O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, criticou na quinta-feira, 22, uma reportagem do The New York Times que revelava que as autoridades policiais dos Estados Unidos vinham investigando havia anos alegações de supostos vínculos de aliados do governante mexicano com narcotraficantes. Como reação, o presidente divulgou o telefone celular do jornalista responsável pela matéria, durante uma entrevista coletiva.
A matéria, publicada na quinta-feira, 22, revelou que agentes dos EUA foram alertados por informantes que grupos de traficantes estiveram em contato com os aliados do presidente mexicano antes e depois da sua eleição em 2018 - e, em uma ocasião, os assessores alegadamente receberam US$ 4 milhões.
Nenhuma ligação direta entre o presidente e grupos criminosos foi encontrada durante a investigação de policiais, informou o Times, e o governo americano sequer abriu uma investigação formal. Autoridades concluíram que o governo dos EUA tinha pouco apetite para perseguir alegações contra o líder de um dos principais aliados da América, disseram as três pessoas familiarizadas com o caso, que não tinham autorização para falar publicamente.
"Não há investigação sobre o presidente López Obrador", afirmou o Departamento de Justiça em comunicado.
Durante a entrevista coletiva, López Obrador leu em voz alta um e-mail de Natalie Kitroeff, chefe da sucursal do New York Times para o México, América Central e Caribe. Ela havia solicitado comentários para a matéria. Além de criticar Kitroeff e identificá-la pelo nome, López Obrador recitou publicamente seu número de telefone na televisão nacional.
"Esta é uma tática preocupante e inaceitável de um líder mundial num momento em que as ameaças contra jornalistas estão aumentando", disse o Times em comunicado na quinta-feira.
Atitude é investigada
O Instituto Nacional de Transparência, Acesso à Informação e Proteção de Dados Pessoais (INAI) do México afirmou em um comunicado que está tentando determinar se o vazamento do número constitui "violações de princípios e deveres estabelecidos" na lei de dados. O instituto administra o sistema de liberdade de informação do México, que foi criado há mais de duas décadas para tornar as operações governamentais mais transparentes e coibir abusos de poder.
A ação contra um jornalista acontece semanas após ataques a um repórter da ProPublica, que publicou uma matéria no mês passado detalhando uma investigação separada sobre acusações de que cartéis de drogas haviam doado milhões para a campanha presidencial malsucedida de López Obrador em 2006. O presidente chamou o repórter Tim Golden de "peão" e "mercenário a serviço" da Administração de Repressão às Drogas.