O presidente da França, Emmanuel Macron, ficou isolado, ontem, no discurso em que levantou a possibilidade de aliados ocidentais da Ucrânia enviarem militares para a ex-república soviética enfrentar as forças russas, que invadiram o país há dois anos. Ao longo do dia, um após o outro, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália, além da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), entre outros, rejeitaram a hipótese cogitada na véspera pelo líder francês.
"Os Estados Unidos não enviarão tropas para lutar na Ucrânia", descartou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, ressaltando que o "caminho para a vitória" ucraniana passa pela aprovação no Congresso de uma ajuda militar bloqueada. A despeito da ajuda internacional a Kiev com recursos financeiros e armas, mandar militares tem sido um tabu absoluto, uma vez que escalonaria o conflito à nível mundial.
"Não convém em nada a esses países (o envio de tropas). E eles devem estar cientes disso", advertiu o porta-voz do governo da Rússia, Dmitri Peskov. Ele considerou que o simples fato de a possibilidade ser citada por um líder europeu representa "um novo elemento muito importante" no conflito.
A Ucrânia considerou, ao contrário, a hipótese lançada por Macron um "bom sinal", avaliou um conselheiro da Presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, à agência de notícias France Presse (AFP).
Ontem, Moscou reivindicou a conquista de uma localidade ucraniana perto de Avdiivka, cidade da frente de batalha leste que o Exército russo anunciou ter dominado no início do mês, após uma longa batalha. Informou ainda ter destruído um tanque americano Abrams no leste do país.
Coalizão
Ao receber, em Paris, cerca de 30 líderes europeus, na segunda-feira, Macron externou preocupação com o fortalecimento do presidente russo, Vladimir Putin, no front ucraniano e a nível interno. Ele reconheceu que não há consenso sobre o envio de tropas, mas acrescentou que "não devemos descartar nada". "Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não vença essa guerra", declarou o francês a seus convidados.
Macron falou em cinco áreas prioritárias: a desminagem, a segurança dos países vizinhos como a Moldávia, a luta contra os ciberataques, o apoio à Ucrânia na sua fronteira com Belarus com forças não militares e a fabricação conjunta de armas em solo ucraniano.
Os aliados ocidentais do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apoiaram a criação de uma nova coalizão para fornecer a Kiev "mísseis e bombas de médio e longo alcance" e uma iniciativa para ajudar na compra de munições fora da União Europeia.
Ao fim do encontro, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, negou que o envio de tropas tenha sido discutido, mas seu colega eslovaco, Robert Fico, indicou que alguns membros da Otan e da União Europeia estavam considerando a iniciativa.
Diante da repercussão bombástica, as recusas se tornaram públicas. "Não há planos de enviar tropas de combate", disse um porta-voz da Otan. O Reino Unido assegurou que não prevê uma "mobilização em larga escala". Polônia, República Tcheca e Suécia, que será o 32º país membro da Aliança Atlântica, se pronunciaram na mesma linha.
Com Macron isolado, o chanceler francês, Stéphane Sejourné, tratou de especificar que as eventuais tropas seriam dedicadas a "novas ações" para apoiar a Ucrânia, como a desminagem ou o combate a ataques cibernéticos.
Para o ex-secretário-geral adjunto da aliança militar Camille Grand, as palavras de Macron representam um "importante sinal político". "A mensagem é tripla: aos ucranianos, dizemos que estamos dispostos a correr riscos ao lado deles; à Rússia, que esta guerra é muito importante para nós; e à opinião pública, que o que está em jogo é tão importante que não podemos descartar essa possibilidade", disse à AFP.
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