Horas após 11 foguetes Grad serem disparados contra a cidade de Safed, no norte de Israel, matando a sargento Omer Sarah Benjo, 20 anos, caças israelenses bombardearam várias posições da milícia xiita, no sul do Líbano. Três civis da mesma família — uma mãe e os dois filhos — e um combatente do Hezbollah morreram durante a retaliação, em Souaneh, no extremo sul do Líbano. A troca de ataques na fronteira israelo-libanesa ampliou os temores de uma escalada de violência capaz de levar a uma guerra ampla entre os dois países. A morte de Benjo ocorreu devido ao impacto direto de um dos projéteis contra uma base militar das Forças de Defesa de Israel (IDF). Além de Souaneh, os bombardeios israelenses atingiram várias cidades em um raio entre 10km e 25km da fronteira.
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Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior de Israel, assegurou que as IDF estão prontas para a guerra no front norte. "Se isso não acabar em guerra, não terminará com qualquer compromisso em relação a conquistas. Estamos intensificando os ataques o tempo todo, e o Hezbollah paga um preço cada vez mais elevado. A próxima campanha terá uma ofensiva muito forte, e usaremos todas as nossas ferramentas e capacidades."
Cientista político da Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan (Israel), Gerald Steinberg afirmou ao Correio que o Hezbollah começou a disparar foguetes em direção a Israel pouco depois do massacre de 7 de outubro. "Israel contra-atacou. Essa troca de disparos aumentou gradualmente, sugerindo que ambos os lados exercem cautela, embora não pareçam fracos. No entanto, a barragem de foguetes que golpeou a cidade de Safed foi uma grande escalada, e a Força Aérea de Israel respondeu de forma semelhante. Nesse momento, é difícil saber se isto marca uma fase nova e mais perigosa ou se é uma exceção e mais uma tentativa de dissuadir Israel", comentou.
A resposta de Israel à morte da soldado, ainda que extensa, evitou atingir Beirute. Em vez disso, teve como alvo os locais de armazenamento de foguetes e os centros de comando do Hezbollah no sul do Líbano. Para Steinberg, é uma sinalização de que Jerusalém ainda se concentra na dissuasão e busca limitar o conflito. Ele disse que, para evitar uma guerra aberta, diplomatas dos EUA precisarão negociar um acordo para que o Hezbollah remova todas as suas forças para até 20km da fronteira. Israel, porém, insiste em uma zona desmilitarizada de 40km. "Até que isso ocorra, cerca de 100 mil israelenses que vivia perto da fronteira e foram removidos para o centro do país ficarão impossibilitados de retornar para casa."
Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, considera improvável a perspectiva de uma grande escalada entre Israel e Líbano. "No entanto, a troca de ataques com foguetes relativamente pequenos do Hezbollah e contra-ataques israelenses devem continuar. O Hezbollah precisa seguir como um ator relevante na defesa da causa palestina. Por sua vez, Israel terá mostrar que, apesar da guerra contra o Hamas, ainda tem capacidade militar para travar outra guerra em uma segunda frente e infligir danos inaceitáveis ao inimigo", explicou ao Correio, por e-mail.
Segundo Ben-Meir, os bombardeios israelenses que mataram quatro libaneses, assim como as ofensivas do Hezbollah que mataram a soldado judia Omer Sarah Benjo, foram bem similares aos padrões vistos no passado. "O Hezbollah continua a enfrentar o mesmo dilema desde 7 de outubro, quando a guerra entre Israel e Hamas começou. Por um lado, não podia se dar ao luxo de ficar calado. Se o fizesse, seria visto como irrelevante, especialmente porque o seu lema é o de proteger os palestinos e lutar pela criação de um Estado independente", lembrou.
Ben-Meir aposta que o Hezbollah tem evitado um bombardeio em larga escala contra Israel por saber que uma retaliação, massiva e severa, poderia destruir muito de seu arsenal e deixar dezenas de milhares de mortos. "Além disso, o Irã, que patrocina o Hezbollah, busca se certificar que o movimento xiita não se envolva em nenhum grande ataque militar. O próprio governo iraniano também não deseja se envolver diretamente em um conflito, pois poderia sofrer grandes perdas e uma destruição humilhante."
Ao contrário de Ben-Meir, Steinberg adverte que permanece o risco de um conflito em larga escala. "Isso se deve ao cálculo estratégico do Irã e do Hezbollah em usar armas que obtiveram no passado para confrontar diretamente Israel. Os líderes israelenses declararam que, se houver um ataque amplo do Hezbollah, Beirute será duramente atingida, o Líbano não funcionaria como país, e alvos estratégicos no Irã também seriam impactados", disse.
