Portugal

Evangélicos brasileiros mostram força nas eleições de Portugal

Os grupos evangélicos apoiaram, inclusive com dinheiro, o partido Alternativa Democrática Cristã (ADN) a registrar o maior crescimento proporcional nas eleições

Lisboa — Os evangélicos brasileiros, insuflados pelos pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano, inclusive com apoio financeiro, tiveram papel preponderante para que um partido nanico, a Alternativa Democrática Cristã (ADN), registrasse o maior crescimento proporcional nas eleições do último domingo em Portugal. A legenda de extrema-direita e negacionista, fundada em 2015, registrou quase 100 mil votos, contra minguados 10 mil em 2022.

Às vésperas de os portugueses irem às urnas, Feliciano publicou um vídeo pedindo votos para a ADN. "Atenção, portugueses, na paz do senhor. Aqui quem fala é o pastor e também deputado federal do Brasil, Marcos Feliciano. Eu quero chamar a atenção de todas as lideranças evangélicas de Portugal, bem como de todos os cristãos, para que, no próximo dia 10 de março, dia de eleições em Portugal, apoiem e votem na ADN", conclamou.

Parte do comando desse partido tem ligações com o Chega, do ultradireitista André Ventura, hoje, a terceira força política de Portugal. Além do presidente da legenda, Bruno Fialho, há a portuguesa Lucinda Ribeiro, que foi responsável pela montagem de toda a estratégia de comunicação do Chega, em 2019, quando o partido nasceu. À época, ela chegou a comandar mais de 100 grupos nas redes sociais, voltadas, principalmente, para os evangélicos brasileiros. Em 2021, ela deixou o Chega alegando que a legenda tinha perdido a sua essência radical e estava ficando mais parecida com os tradicionais grupos políticos.

Avanço rápido

Para a Fernanda Sarkis, mestre em comunicação política, a estrutura montada em Portugal pela extrema-direita com o apoio dos evangélicos brasileiros está provocando uma mudança muito rápida na política portuguesa, movimento que as legendas tradicionais não estão conseguindo acompanhar. Ela ressalta que muitos têm atribuído o salto do ADN a uma confusão com a Aliança Democrática (AD), coligação liderada pelo PSD (Partido Social Democrata), que deve governar o país. "Mas eu atribuo a Malafaia e a Feliciano", enfatiza.

Sarkis diz mais: "O que me preocupa é como o PS (Partido Socialista) e o PSD vão se organizar e encontrar um projeto capaz de frear a escalada da extrema-direita. A minha percepção é a de que o PSD será o primeiro a ser comido". O Chega quadruplicou de tamanho no último domingo, passando de 12 para 48 deputados. A ADN, mesmo com 100 mil votos, não conseguiu fazer nenhum parlamentar, mas ganhou a atenção de todos, o que era o objetivo inicial do partido.

Portanto, acredita a estudiosa brasileira, que, com o marido, o sociólogo Marcus Nogueira, conseguiu mapear toda a movimentação de bolsonaristas nas redes sociais, é necessário que os políticos portugueses que prezam a democracia sejam ágeis. "É preciso ter a velocidade de reação que se vê no Brasil. Se não houver uma resistência forte, em pouco tempo, Portugal terá uma nova reconfiguração política. E, em dois anos, André Ventura, do Chega, será eleito primeiro-ministro", frisa. 

 

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