A três dias das eleições presidenciais, nas quais deve ser reeleito por ampla maioria por ausência de adversários, Vladimir Putin lançou, ontem, uma provocação ao Ocidente, afirmando que a Rússia está preparada para uma guerra nuclear. Em longa entrevista à emissora de televisão estatal Rossiya 1 e à agência RIA Novosti, o chefe do Kremlin destacou que o arsenal do país é mais moderno e avançado que o dos Estados Unidos.
"Nossa tríade, a tríade nuclear, é mais moderna que qualquer outra. Apenas nós e os americanos temos essas tríades. E nós avançamos muito mais aqui", enfatizou o líder russo, referindo-se às três formas de disparar armas nucleares — por terra, mar e ar. Os países ocidentais acusam Putin de proferir ameaças veladas sobre um possível conflito nuclear, em particular na vizinha Ucrânia, invadida por Moscou há pouco mais de dois anos.
Em busca de seu quinto mandato presidencial, aos 71 anos, Vladimir Putin acrescentou que, apesar de pronto para o conflito, jamais cogitou utilizar armas nucleares contra a ex-república soviética. "Por que deveríamos utilizar meios de destruição em massa? Nunca houve tal necessidade", declarou. Destacou, contudo, que a doutrina militar russa prevê o uso de armas do tipo apenas se a existência do país estiver ameaçada ou no caso de "um ataque à nossa soberania e independência".
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Imprudência
As declarações do presidente russo repercutiram em Washington. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, observou que a retórica do Kremlin sobre armas nucleares tem sido "imprudente e irresponsável" desde a invasão à Ucrânia. "Não vemos nenhum motivo para ajustar nossa própria postura nuclear, nem nenhum sinal de que a Rússia estaria se preparando para utilizar uma arma nuclear na Ucrânia", afirmou.
Na entrevista, o presidente russo também reagiu pela primeira vez às declarações do presidente francês Emmanuel Macron, que, em 26 de fevereiro, afirmou "não descartar" o envio de tropas de países ocidentais à Ucrânia. Putin afirmou que isso não impactaria o conflito.
"Se falarmos de contingentes militares oficiais de países estrangeiros, tenho certeza de que não mudará a situação no campo de batalha. Essa é a coisa mais importante, assim como o fornecimento de armas não muda nada", opinou.
Putin também acusou a Ucrânia de intensificar os ataques em território russo para prejudicar as eleições presidenciais, que acontecerão entre amanhã e domingo. Kiev afirma que prosseguirá com a ofensiva enquanto o Exército russo ocupar seu território e bombardear as suas cidades. "O objetivo principal, não tenho dúvida, se não conseguirem prejudicar as eleições presidenciais na Rússia, é pelo menos tentar impedir de alguma forma que os cidadãos expressem sua vontade", ressaltou.
A Rússia está em uma posição de força no conflito desde o fracasso da contraofensiva ucraniana no verão (Hemisfério Norte, inverno no Brasil) de 2023. No entanto, não conseguiu derrotar a Ucrânia, dois anos após o início da guerra. Ao mesmo tempo, o território russo é alvo de ataques recorrentes de drones, fogo de artilharia e, em alguns poucos casos, de ataques terrestres.
Na última terça-feira, combatentes russos pró-Ucrânia relataram ter atravessado a fronteira em uma incursão armada que terminou com uma pessoa morta. O Kremlin afirmou que impediu uma invasão. Os combatentes anunciaram ter assumido o controle da localidade Tiotkino, na região de Kursk.
Saiba Mais
Ataque a opositor
Aliado de Alexei Navalny, o opositor russo Leonid Volkov sofreu um ataque violento diante de sua residência em Vilnius, capital da Lituânia, país onde se exilou há cinco anos. Hospitalizado, o dissidente afirmou que um homem o agrediu "quase 15 vezes" com um objeto contundente e que sofreu uma fratura no braço. "Queriam me transformar em milanesa", escreveu o ativista no Telegram, em uma mensagem de celebração por ainda estar "com vida".
Aos 43 anos, Volkov é uma das figuras mais proeminentes da oposição russa. Até o ano passado, ele presidiu a fundação anticorrupção fundada por Navalny, principal opositor do líder russo, Vladimir Putin. Segundo Kira Yarmish, ex-porta-voz do ativista, morto numa penitenciária do Ártico há quase um mês, Volkov foi atacado no carro "diante de sua casa", na noite de terça-feira.
"Alguém quebrou o vidro de um carro e jogou gás lacrimogêneo em seus olhos, e então o agressor começou a golpear Leonid com um martelo", escreveu Yarmish na rede social X.
"As notícias sobre a agressão a Leonid são chocantes. As autoridades competentes estão trabalhando. Os autores terão que responder por seu crime", declarou o chanceler da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, na mesma rede social. Membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Lituânia abriga muitos exilados russos e tem apoiado firmemente a Ucrânia durante a invasão da Rússia.
Os aliados de Navalny compartilharam fotos mostrando os ferimentos de Volkov, incluindo um olho roxo e sangue na perna. Posteriormente, publicaram uma imagem do russo sendo levado em uma maca para uma ambulância.
O porta-voz da polícia lituana, Ramunas Matonis, confirmou à agência de notícias France Presse (AFP) que um cidadão russo foi atacado em frente à sua casa em Vilnius por volta das 22h (17h de Brasília), mas assinalou não ter sido possível identificar nenhum suspeito.
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