O Irã prometeu responder ao ataque aéreo de segunda-feira (1/4) ao seu consulado em Damasco, na Síria – mas que capacidade o país tem para atacar Israel e como poderia ser essa retaliação?
Treze pessoas foram mortas, incluindo o brigadeiro-general Mohammad Reza Zahedi, uma figura importante da força Quds, o ramo estrangeiro da elite da Guarda Republicana do Irã. Israel não reivindicou o ataque.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "perdeu completamente o equilíbrio mental", disse o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, citado no site de seu ministério.
Para Fawaz Gerges, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, a escalada de violência foi concebida para mostrar ao mundo que o Irã é um "tigre de papel".
O ataque também provocou uma perda significativa para a força Quds, "que na verdade se destina à coordenação e à transferência de armas e tecnologia para o Hezbollah no Líbano e na Síria".
O braço militar do Hamas, as brigadas Qassam, disse que Zahedi teve um "papel proeminente" nos ataques do Hamas de 7 de outubro ao sul de Israel, que desencadearam a atual guerra em Gaza que ameaça se alastrar. O Irã negou ter participado no ataque, mas apoia o Hamas com financiamento, armas e treino.
No entanto, as opções de retaliação do Irã pelo ataque a Damasco podem ser limitadas, disseram Gerges e outros especialistas ouvidos pela BBC.
"O Irã não é capaz de um grande confronto com Israel, dadas as suas capacidades militares e a sua situação econômica e política", disse Ali Sadrzadeh, autor e analista de assuntos do Oriente Médio. "Mas terá de encontrar uma resposta para o seu público interno e proteger a sua reputação entre os seus aliados regionais."
Gerges também disse que é pouco provável que o Irã faça uma retaliação direta contra Israel, "apesar de Israel ter realmente humilhado o Irã".
Em vez disso, o Irã provavelmente terá de exercer "paciência estratégica" para dar prioridade a um objetivo mais importante: fabricar uma bomba nuclear.
"O Irã está acumulando poder, enriquecendo urânio e fazendo progressos. E o grande prêmio para o Irã não é enviar 50 mísseis balísticos e matar 100 israelenses, mas estabelecer uma dissuasão estratégica, não só contra os israelenses, mas contra os EUA."
E o Hezbollah?
Desde que a campanha de Israel em Gaza começou, os ataques de mísseis e drones por milícias apoiadas pelo Irã na Síria, no Iraque, no Líbano e no Iêmen contra os interesses de Israel aumentaram, mas parecem ter limitado as suas ações para não provocarem Israel em uma guerra em grande escala.
"É difícil imaginar até mesmo um ataque contra uma missão diplomática israelense por forças 'por procuração' do Irã", disse Sadrzadeh.
No entanto, ele acredita que os atuais ataques da milícia Houthi apoiada pelo Irã contra navios no Mar Vermelho e no Golfo de Aden "muito provavelmente continuarão, especialmente contra navios que estão de alguma forma ligados a Israel ou aos EUA".
O Hezbollah é uma das forças militares não estatais mais fortemente armadas do mundo — estimativas independentes sugerem que o grupo tem entre 20 mil e 50 mil combatentes, e muitos são bem treinados e experientes por conta de sua participação na guerra civil síria.
O grupo libanês apoiado pelo Irã tem um arsenal de cerca de 130 mil foguetes e mísseis, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
No entanto, os especialistas com quem a BBC conversou consideraram improvável que o grupo lance uma grande ofensiva contra Israel.
"O Hezbollah não quer cair na armadilha de Israel porque percebe que Benjamin Netanyahu e o seu gabinete de guerra estão tentando desesperadamente expandir a guerra", disse Gerges.
"O futuro político de Benjamin Netanyahu depende da continuação da guerra em Gaza e da sua escalada nas frentes do norte com o Hezbollah e até mesmo com o próprio Irã."
Uma reação simbólica?
Sadrzadeh acredita que o Irã provavelmente terá uma reação "simbólica" em vez de arriscar uma guerra direta com Israel.
"O Irã é especialista na realização de ataques simbólicos como aquele em resposta ao assassinato do seu mais importante comandante militar, Qasem Soleimani", disse Sadrzadeh, referindo-se a um ataque com mísseis balísticos do Irã contra uma base aérea iraquiana onde estavam tropas americanas, uma semana depois de os EUA terem assassinado o general iraniano em Bagdá.
Apesar da promessa do Irã de "vingança severa", nenhum militar dos EUA na base foi morto e houve relatos de que os militares dos EUA tinham sido avisados com antecedência sobre os mísseis.
Yousof Azizi, da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Virginia Tech, nos EUA, acredita que haverá uma luta nos bastidores no Irã entre aqueles que argumentam que o país deveria tentar se estabelecer como uma potência nuclear para impedir a agressão israelense e figuras mais agressivas que sugerem ataques diretos a Israel e às suas instalações militares.
Mas ele disse à BBC que uma análise de entrevistas à mídia estatal e de contas importantes nas redes sociais indica que a política de "paciência estratégica" provavelmente prevalecerá.
Quais outros caminhos estão abertos aos iranianos?
"Não podemos excluir que talvez o Irã possa usar o ciberespaço como outra dimensão para se vingar de Israel, seja para realizar ataques cibernéticos à tecnologia da informação, para paralisar, para roubar, para vazar informações, ou para tentar distrair", diz Tal Pavel, do Instituto Israelense de Estudos de Política Cibernética, à BBC.
"Sabemos que durante a última década e meia, há uma guerra cibernética clandestina em curso entre o Irã e Israel. Portanto, neste caso, pode ser apenas mais uma etapa disso", disse ele.
Caberá ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, decidir quais as medidas que Teerã irá tomar.
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