Cientistas acreditam terem identificado o menor vertebrado do mundo: um minúsculo sapo brasileiro do tamanho de uma ervilha chamado Brachycephalus pulex (ou sapinho-pulga), de acordo com uma pesquisa recente.
Em 2011, Mirco Solé, pesquisador da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, foi o primeiro a analisar o tamanho desta espécie em comparação com o de outros sapos semelhantes.
A amostra não era grande o suficiente na época para ser conclusiva, mas a pesquisa mais recente, na qual Solé e sua equipe mediram o comprimento do corpo de 46 sapos-pulgas, é mais abrangente.
Descobriu-se que os sapos machos B. pulex mediam pouco mais de 7 mm e as fêmeas eram ligeiramente maiores, com pouco mais de 8 mm.
A equipe também confirmou a maturidade e o sexo dos sapos examinando suas gônadas e verificando a presença de fendas vocais na garganta, que só os machos possuem.
Como os menores vertebrados existentes, os sapos B. pulex enfrentam seus próprios desafios — além de serem difíceis de monitorar com precisão. Eles têm dificuldade para fazer algo em que os sapos deveriam ser inerentemente bons: pular.
Na verdade, uma pesquisa de 2022 descobriu que esses vertebrados perdem o equilíbrio quando saem do solo.
Eles são simplesmente tão pequenos que não conseguem fazer uso adequado dos seus sistemas vestibulares, que ajudam a controlar a estabilização.
'Competição' em aberto
Mark D. Scherz, curador de herpetologia do Museu de História Natural da Dinamarca, diz que esta espécie de sapo "impressionantemente pequena" é muito provavelmente a detentora do título de menor vertebrado do mundo, e que a afirmação "tem base em um notável e grande conjunto de dados".
Ainda assim, ele afirma que, embora existam muitas evidências, não é possível saber o que está por vir em termos de novas descobertas.
"É definitivamente possível que o limite continue caindo", diz Scherz.
Afinal, esse tem sido o padrão.
O registro de espécies minúsculas tem evoluído continuamente, chegando a tamanhos cada vez menores à medida que mais pesquisas são feitas.
"Nos últimos 30 anos", observa Scherz, "o recorde passou de cerca de 10 mm (Eleutherodactylus iberia) para 6,45-8,87 mm".
Isso representa uma redução de mais de 10% em comprimento.
Sherz diz que embora seja provável que haja prováveis candidatos ao título de menor vertebrado nos próximos anos, essa classificação como "pequeno" depende de como a espécie está sendo medida.
"Se tomarmos isso como uma medida linear, os sapos são atualmente vencedores", explica ele. "Mas se considerarmos a massa ou o volume, então os peixes provavelmente reivindicariam o título, já que são muito estreitos e delgados, enquanto os sapos são bastante redondos."
Ele imagina que existam alguns pequenos "peixes planctônicos" que ainda não foram descobertos.
Essas descobertas, e as pesquisas subsequentes para compreender o que torna estas espécies únicas e interessantes para além do seu tamanho, têm os seus desafios quando se trata de espécies muito pequenas.
Cientistas já criaram pequenas calças e minicintos a serem colocados em vertebrados minúsculos para os pesquisadores entenderem como esses animais se movem.
Luci Kirkpatrick, professora da Escola de Ciências Ambientais e Naturais da Universidade de Bangor, no País de Gales, entende bem esses desafios.
Ela desenvolveu dispositivos de rastreamento que cabem em alguns animais menores. Ela diz que eles são normalmente difíceis de rastrear, mas defende que essa tarefa é extremamente importante para a conservação.
Embora minúsculos, esses animais são como "engenheiros de ecossistemas" que, segundo ela, são "fundamentais para garantir que a cadeia alimentar funcione corretamente".
"Essas populações podem mudar rapidamente e reagir às mudanças no ambiente", o que pode ser extremamente positivo, explica ela.
Mas um surto de doença pode ser catastrófico se não for monitorado, diz a cientista.
"Se você quer conservar um animal, precisa saber o que ele está fazendo", explica Kirkpatrick.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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