Em um vídeo publicado em redes sociais, Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, acusou ontem o presidente russo, Vladimir Putin, de matar o líder oposicionista e prometeu que assumirá a luta pela "liberdade" do seu país. "Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Vou continuar pelo nosso país, com vocês. Peço a todos que estejam ao meu lado (...). Não é uma vergonha fazer pouco, é uma vergonha não fazer nada, é uma vergonha se permitir ter medo", declarou.
Principal adversário do chefe do Kremlin, Navalny morreu na última sexta-feira, aos 47 anos, em uma prisão do Ártico, no distrito autônomo de Yamalia-Nenetsia, localizado na região de Yamal, onde cumpria uma pena de 19 anos. "Há três dias, Vladimir Putin matou o meu marido. Putin matou o pai dos meus filhos", denunciou, acrescentando: "Com ele, queria matar o nosso espírito, a nossa liberdade, o nosso futuro".
Navalnaya pediu unidade "para atingir Putin, os seus amigos, os bandidos com dragonas, os cortesãos e os assassinos que querem paralisar" a Rússia. Ela afiançou que vai descobrir "quem cometeu o crime" e em quais circunstâncias.
Após a divulgação do vídeo, a viúva do líder opositor se reuniu com o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell. "Como Yulia disse, Putin não é a Rússia, e a Rússia não é Putin", publicou o diplomata na rede social X (ex-Twitter), após encontro, em Bruxelas, que contou com a participação dos ministros das Relações Exteriores da UE.
"Exame pericial"
Desde a sexta-feira passada, quando a morte de Navalny foi anunciada, familiares tentam ter acesso ao corpo do líder opositor, sem sucesso. Diante da situação, acusam o Kremlin de ocultar eventuais evidências de assassinato. A equipe de colaboradores de Navalny informou ontem que os investigadores realizarão um "exame pericial" no cadáver durante, pelo menos, duas semanas.
"Os investigadores disseram aos advogados e à mãe de Alexei que não vão entregar o corpo e que nos próximos 14 dias farão uma análise química", declarou a porta-voz da oposição, Kira Yarmish, pelo YouTube. "Vou dizer uma vez mais: o corpo de Navalny está sendo escondido para omitir as marcas do assassinato. Esta 'análise clínica' de 14 dias é uma mentira grosseira", afirmou a porta-voz, mais tarde, em nota divulgada na rede X.
A mãe de Navalny, Liudmila, viajou no sábado para a colônia penal do Ártico, onde o filho estava preso, mas não a deixaram visitar o necrotério onde, segundo lhe disseram, está o corpo do opositor. Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, se limitou a dizer que a investigação "continua em andamento" e não chegou a nenhuma conclusão "até o momento".
Yarmish afirmou que o Comitê de Investigação, responsável pelas investigações penais na Rússia, comunicou que o inquérito sobre a morte de Navalny foi prolongado. "Não se sabe até quando vai prosseguir. A causa da morte continua sendo 'indeterminada'. Eles mentem, tentam ganhar tempo e nem sequer escondem", assinalou.
Segundo Evgeni Smirnov, advogado da ONG especializada Pervy Otdel, os investigadores podem reter legalmente o corpo de uma pessoa que morreu na prisão por até 30 dias. Mesmo depois desse período, as autoridades podem decidir abrir uma investigação criminal e manter os restos mortais "pelo tempo que quiserem", de acordo com Smirnov.
Nas informações iniciais, o Serviço Penitenciário Russo (FSIN) divulgou que o opositor morreu após perder a consciência durante uma caminhada. Ele estava detido desde seu retorno à Rússia no início de 2021, ao fim de um tratamento a Alemanha, depois de sofrer um grave envenenamento. Desde então, Navalny enfrentava problemas de saúde há vários meses.
Durante sua reclusão, o principal adversário político de Putin passou quase 300 dias em uma cela disciplinar, em condições rigorosas de isolamento. O presidente russo, que nunca mencionou Navalny por seu nome, não fez qualquer comentário sobre a morte do detrator.
Onda de indignação
A morte de Navalny causou uma onda de comoção e indignação na Rússia e no Ocidente, onde muitos líderes acusaram Moscou de ser o culpado. A chancelaria alemã convocou o embaixador russo no país após a morte. "Diante da falta de informação, acreditamos que é absolutamente inaceitável fazer declarações tão odiosas", reagiu o Kremlin.
Na Rússia, as tentativas modestas de prestar homenagem ao opositor foram reprimidas, em plena campanha de intimidação contra qualquer crítica às autoridades desde o início da invasão na Ucrânia, em fevereiro de 2022. No fim de semana, a polícia russa prendeu centenas de pessoas que depositavam flores e acendiam velas em dezenas de cidades para homenagear o dissidente.
Ainda assim, ontem, muitas pessoas desafiaram o governo e continuaram a reverenciar Navalny em Moscou. "Alexei Navalny está vivo em nossa memória, é um raio de luz em nossa vida. continuaremos seu trabalho", declarou Larissa, uma motorista de ambulância de 54 anos, à agência France Presse (AFP).
Alexandra, 21 anos, disse que lhe dava medo visitar o monumento, pelos vídeos que viu das prisões realizadas nos últimos dias. Mas, ainda assim, decidiu ir. "Durante os primeiros dias, chorei sem parar. Estou muito chateada", contou.
Navalny era a figura de maior destaque da oposição na Rússia, onde ganhou popularidade — em particular entre os jovens — graças às investigações sobre a corrupção durante o governo Putin.
Saiba Mais
-
Brasil Policiais vestidos de "Chapolin" prendem grupo que furtava celulares em bloco
-
Esportes Liverpool sonda Luís Guilherme, do Palmeiras, para o meio do ano
-
Cidades DF Ex-distrital preso por mandar matar adolescente será levado para a Papuda
-
Esportes Copa da Holanda Feminina terá Ajax contra Ajax; entenda
-
Esportes Portuguesa × Palestino: onde assistir, escalações e arbitragem
-
Cidades DF Mais quatro restaurantes comunitários vão servir café, almoço e jantar