ELEIÇÕES NOS EUA

4 pontos-chave de discurso de Biden no Estado da União, com tropeço, ataques a Trump e apelo por 2º mandato

O presidente americano adotou um tom inflamado, enquanto tentava traçar as linhas de batalha para o início de sua campanha à reeleição.

Biden fez na quinta-feira o último discurso do Estado da União de seu mandato -  (crédito: Reuters)
Biden fez na quinta-feira o último discurso do Estado da União de seu mandato - (crédito: Reuters)
Biden discursando
Reuters
Biden fez na quinta-feira o último discurso do Estado da União de seu mandato

O presidente americano, Joe Biden, proferiu na quinta-feira (7/3) um inflamado discurso do Estado da União — a mensagem anual do chefe de Estado ao Congresso.

Biden usou o termo “meu antecessor” para se referir a Trump 13 vezes, em um discurso que durou mais de uma hora.

Ele acusou seu provável adversário nas eleições presidenciais de novembro de “curvar-se” perante a Rússia — e criticou-o pela invasão do Capitólio no dia 6 janeiro de 2021.

Biden também falou sobre imigração, aborto, a situação da economia e a guerra em Gaza.

A atmosfera no plenário da Câmara dos Representantes, às vezes, era estridente, com fortes aplausos dos democratas e reações de protesto de alguns republicanos.

Foi um espetáculo mais típico de uma convenção política do que de um discurso do Estado da União — um relato anual sobre a situação do país, previsto na Constituição, que normalmente é carregado de pompa e diplomacia.

Mas este é um ano eleitoral, e havia muita coisa em jogo para Biden. Ele foi agressivo e conflituoso enquanto tentava traçar as linhas de batalha para o início de sua campanha.

A seguir, compartilhamos os principais temas do discurso.

1. Trump na mira

Biden discursando
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Não faltaram ataques a Trump no discurso

Como era de se esperar, muitas das suas farpas foram dirigidas a Trump, uma vez que é quase certo que ele será seu adversário nas eleições gerais de novembro.

“Meu antecessor falhou no dever mais básico que qualquer presidente deve ao povo americano — o dever de cuidar”, disse ele se referindo à forma como Trump lidou com a pandemia de covid-19.

"Isso é imperdoável."

Ele criticou Trump por seus comentários recentes sobre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — e disse que ele estava tentando “enterrar a verdade” sobre o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA.

Culpou o ex-presidente ainda pela decisão da Suprema Corte de anular a decisão Roe x Wade, que garantia o direito nacional ao aborto, e por obstruir a proposta de reforma migratória bipartidária.

Enquanto isso, Trump estava reagindo em tempo real ao discurso em sua plataforma Truth Social.

“Biden está fugindo do seu histórico e mentindo como um louco para tentar escapar da responsabilidade pela terrível devastação que ele e seu partido criaram”, o ex-presidente escreveu.

“Eles continuam com as mesmas políticas que estão levando este show de horrores adiante”, acrescentou.

A abordagem agressiva de Biden pode ter surgido, pelo menos em parte, da necessidade. Aos 81 anos, ele é o presidente mais velho da história dos EUA — e tem sido atormentado por questões sobre sua idade e capacidade mental.

Seus índices de aprovação são os mais baixos de qualquer presidente moderno em busca da reeleição. No entanto, ele está praticamente em empate técnico com Trump, que também é visto de forma negativa pelos eleitores.

Mesmo quando Biden mencionou sua idade, ele fez isso com um ataque a Trump, que aos 77 anos é apenas alguns anos mais novo do que ele.

“Eu sei que pode não parecer, mas estou aqui há algum tempo”, ele disse.

E, depois de citar uma lista de atributos positivos que, segundo ele, definiam os EUA, desferiu o golpe.

"Algumas outras pessoas da minha idade veem uma história diferente: uma história americana de ressentimento, vingança e retaliação."

2. Tropeços na questão da imigração

Marjorie Taylor Greene
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A republicana Marjorie Taylor Greene foi uma das que se manifestou contra o discurso de Biden

Biden improvisava de vez em quando respostas às reações hostis da ala republicana da Câmara. Ele ironizou, se defendeu e fingiu surpresa diante dos rompantes da oposição.

