não é mais valioso do que o sangue dos filhos do povo palestino… Todos os mártires da Palestina são meus filhos", declarou, pouco depois, em entrevista à mesma emissora.
Ismail Haniyeh descartou que a execução dos filhos e netos interferirá no curso das negociações de cessar-fogo na Faixa de Gaza. "Se eles (israelenses) acham que atacar os meus filhos no auge dessas conversações, antes da resposta do movimento (Hamas) for apresentada, fará o Hamas mudar suas posições, estão iludidos", assegurou. "Louvado seja Alá que me honrou com o martírio de três de meus filhos, junto com vários de seus filhos, para uni-los ao grupo de mártires da família, cujo número chega a 60. Sim, com o sangue dos mártires, as feridas e a dor, criamos esperanças, liberdade e independência para nosso povo, nossa causa e nossa nação."
Além de Amir, de Mohammed e de Hazem, Ismail tem 10 filhos. Também nesta quarta-feira (10/4), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve o tom crítico em relação à guerra na Faixa de Gaza. O democrata acusou Israel de não permitir a entrada de ajuda humanitária necessária no enclave palestino para atender à população civil. Depois de um telefonema tenso com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, Biden disse que a quantidade de donativos "não é suficiente".
Em nota conjunta com a Agência de Segurança Israelense, as IDF confirmaram que eliminaram três agentes militares do Hamas no centro da Faixa de Gaza. "Uma aeronave da Força Aérea Israelense atingiu o trio de agentes que realizavam atividade terrorista", afirmou o comunicado. "Os três (...) são Amir Haniyeh, comandante de uma célula da ala militar do Hamas; Mohammad Haniyeh e Hazem Haniyeh, dois agentes militares da organização terrorista", afirma. "As IDF confirmam que os três são filhos de Ismail Haniyeh, chefe do comitê político do Hamas."
O chefe do Hamas relatou que os filhos visitavam familiares para as celebrações do Eid Al Fitr quando foram surpreendidos pelo ataque. "Não há dúvida de que esse inimigo criminoso é movido pelo espírito de vingança, de assassinato e de derramamento de sangue, e não observa quaisquer padrões ou leis", disse Ismail. "Este derramamento de sangue nos tornará ainda mais firmes em nossos princípios", prometeu. Ismail disse que Netanyahu está sob pressão dos EUA e decidiu usar "todas as outras ferramentas sujas".
Apelo à ONU
Para Ali Barakeh, chefe do Departamento de Relações Nacionais do Hamas e um dos líderes do grupo no exílio, em Beirute (Líbano), Netanyahu deseja prosseguir com a guerra. "Ele tem escalado sua agressão contra o povo palestino na Faixa de Gaza, rejeita um cessar-fogo e insiste em lançar nova ofensiva sobre a cidade de Rafah. Netanyahu ainda deseja derramar o sangue dos civis inocentes. Já são mais de 30 mil mortos. Pedimos ao Conselho de Segurança da ONU para que imponha o cessar-fogo e levante o bloqueio à Faixa de Gaza", afirmou ao Correio, por meio do WhatsApp.
Diretor do Programa Reinhard sobre Contraterrorismo e Inteligência e especialista do The Washington Institute for Near East Policy (em Washington DC), Matthew Levitt disse ao Correio que não acredita que Ismail Haniyeh esteja surpreso com as execuções dos três filhos. "Não está claro se Amir, Mohammad e Hazen foram especificamente alvejados ou se acabaram atingidos por serem agentes do Hamas e terem sido localizados. Nesse caso, serem filhos de Haniyeh teria sido uma coincidência. "De qualquer forma, não vejo isso como um fator-chave nas negociações. O Hamas tem exigências pendentes (e irrealistas), e são elas que estão atrasando o progresso rumo a uma troca de reféns por prisioneiros, segundo autoridades norte-americanas."
Em meio às críticas e à pressão de Biden, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, anunciou que o número diário de caminhões com ajuda humanitária que receberão permissão para entrar na Faixa de Gaza aumentará de 200 para 500.
DUAS PERGUNTAS PARA
ALI BARAKEH, chefe do Departamento de Relações Nacionais do Hamas e um dos líderes do grupo no exílio
Como vê as mortes dos filhos de Haniyeh?
Essa operação é um crime de guerra contra a humanidade, porque alvejou civis acompanhados de seus filhos, que viajavam para congratular pelo Eid Al Fitr com familiares e amigos. Os filhos de Haniyeh são os filhos do povo palestino. Oinimigo não faz distinção entre um palestino e outro. Tem como alvo todos e continua a guerra de genocídio e a de fome contra o nosso povo, sitiado na Faixa de Gaza.
Esse ataque pode prejudicar os esforços rumo ao cessar-fogo?
Este crime visa colocar mais pressão sobre a liderança do movimento Hamas para que faça concessões nas negociações. Afirmamos que este crime não nos intimidará, não nos obrigará a render-nos ou a recuar.Não aceitaremos uma trégua temporária e a permanência do exército de ocupação na Faixa de Gaza. (RC)
EU ACHO...
"A declaração de Biden sobre a insuficiência de ajuda à Faixa de Gaza foi gravada no dia do ataque aos funcionários humanitários da World Central Kitchen (WCK). Desde então, ele deu passos atrás e chegou a elogiar o reposicionamento de tropas israelenses, o aumento da entrada de ajuda em Gaza e a posição de Israel em relação à troca de prisioneiros por reféns. Também apelou a uma maior pressão sobre o Hamas, que se mostra intransigente."
Matthew Levitt, diretor do Programa Reinhard sobre Contraterrorismo e Inteligência e especialista do The Washington Institute for Near East Policy (em Washington DC)
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