A Rússia denunciou nesta segunda-feira (4/3) o "envolvimento direto" das potências ocidentais na Ucrânia e convocou o embaixador da Alemanha após a divulgação nas redes sociais de conversas confidenciais entre militares alemães de alta patente sobre envios de armas à Ucrânia.
Na sexta-feira (1º/3), uma gravação de áudio de uma reunião por videoconferência de oficiais alemães foi divulgada nas redes sociais da Rússia.
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A conversa, que teve a veracidade confirmada por Berlim, mostra "mais uma vez a participação direta do Ocidente no conflito ao redor da Ucrânia", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
No áudio de 38 minutos, os participantes mencionam a hipótese de entregar mísseis de longo alcance Taurus, de fabricação alemã, à Ucrânia.
Oficialmente, a Alemanha nega que deseja entregar mísseis Taurus à Ucrânia, argumentando que existe o risco de um agravamento do conflito, iniciado em fevereiro de 2022.
Os participantes da conversa também citam possíveis bombardeios contra a ponte da Crimeia, que liga a península anexada por Moscou em 2014 ao território russo. Uma pessoa afirma que seriam necessários entre 10 e 20 mísseis para destruir a ponte.
"A gravação mostra que dentro do Bundeswehr (Exército alemão) há uma discussão detalhada e concreta sobre planos para executar bombardeios em território russo", disse Peskov.
O incidente provocou uma crise diplomática entre os países. O embaixador da Alemanha na Rússia, Alexander Graf Lambsdorff, compareceu nesta segunda ao Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
O embaixador deixou o ministério sem fazer declarações à imprensa, depois de passar pouco mais de uma hora no local, segundo agências de notícias russas.
Berlim negou a convocação do embaixador e um porta-voz da diplomacia alemã afirmou que a reunião estava programada há "bastante tempo".
O ministério russo indicou em um comunicado que pediu ao embaixador "explicações" sobre as entregas de mísseis Taurus a Kiev mencionadas na conversa.
"Muito ruim"
Berlim confirmou no sábado que a gravação era autêntica e que havia sido "interceptada". O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, prometeu uma investigação sobre o tema.
"Espero que saibamos de uma forma ou de outra (...) qual é a conclusão dessa investigação", disse Peskov.
"Temos que estabelecer se o Bundeswehr está fazendo isso por iniciativa própria. E depois a questão é saber até que ponto o Bundeswehr é controlável e até que ponto o senhor Scholz controla tudo isso, ou se isso faz parte de uma política do Estado alemão", acrescentou.
"Em ambos os casos, é muito ruim", concluiu o porta-voz do Kremlin.
Do lado alemão, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, acusou no domingo o presidente russo Vladimir Putin de tentar "desestabilizar" a Alemanha espionando conversas militares confidenciais sobre a Ucrânia.
"É parte de uma guerra de informações liderada por Putin", afirmou o ministro. "Trata-se de minar nossa unidade (...), se semear uma divisão política no plano interno e espero sinceramente que Putin não consiga."
Segundo a revista Der Spiegel, a videoconferência foi realizada na plataforma pública WebEx e não em uma rede segura.
Além disso, um dos participantes estava em um hotel em Singapura e seu quarto poderia ter microfones escondidos, indicaram alguns veículos.
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