O Vaticano reiterou na segunda-feira (8/4) sua oposição à cirurgia de redesignação sexual, à ideologia de gênero, à barriga de aluguel, ao aborto e à eutanásia em um documento chamado Dignitas Infinita ("Dignidade Infinita").
Outros temas, como a pobreza, a migração e o tráfico de seres humanos, também são citados como sendo potenciais ameaças à dignidade humana.
O texto foi assinado pelo papa Francisco.
O pontífice tem sido frequentemente criticado por católicos conservadores devido à sua aparente posição liberal. Alguns o acusam de afastar demais a Igreja Católica de algumas doutrinas tradicionais.
Já para alguns liberais, ele não faz o suficiente para encorajar a Igreja a evoluir por meio de medidas tangíveis nestas questões.
Em outras questões, o papa Francisco tem deixado pouco espaço para dúvidas sobre sua posição. Parte da sua linguagem mais contundente sobre a doutrina foi reservada para dois tópicos tratados no novo documento que ele aprovou.
Ele já havia classificado a prática da barriga de aluguel como “desprezível” e a chamada ideologia de gênero — linha de pensamento que desafia a ideia de que a sexualidade humana é determinada pela biologia — como “uma ideologia feia”.
Agora, a declaração Dignitas Infinita chama o aborto de uma “crise extremamente perigosa do senso moral” e afirma que a barriga de aluguel é uma “violação” tanto para a mulher, como para a criança.
Destaca também que o sexo atribuído a uma pessoa ao nascer é uma dádiva — e qualquer tentativa de mudá-lo corre o risco de cair “na tentação de se fazer de Deus”.
A exploração dos pobres, dos migrantes e das mulheres também é descrita no documento como uma afronta à dignidade humana.
Progressista ou conservador?
Aos 87 anos, o papa Francisco continua mostrando que dizer que ele é “progressista” ou “conservador” é simplista demais.
Em uma autobiografia publicada no mês passado, ele afirmou que não tinha intenção de se aposentar — e planejava permanecer no cargo, que ocupa desde 2013, pelo resto da vida.
Ao mesmo tempo em que o papa demonstrou uma posição mais conservadora sobre alguns assuntos no documento Dignitas Infinita, nos últimos anos ele tomou atitudes que animaram os progressistas.
Em 2023, o papa Francisco disse que as pessoas trans poderiam ser batizadas na Igreja Católica, desde que isso não causasse escândalo ou “confusão”.
Ele também permitiu que os padres abençoassem casais do mesmo sexo sob certas circunstâncias, embora o Vaticano tenha dito que continuava a ver o casamento como uma união entre um homem e uma mulher.
No ano passado, o pontífice orientou o poderoso Gabinete Doutrinário do Vaticano e o cardeal Victor Manuel Fernández, que está à frente do gabinete, a olhar para as complexidades das “novas questões” que as pessoas enfrentam no mundo hoje.
O cardeal Fernández, de quem o papa é próximo, foi criticado por um livro que escreveu e publicou no final da década de 1990. O livro discute detalhadamente a sexualidade humana.
Sem dúvida, em questões como a união de pessoas do mesmo sexo e o papel das mulheres na Igreja, o papa parece adotar um tom liberal, com potencial para algumas mudanças práticas a caminho.
- 'Desmasculinizar a igreja': as mulheres convidadas pelo Papa Francisco para reunião de cardeais
- Papa Francisco: A guerra subterrânea entre conservadores e progressistas na Igreja Católica
- Por que decisão da Igreja Católica de abençoar casais gays não deve ser passo para reconhecer casamento homoafetivo
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br