Nesta sexta-feira (16/2), morreu um dos maiores opositores do presidente russo Vladimir Putin. Alexei Navalny estava cumprindo pena de prisão de 19 anos em uma prisão no Ártico. Segundo o serviço penitenciário, ele passou mal e morreu logo depois.
Navalny é o último opositor ferrenho de Putin a perder a vida precocemente.
Muitas das vozes críticas que já se manifestaram contra o líder russo foram forçadas ao exílio, enquanto outros opositores acabaram presos — ou, em alguns casos, mortos.
Quando Putin lançou a invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, mais de duas décadas de tentativas de erradicar a dissidência já haviam conseguido praticamente aniquilar a oposição na Rússia.
Logo no início do governo do atual presidente, ele subjugou os poderosos oligarcas da Rússia — um grupo de pessoas muito ricas que tinham ambições políticas.
Todos os principais meios de comunicação da Rússia gradualmente caíram sob o controle do Estado ou começaram a seguir a linha oficial divulgada pelo governo.
Confira alguns dos adversários de Putin que morreram em condições não esclarecidas.
Alexei Navalny
De longe, a figura de oposição mais proeminente na Rússia era Alexei Navalny, morto nesta sexta-feira. Mesmo da prisão acusou Putin de tentar difamar centenas de milhares de pessoas em sua guerra "criminosa e agressiva".
Em agosto de 2020, Navalny foi envenenado com Novichok, uma substância que atua no sistema nervoso, durante uma viagem à Sibéria.
O ataque quase o matou e ele teve que ser enviado à Alemanha para um tratamento.
O retorno de Navalny à Rússia em janeiro de 2021 galvanizou brevemente os manifestantes da oposição, mas ele foi imediatamente preso por fraude e desacato.
Ele foi o foco de um documentário vencedor do Oscar.
Na década de 2010, Navalny esteve ativamente envolvido em comícios de protesto.
As muitas denúncias do principal veículo político de Navalny, a Fundação Anticorrupção (FBK), também atraíram milhões de visualizações online.
Em 2021, a instituição foi acusada de extremista pelo governo, algo que Navalny negou repetidas vezes, dizendo-se perseguido por razões políticas.
No final do ano passado, Navalny havia sido transferido para uma colônia penal no Ártico, considerada uma das prisões mais duras da Rússia.
O serviço penitenciário do distrito de Yamalo-Nenets disse que Navalny "não se sentiu bem" depois de uma caminhada na sexta-feira.
Ele "perdeu a consciência quase imediatamente", disse o comunicado, acrescentando que uma equipe médica de emergência foi imediatamente chamada e tentou ressuscitá-lo, mas sem sucesso.
"Os médicos de emergência declararam o prisioneiro morto. A causa da morte está sendo estabelecida."
O advogado de Navalny, Leonid Solovyov, disse à imprensa russa que ainda não comentaria o caso.
Boris Berezovsky
Foi um dos megaempresários que ajudaram a levar Putin ao poder.
Mas os dois se desentenderam, e Berezovsky deixou a Rússia para viver em exílio no Reino Unido.
Berezovsky chegou a ser investigado no Brasil por possíveis vínculos com a empresa MSI, que firmou em 2004 uma parceria com o time de futebol Corinthians.
Ele morreu em 2013, encontrado em um banheiro com uma corda em volta do pescoço.
Porém, uma investigação não chegou a conclusões sobre a causa da morte.
Yevgeny Prigozhin
O líder do grupo mercenário Wagner morreu em acidente de avião em agosto de 2023, semanas após conduzir suas tropas em direção a Moscou numa aparente tentativa de golpe de Estado.
Prigozhin ganhou destaque pelo papel que seu grupo mercenário vinha desempenhando na guerra na Ucrânia. Embora lutasse em favor da Rússia e contra a Ucrânia, Prigozhin criticava abertamente chefes militares russos pelas estratégias adotadas no conflito.
Após uma série de acusações mútuas, o Grupo Wagner e o governo russo romperam relações, e as tropas mercenárias marcharam rumo a Moscou em junho.
No dia seguinte, Putin acusou Prigozhin de "traição" e de lhe dar "uma facada nas costas".
Depois de um acordo para encerrar o impasse, as acusações contra o líder mercenário foram retiradas, e houve uma oferta para que ele se mudasse para Belarus.
Até a queda da aeronave em que ele viajava com outros nove passageiros, perto da cidade de Tver. Não está claro se o avião foi abatido ou se houve uma explosão a bordo.
Boris Nemtsov
Antes da era Putin, Nemtsov serviu como governador da região de Nizhny Novgorod, como ministro de Energia e depois como vice-primeiro-ministro.
Ele também foi eleito para o Parlamento da Rússia. Em seguida, se tornou cada vez mais proeminente em sua oposição ao governo e publicou uma série de relatórios críticos a Vladimir Putin, além de liderar inúmeras marchas de oposição.
Em 27 de fevereiro de 2015, Nemtsov foi baleado quatro vezes ao cruzar uma ponte, horas depois de apelar por apoio para uma marcha contra a invasão inicial da Rússia na Ucrânia, ocorrida em 2014.
Cinco homens de origem chechena foram condenados pelo assassinato de Nemtsov, mas ainda não há certeza sobre quem foi o autor intelectual do crime.
Sete anos após a morte de Nemtsov, uma investigação revelou evidências de que, nos meses que antecederam o assassinato, ele estava sendo seguido por um agente do governo ligado a um esquadrão secreto de assassinatos.
Pavel Antov
O empresário russo caiu da janela de um hotel na Índia em 25 de dezembro de 2022, dias após comemorar seu aniversário.
Antov havia divulgado críticas à guerra com a Ucrânia no WhatsApp, mas apagou a mensagem e disse que outra pessoa a havia escrito.
Dias antes de sua morte, um amigo de Antov, Vladimir Budanov, também morreu no mesmo hotel.
A polícia local disse que Budanov sofreu um derrame e que seu amigo "estava deprimido após sua morte e por isso também morreu".
Alexander Litvinenko
O ex-agente da KGB (serviço secreto da era soviética) morreu três semanas depois de beber uma xícara de chá em 2006 em um hotel de Londres.
A bebida continha polônio-210, uma substância fatal.
Uma investigação britânica afirmou que Litvinenko foi envenenado por agentes da FSB (serviço russo de segurança).
Litvinenko era crítico de Putin e o havia acusado, entre outras coisas, de explodir um prédio e ordenar a morte de adversários.
* Com informações de Vitaly Shevchenko, da BBC Monitoring
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