DEPOIMENTO
Barril de pólvora
"Estive na Alta Galileia e nas Colinas do Golã — fronteiras com Líbano e Síria — em março de 2023. A paisagem idílica, pontuada de montes salpicados de verde e de pequenos vilarejos, transmite uma falsa sensação de tranquilidade. A região, no extremo norte de Israel, foi palco da Guerra dos Seis Dias. Em 1967, Israel lutou contra uma coalizão de países árabes (Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Arábia Saudita), em uma batalha que terminou em 20 mil mortos. Ainda hoje, é possível ver carcaças de tanques abandonadas e visitar uma mistura de forte e casamata, construída no alto do Monte Bental, no Golã, com o propósito de conter o avanço inimigo.
No mirante instalado sobre a Montanha Har Addir, na Alta Galileia, é possível avistar os lados libanês e israelense da fronteira, demarcada com um muro branco que serpenteia o horizonte. No lado do Líbano, o movimento xiita Hezbollah militarizou praticamente toda a região. Cerca de 200 mil mísseis e foguetes Katyusha estão armazenados dentro das casas e em túneis, prontos para serem usados pelo Hezbollah contra Israel. Dois terços deles podem atingir a cidade costeira de Haifa. Cerca de 20% têm a capacidade de atingir Tel Aviv; 10% podem alcançar a fronteira com a Faixa de Gaza." (RC)
Ucrânia afunda navio russo no Mar Negro
Em menos de duas semanas, a Ucrânia desferiu dois golpes contundentes contra a Frota do Mar Negro, uma das principais unidades da Marinha da Rússia. "As Forças Armadas ucranianas, com unidades de inteligência militar, destruíram um grande navio de desembarque, o 'Tsezar Kunikov'", anunciou o Estado-Maior do Exército, por meio de seu canal no Telegram. Vídeos publicados nas redes sociais mostram drones navais se aproximando da embarcação, durante a noite, pouco antes de uma grande explosão. No fim da gravação, o navio aparece naufragando, tombado.
O Departamento de Inteligência Militar da Ucrânia informou que os drones abriram um buraco no lado esquerdo do casco do navio. Até o fechamento desta edição, o governo do presidente russo, Vladimir Putin, não tinha se pronunciado sobre o ataque. O Ministério da Defesa da Rússia limitou-se a afirmar que derrubou seis drones "nas águas do Mar Negro". O 'Tsezar Kunikov' pode levar 87 tripulantes. O destino dos marinheiros é desconhecido. Não se sabe se todos os marinheiros estavam a bordo.
"O Tsezar Kunikov era um grande navio de desembarque. Assim como o "Novocherkassk", que afundou em 26 de dezembro, era uma embarcação usada para abastecer as tropas russas na Crimeia e na região de Kherson (sul da Ucrânia). Trata-se de um sério revés para a logística militar russa na frente sul, que inclui as cidades de Kherson e de Zaporizhzhia", explicou ao Correio Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev).
Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, classificou o naufrágio do Tsezar Kunikov como um "evento importante". "Era um grande navio e um dos mais novos da frota russa. Ele operava na região da Crimeia. Isso significa que os ucranianos são capazes de realizar esse tipo de ataque. Trata-se de algo importante no contexto da contraofensiva", disse à reportagem.
O especialista lembrou que as forças terrestres de Kiev tiveram dificuldades de contra-atacar a invasão russa. "Há uma carência de projéteis de artilharia. A contraofensiva foi muito exitosa no Mar Negro. Sob a mediação dos EUA e da Turquia, Moscou aceitou restaurar o corredor de grãos, porque sofreu muitas baixas e precisou recuar no Mar Negro. Depois, retirou-se do acordo, de modo unilateral. Sem o consentimento russo, a Ucrânia conseguiu restabelecer esse corredor", comentou Haran.
De acordo com ele, a Rússia foi obrigada a remover parte de sua frota para o seu porto de Novorossiysk, na parte leste do Mar Negro. "Isso demonstra que os ucranianos tiveram sucesso, ao usarem drones navais de fabricação própria", acrescentou Haran. A dez dias de a invasão russa completar dois anos, o Kremlin mantém bombardeios. Durante a noite, mísseis russos atingiram a cidade de Donetsk (leste) e mataram três civis — uma mãe, seu filho e uma mulher grávida. (RC)