eleições na Rússia

Protestos marcam eleições presidenciais na Rússia

No poder há 24 anos, Vladimir Putin, de 71, enfrenta mais uma vez as urnas, agora com eleitores combativos. Sem adversários, a vitória é dada como certa. Será o quinto mandato dele cercado por polêmicas

O penúltimo dia de eleições presidenciais na Rússia foi marcado por intensos protestos e algumas prisões de opositores de Vladimir Putin, de 71 anos, que busca seu quinto mandato. O atual presidente concorre sem oposição, após a exclusão de dois candidatos que são contra o conflito na Ucrânia e aproximadamente um mês depois da morte do seu principal adversário, Alexei Navalny, numa penitenciária, no Ártico, em circunstâncias não explicadas.

Putin está no comando da Rússia desde o último dia de 1999 e disposto a estender o mandato, pelo menos, até 2030. Se completar mais seis anos à frente do Kremlin, será o líder russo mais antigo desde Catarina, a Grande, que governou durante 34 anos no final do século 18. 

Duas mulheres russas foram presas, uma na cidade de Ecaterimburgo, no centro do país, e outra em Kaliningrado, a oeste. As duas foram acusadas de jogar tinta verde nas cédulas, uma referência a um antisséptico cirúrgico lançado contra opositores russos, entre eles Navalny. Pelo menos 13 pessoas foram detidas por atos de vandalismo nos locais de votação, informaram as autoridades, sem especificar as motivações dos autores.

O Kremlin apresentou as eleições como uma oportunidade para os russos mostrarem seu apoio à campanha militar na Ucrânia, onde a votação é realizada nos territórios ocupados. No entanto, o primeiro dia de votação, na sexta-feira, foi palco de atos de vandalismo nos colégios eleitorais, com uma onda de detenções de russos.

O partido no poder, Rússia Unida, que apoia incondicionalmente Putin, denunciou um ataque cibernético em grande escala contra o seu site. O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) também anunciou uma série de prisões de russos suspeitos de apoiar as forças ucranianas ou de planejar atos de sabotagem em instalações militares e de transporte.

Nas últimas semanas, os ataques ucranianos na Rússia atingiram muito além das regiões de fronteiras, tendo como alvo instalações petrolíferas no interior do território. O governador da região de Samara, a cerca de mil quilômetros da divisa com a Ucrânia, afirmou, ontem, que drones atacaram duas refinarias de petróleo, provocando um incêndio em uma delas. Uma fonte da Defesa em Kiev disse à AFP que o ataque foi planejado pelos serviços de segurança ucranianos (SBU) como parte de uma "estratégia para prejudicar o potencial econômico da Rússia". Putin afirmou que os atentados com drones, que se multiplicaram nos últimos dias, "não ficarão impunes". Para ele, essas ações constituem "uma tentativa da Ucrânia de interferir nas eleições presidenciais", reforçou.

Mais Lidas

Sob o clima de guerra há 2 anos

A Rússia denunciou, ontem, novas investidas da Ucrânia e a morte de duas pessoas em um ataque contra uma região de fronteira, no segundo dia de eleição. A escolha presidencial, que termina hoje, coincidiu com o aumento dos bombardeios ucranianos e uma série de incursões de grupos pró-Ucrânia no país.

O Ministério da Defesa russo afirmou que "os ataques foram repelidos, e as tentativas de invasão do território da Federação Russa por grupos ucranianos de sabotagem e reconhecimento foram frustradas". O presidente Vladimir Putin prometeu uma resposta aos ataques de sexta-feira e acusou Kiev de tentar "perturbar" a sua corrida para outro mandato de seis anos.

Ontem, o governador da região de Belgorod declarou que os sistemas de defesa aérea derrubaram oito mísseis ucranianos, mas dois moradores morreram, e duas pessoas ficaram feridas.

"Um homem dirigia um caminhão quando foi atingido por um projétil. Uma mulher morreu em um estacionamento onde ela e o filho alimentavam cães. Os médicos estão lutando pela vida do filho", escreveu Viacheslav Gladkov nas redes sociais.

Imagens não verificadas do ataque circulam nas redes sociais mostrando uma grande explosão que destruiu um carro. O governador informou que escolas e centros comerciais de Belgorod e outros distritos da região permanecerão fechados nos próximos dias.

As autoridades de ocupação na região de Kherson, no sul da Ucrânia, disseram que um ataque com drones ucranianos matou uma pessoa e feriu quatro. Putin afirmou, na sexta-feira, que os ataques das forças ucranianas "não ficarão impunes".

Outro lado

Na sexta-feira, pelo menos 20 pessoas morreram, e mais de 70 ficaram feridas em investidas russas contra Odessa, grande cidade portuária no sul da Ucrânia, às margens do Mar Negro, atacada duas vezes nos últimos dias. O presidente Volodimir Zelensky denunciou o "ataque infame" realizado com dois mísseis. O segundo atingiu "no momento em que os socorristas e médicos chegavam ao local".

A  guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos em fevereiro. O conflito gerou, segundo estimativas da Inteligência norte-americana, 406 mil soldados russos perdidos — entre mortos, feridos e desaparecidos — e 383 mil militares ucranianos.

Navalny

Morto em 16 de fevereiro, em circunstâncias não esclarecidas, aos 47 anos, em uma prisão do Ártico onde cumpria uma pena de 19 anos, Alexei Navalny era o principal opositor de Vladimir Putin. Após sua morte, milhares de pessoas prestaram homenagens, mesmo sob o risco de punição do governo russo. A morte do detrator, que em 2020 sobreviveu a um envenenamento e estava preso desde 2021, agrava a situação da oposição russa, reduzida pela repressão intensificada após o início da ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022. No início desse mês, Yulia Navalnaya, viúva do detrator, convocou os russos a protestar contra Vladimir Putin em 17 de março, hoje, último dia das eleições. "Podem votar em qualquer candidato, exceto Putin. Você pode estragar sua cédula. Você pode escrever 'Navalny' em letras grandes", disse a viúva, atualmente no exílio.