Em meio a protestos e algumas prisões, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi reeleito pela quinta vez com 87,97% dos votos — quando 24% das seções tinham sido apuradas. No poder desde o fim de 1999, ele poderá ficar no cargo por mais tempo que Josef Stalin, um dos ícones do pensamento comunista, que governou a União Soviética por 28 anos e 11 meses. Aos 71 anos, Putin garantiu sua posição até 2030, podendo ser reeleito e manter-se como chefe do Kremlin até 2036, graças a uma mudança na constituição aprovada em plebiscito.
Com pelo menos 87,97% de aprovação, Putin obteve um recorde. Nas eleições anteriores, ele havia conquistado entre 64% e 68%. Ignorando a pressão internacional, a cobrança por respeito e preservação dos direitos humanos e neutralizando os adversários, o líder segue imbatível.
Após a confirmação da vitória, Putin agradeceu os votos, prometeu uma Rússia inada mais forte e disse que o país não será "intimidado" nem "suprimido". "Nunca ninguém conseguiu fazer isso na história. Isso não funcionou hoje e não funcionará no futuro. Nunca", afirmou ele em declaração reproduzida pelas emissoras de televisão.
Na Alemanha, Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, principal opositor de Putin, encontrado morto em uma prisão, no Ártico, em condições não esclarecidas, um mês antes das eleições, votou na embaixada russa e obteve apoio dos simpatizantes. Ela, que, no começo do mês, conclamou os russos para que se manifestassem, escreveu o nome do marido na cédula como forma de protesto.
Em vários países, houve filas em frente às embaixadas russas em protesto. Em Paris e Berlim, russos que vivem no exílio protestaram. Leonid Volkov, um colaborador próximo a Navalny, agradeceu àqueles que manifestaram sua oposição. "O mundo te viu. A Rússia não é Putin, a Rússia é você", escreveu no X.
Porém, Putin também obteve apoio. "O que queremos hoje, acima de tudo, é a paz", disse Liubov Piankova, um aposentado, de 80 anos, que votou em São Petersburgo, cidade natal do presidente. Assim, ele se consagra como um líder longevo, que demonstra não se importar sanções ocidentais, nem com o fato de o Tribunal Penal Internacional (TPI), que o acusa de deportar crianças ucranianas. Segundo ele, sua missão é "construir um mundo novo".
Homenagens
No túmulo de Navalny, em Moscou, os jornalistas da AFP afirmam ter visto cédulas eleitorais com o nome do falecido, colocadas sobre uma pilha de flores. Navalny, que promoveu grandes protestos e que, antes de morrer, convocou manifestações para ontem, último dia de votação, tentou concorrer às eleições presidenciais de 2018, mas a sua candidatura foi rejeitada.
"Vivemos em um país em que vamos para a cadeia se dissermos o que pensamos. É por isso que quando me encontro em momentos como esse e vejo muita gente, percebo que não estamos sozinhos", disse Regina, 33 anos. De forma geral, ações da oposição foram calmas, mas a ONG especializada OVD-Info relatou pelo menos 74 detenções por diversas formas de protesto eleitoral.
Reações
Após a divulgação da apuração parcial, o governo da Polônia declarou que a eleição não é legal. "A eleição presidencial russa não é legal, livre e justa", informou em nota o Ministério das Relações Exteriores, acrescentando que a votação ocorreu sob "duras repressões" e nas partes ocupadas da Ucrânia, violando o direito internacional.
O líder ucraniano Volodimir Zelensky afirmou ontem que Putin está "embriagado pelo poder" e quer "reinar eternamente". "É claro para qualquer pessoa no mundo que esta pessoa, como frequentemente acontece na história, está embriagada pelo poder e quer governar eternamente. Não há maldade que ele não cometa para prolongar seu poder pessoal", acrescentou Zelensky em uma publicação feita nas redes sociais.
O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, lamentou a falta de eleições "livres e justas" na Rússia. Em uma mensagem no X, Cameron denunciou "a organização ilegal de eleições no território ucraniano, e a falta de opções para os eleitores", além da "ausência de controle independente da OSCE", a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.