Ele se sentiu mal e desmaiou. Isto é tudo o que se sabe neste momento sobre a morte do mais ferrenho opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, de 47 anos, em uma das prisões mais remotas e inacessíveis da Rússia.
O Serviço Penitenciário Federal Russo confirmou a notícia a partir da prisão onde ele estava, conhecida como colônia “Lobo Polar”, onde os prisioneiros vivem em condições bastante adversas.
Os advogados do falecido dissidente político foram para a prisão localizada no distrito autônomo de Yamalia, no Círculo Polar Ártico.
Ele foi transferido para lá no início de dezembro do ano passado, após ficar desaparecido por duas semanas.
Reapareceu nesta colônia de regime especial, a cerca de 1,9 mil quilômetros a nordeste de Moscou, onde as temperaturas se aproximam de -40°C no inverno.
Muitos defensores dos direitos humanos afirmam que as autoridades russas utilizam as condições meteorológicas como método de punição.
Na primavera, os presos enfrentam enxames de mosquitos e de outros.
Longe da família e dos colaboradores, Navalny teve seu regime de visitação restringido, bem como o acesso a cartas ou emails. Ele vivia em uma cela de onde não é possível ver o céu.
Em todas as prisões por onde passou, Navalny foi periodicamente enviado para a solitária por infrações menores.
No confinamento solitário, onde faz sempre muito frio, não é possível manter pertences pessoais. A cama fica fixada contra a parede durante o dia, e usá-la é uma violação.
Condições extremas e controle rigoroso
A rede prisional russa é conhecida pelas suas condições extremas.
Esta unidade em particular está localizada em uma zona bastante inacessível da Sibéria, onde há um espaço de meses entre um voo e outro e só pode ser chegar de comboio.
Em conversa com a BBC News Mundo, serviço de notícias da BBC em espanhol, Konstantin Kotov, ex-prisioneiro de outro complexo onde Navalny esteve detido antes, afirmou que existe regime prisional russo é muito rigoroso.
As autoridades penitenciárias têm total controle sobre todos os aspectos da vida do condenado, segundo Kotov.
“Você pode ficar de pé por mais de uma hora, duas vezes por dia, em um ambiente extremamente frio ou quente, dependendo da época do ano”, disse ele.
“Todas as conversas são monitoradas. Se um prisioneiro contar algo ruim sobre a colônia aos seus entes queridos, será punido. É muito difícil conseguir uma reunião com um advogado, isso é dificultado ao máximo.”
A vigilância extrema foi confirmada por Alexei Navalny, que disse em uma mensagem no Instagram que havia “câmeras de vídeo por todos os lados".
"Todos são vigiados e, pela menor infracção, fazem advertências”, afirmou.
Uma herança soviética
As colônias de regime especial são instituições com condições de detenção mais rígidas.
De acordo com o Código Penal rprisaousso, os condenados são enviados para elas para cumprir prisão perpétua ou pela “recorrência de crimes especialmente perigosos”.
Ativistas de direitos humanos dizem que prisão IK-3 abriga assassinos em série, estupradores e pedófilos.
As colônias penais são descendentes dos gulags da era soviética, os famosos campos de trabalhos forçados da era de Stalin, quando milhares de russos foram mortos entre 1930 e 1950.
Até 170 prisioneiros eram mantidos em cada cela. Estima-se que 20 milhões de pessoas morreram durante o regime de Stalin.
Fundada em 1961, a colônia penal IK-3 foi construída no local do antigo Gulag 501.
Navalny, que recentemente compareceu a uma audiência em um tribunal por vídeo, disse estar satisfeito com as condições da colônia.
“Estou melhor aqui do que no IK-6”, comparou ele à prisão anterior.
Nesse último vídeo, ele estava emaciado. Ele aparece com a cabeça raspada e usando um uniforme de prisão largo.
Por que Navalny estava preso
As acusações contra Navalny são amplamente consideradas políticas. Ele foi um dos críticos mais veementes de Putin.
Navalny começou como ativista anticorrupção em 2007, liderou grandes protestos em 2011 e 2012 e foi condenado pela primeira vez em 2013 por peculato. Ele negava as acusações.
Depois de ter sido impedido de cooncorrer nas eleições presidenciais de 2018, foi hospitalizado na Sibéria em agosto de 2020, depois de perder a consciência a bordo de um avião a caminho de Moscou.
Ele foi hospitalizado com sinais de envenenamento tóxico e passou mais de duas semanas em coma.
De Omsk foi transferido para a clínica Charité em Berlim, na Alemanha, onde foi confirmado o envenenamento por um agente tóxico.
Em janeiro de 2021, cinco meses após o envenenamento, Navalny anunciou que se sentia “quase saudável” e que regressaria à Rússia.
Em 17 de janeiro de 2021, o político desembarcou em Moscou. Esta foi a última vez que esteve em liberdade: já foi detido no aeroporto.
Ele foi condenado inicialmente a três anos e meio e, em fevereiro de 2022, foi julgado novamente.
Desta vez, foi alegado que Navalny tinha roubado US$ 4,7 milhões (R$ 23,4 milhões em valores atuais) em doações feitas às suas organizações políticas.
Em agosto do ano passado, sua pena foi ampliada para 19 anos depois de ter sido considerado culpado de criar e financiar uma organização extremista.