O governo colombiano reagiu, ontem, à decisão do Exército de Libertação Nacional (ELN) de congelar as negociações de paz, alegando violação ao previamente acordado para a condução do processo. “As decisões tomadas unilateralmente pelo ELN são de sua inteira responsabilidade e levam a gerar uma crise desnecessária que prolonga o confronto armado e a violência sofrida pelas comunidades, além de enfraquecer a confiança da sociedade colombiana em sua vontade de paz”, declarou, em comunicado, a Casa de Nariño.
Segundo a nota, o governo de esquerda de Gustavo Petro “cumpriu integralmente todos os seus compromissos” e sempre esteve disposto a encontrar soluções para as situações críticas e dificuldades durante as negociações. As delegações oficiais e da guerrilha realizaram seis ciclos de conciliação na Venezuela, México e Cuba e anunciaram o retorno a Caracas em abril.
Contudo, uma série de impasses mina o futuro do diálogo, entre eles, “bloqueios armados” em que os rebeldes ordenam o confinamento de milhares de pessoas; o sequestro do pai do jogador do Liverpool Luis Díaz, libertado dez dias depois; bem como confrontos com outros grupos armados. O último ataque violento foi descrito pelo governo de Petro como uma “deslealdade” à trégua bilateral pactuada até agosto.
Ao anunciar a suspensão das negociações, o ELN questionou, sem aprofundar detalhes, alguns “diálogos regionais” com a guerrilha no departamento de Nariño (sudoeste colombiano), anunciados no último fim de semana pelo governador local. “Ao se tornar público tal montagem, disfarçado de diálogos regionais, o processo entra em aberta crise e nos vemos obrigados a convocar nossa delegação de negociadores para consultas”, acrescentou a nota.
Pressão
Por meio de um comunicado, também divulgado ontem, a Defensoria do Povo classificou a posição do grupo como “inaceitável”, acrescentando que isso demonstra a vontade do ELN “de pressionar o Estado para que não haja participação da sociedade”.
Em conflito armado desde 1964, a guerrilha conta com cerca de 5,8 mil combatentes e uma ampla rede de colaboradores, segundo a inteligência militar.
Embora tenha um comando central, as frentes do ELN são autônomas no campo militar, o que, segundo especialistas, dificulta as negociações. “A decisão de valorizar o que avançamos, de valorizar os passos rumo à paz, de valorizar os acordos está nas mãos do ELN”, declarou, em vídeo, a negociadora do governo, Vera Grabe.
Petro, o primeiro esquerdista a assumir o poder no país, aposta no diálogo para alcançar acordos com o ELN e com os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que se recusaram a aceitar um pacto de paz em 2016.
A nota oficial da Presidência destaca que desenvolver a paz nos territórios colombianos é uma das prioridades de Gustavo Petro. “Nesse sentido, (o governo) respeita e incentiva as iniciativas que os líderes locais lideram para proteger a população e realizar transformações sociais.”
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