Quando o tema do discurso passou para imigração, um tópico de vulnerabilidade política para o presidente, ele estava mais uma vez pronto para responder os republicanos. Mas, desta vez, ele tropeçou.

Depois que a congressista republicana Marjorie Taylor Greene o acusou de ignorar o assassinato da estudante de enfermagem Laken Riley, da Geórgia, supostamente cometido por um imigrante venezuelano sem documentação, Biden ergueu um broche com o nome dela – o broche havia sido dado por Greene quando ele entrou no plenário.

Depois de aparentemente pronunciar errado o nome da estudante como “Lincoln” Riley, ele disse que ela foi assassinada por um “ilegal” — termo criticado por grupos de direitos dos imigrantes.

Biden passou a pedir aos republicanos que apoiassem a legislação migratória bipartidária no Senado — e acusou Trump de “fazer política” ao se opor ao projeto de lei para obter ganhos eleitorais.

É possível, no entanto, que o dano já tenha sido feito.

3. Em ritmo de campanha

Eleitor caminhando na rua, passando em frente a cartaz em que se lê 'vote aqui',na chamada 'Super Terça', em 5 de março de 2024
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O discurso foi dirigido basicamente à classe média americana, que constitui a maior parte do eleitorado

Quando Biden não estava criticando seu oponente, ele tentava destacar o que caracterizou como um histórico de realizações durante seu primeiro mandato — e esboçar um discurso de campanha à sua reeleição.

“Herdei uma economia que estava no limite”, ele disse, “e agora a nossa economia é invejada pelo mundo”.

Os números da economia americana têm apresentado tendência de alta há meses. A percepção pública da economia, no entanto, tem sido muito mais sombria.

Biden classificou a recuperação econômica dos EUA como “a maior história já contada”.

Resta saber, no entanto, se as palavras do presidente vão ser suficientes para mudar a cabeça dos eleitores.

Foi um discurso dirigido à classe média americana — os eleitores de média renda que constituem a maior parte do eleitorado.

E incluiu uma variedade de novas propostas, a maioria das quais exigiria a aprovação de leis pelo Congresso – um cenário improvável, a menos que os democratas retomem o controle da Câmara dos Representantes em novembro.

Ele propôs um crédito fiscal para novos compradores de imóveis, que viram seu poder aquisitivo diminuir diante das taxas de financiamento imobiliário mais altas. Ele também pediu para ampliar o limite de gastos com medicamentos receitados para todos os americanos que tenham seguro de saúde, e aumentar os impostos sobre as empresas.

4. O problema da guerra em Gaza

Biden discursando
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Biden iniciou seu discurso fazendo um apelo por ajuda militar para a Ucrânia, mas a maior parte da sua discussão sobre política externa ficou para o fim, quando voltou a sua atenção para o Oriente Médio.

A guerra em Gaza dividiu os democratas, com uma parte eloquente da ala liberal pedindo aos EUA que utilizem todos os meios à sua disposição para pressionar por um cessar-fogo. Alguns manifestantes saíram às ruas de Washington na noite de quinta-feira, numa tentativa frustrada de impedir que a comitiva do presidente chegasse ao Capitólio.

Biden disse que seu governo estava trabalhando por um cessar-fogo que duraria “pelo menos 6 semanas", e detalhou um novo plano — anunciado no início do dia — para que os EUA construam um porto marítimo temporário em Gaza para permitir a entrada de ajuda humanitária.

Ele dirigiu algumas palavras duras a Israel, chamando as mortes de civis em Gaza de "dolorosas" — e afirmou também que o país tinha uma "responsabilidade fundamental" de proteger vidas inocentes.

O discurso de Biden, proferido sem grandes tropeços ou gafes significativas, é um obstáculo superado para o presidente — e seu conteúdo pode dar pistas sobre como sua campanha planeja vender ao público americano mais quatro anos de governo democrata.

No mínimo, é possível que convença os democratas que estão apreensivos de que seu provável candidato está pronto para enfrentar de igual para igual seu adversário republicano em novembro.

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BBC
Anthony Zurcher - Correspondente da BBC News para a América do Norte
postado em 08/03/2024 08:11 / atualizado em 08/03/2024 08:52
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