Um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propor a construção de um porto temporário para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou a abertura de um corredor marinho a partir do Chipre. Sem divulgar detalhes, ela afirmou que a operação piloto deve ocorrer amanhã, no início do feriado religioso Ramadã, e que os Emirados Árabes Unidos ajudarão na empreitada, "assegurando o primeiro de muitos envios de mercadorias à população de Gaza".
Em um cenário de trégua cada vez mais distante, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome e defende que alternativas ao abastecimento por terra devem ser consideradas secundárias. "A diversificação das rotas de abastecimento por terra continua sendo a melhor solução", afirmou Sigrid Kaag, coordenadora da ajuda da ONU para Gaza.
Há uma semana, países como Estados Unidos, Jordânia e França começaram a lançar alimentos por avião, diante do cerco terrestre de Israel ao enclave palestino. Ontem, durante a entrega aérea de ajuda humanitária, cinco pessoas teriam morrido e 10 ficado feridas, segundo informações da equipe médica do Hospital Al Shifa. O suposto acidente, negado pelo Pentágono, ocorreu no campo de refugiados de Al Shati, perto da costa.
"Foguete"
"Quando os aviões começaram a lançar a carga, eu e meu irmão nos dirigimos para a área com a esperança de recuperar um saco de farinha", contou à agência France Presse (AFP) Mohamed al Goul, 50 anos, morador do campo de refugiados. "Mas o paraquedas não se abriu e a carga caiu como um foguete sobre o teto de uma das casas", disse. O Pentágono afirmou que o relato é falso, assinalando que todos os pacotes chegaram em segurança.
Na quinta-feira à noite, no discurso anual ao Congresso, Joe Biden informou que o Exército norte-americano tem a missão de "estabelecer um cais provisório no Mediterrâneo, na costa de Gaza, que possa receber grandes carregamentos de alimentos, água, medicamentos e abrigos temporários". O governo dos Estados Unidos tem pressionado cada vez mais seu aliado Israel. Ontem, Biden afirmou que o premiê Benjamin Netanyahu deve permitir que mais ajuda chegue ao território palestino, depois de flagrado com o microfone aberto, dizendo que confrontaria o israelense pelo conflito.
Segundo o porta-voz da diplomacia de Israel, Lior Haiat, o país "recebeu com satisfação o plano que permitirá aumentar a ajuda humanitária após um controle de segurança, de acordo com as normas israelenses". A construção do cais provisório no Chipre vai demorar várias semanas e não inclui o envio de soldados norte-americanos ao território, segundo assegurou a Casa Branca.
Desnutrição
O Ministério da Saúde em Gaza, governado pelo Hamas desde 2007, afirmou que pelo menos 20 civis — a maioria crianças — morreram, vítimas de desnutrição e desidratação nos últimos dias. A situação é especialmente crítica no norte do enclave, onde a distribuição de ajuda por terra é quase impossível devido aos combates, à destruição e aos saques.
O conflito entre Israel e o Hamas em Gaza eclodiu depois que combatentes do movimento atacaram o sul do país, em 7 de outubro do ano passado, e mataram 1.160 pessoas, de acordo com uma contagem da AFP, baseada em números oficiais israelenses. Até agora, a guerra deixou 30.878 mortos no território palestino, conforme os números do grupo extremista.
Nos 365 km² da Faixa de Gaza, vivem 2,4 milhões de pessoas. Israel mantém a região sob cerco total desde 9 de outubro, limitando a entrada de ajuda humanitária. No fim de fevereiro, mais de 100 palestinos morreram, quando soldados israelenses abriram fogo contra uma multidão que aguardava a entrega de alimentos.
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