Defesa

Otan reage a ameaças de Trump e teme por segurança de membros

Em comício na Carolina do Sul, ex-presidente dos EUA afirmou que encorajaria ataque da Rússia a países-membros inadimplentes da aliança. Para chefe da organização, declaração expõe soldados americanos e europeus a risco maior

As ameaças de Donald Trump, durante comício em Conway (Carolina do Sul), na noite de sábado (10/2), foram recebidas com incredulidade pela comunidade internacional e por especialistas, mas também provocaram rápida resposta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O ex-presidente dos Estados Unidos afirmou que incitaria a Rússia a atacar outros países-membros que não arcam com as contribuições de defesa. O republicano, potencial sucessor de Joe Biden na Casa Branca, referiu-se a uma pergunta que lhe foi feita por um presidente de uma nação aliada da Otan sobre se protegeria um país inadimplente, em caso de uma ofensiva dos russos. "Absolutamente, não. Você não paga, você é delinquente. Não, eu não o protegerei. De fato, eu iria encorajá-los (russos) a fazerem o que quiserem. Você tem que pagar. Você tem que pagar suas contas", declarou.

Por meio de comunicado, Jens Stoltenberg — secretário-geral da Otan — advertiu que "qualquer sugestão de que aliados não defenderão outros mina a segurança da aliança, incluindo dos EUA". "Isso expõe os soldados norte-americanos e europeus a um risco maior. Espero que, independentemente de quem vencer a eleição presidencial, os EUA continuarão a ser um aliado forte e empenhado da Otan", declarou. A Casa Branca também reagiu às palavras de Trump. "Encorajar invasões dos nossos aliados mais próximos por regimes assassinos é terrível e perturbador", comentou o porta-voz Andrew Bates.

Horas depois, o próprio presidente Joe Biden criticou os comentários "terríveis e perigosos" de Trump. O democrata advertiu que o antecessor pretende dar ao líder russo, Vladimir Putin, "sinal verde para mais guerra e violência". A retórica de Trump ocorre em um momento delicado: a invasão da Rússia à Ucrânia completará o segundo aniversário em 24 de fevereiro. O senador republicano Marco Rubio saiu em apoio ao colega de partido. "Não foi isso que aconteceu, e não é assim como vejo a declaração (de Trump)", disse o congressista, ao ser questionado sobre se sentia confortável com a sugestão de Trump de que não defenderia países da Otan. 

Estudioso do Centro para Relações Transatlânticas (CTR) da Universidade Johns Hopkins, Daniel Hamilton afirmou ao Correio que, para Trump, todas as relações são comerciais. "Ele age como se fosse um chefão da Máfia, quando se trata de aliados dos EUA. Ele os ameaça para pagarem mais, em troca de proteção, ou os entregará a outro manda-chuva mafioso. Ao contrário, Biden está profundamente comprometido com a Otan e com a defesa da Ucrânia contra a agressão russa", explicou.

Hamilton lembrou que, quando era presidente, Trump fez todos os tipos de ameaças para punir aliados e se retirou da Otan. "Todas as vezes, os republicanos no Congresso o interromperam. Os legisladores dos dois partidos aprovaram uma lei que proíbe qualquer presidente dos Estados Unidos de sair da Otan sem apoio do Congresso."

Para Laurence Tribe, especialista em direito constitucional pela Universidade de Harvard, a declaração de Trump sugere que ele minaria a segurança da Otan e do mundo. "Isso demonstra, uma vez mais, que ele nunca mais deveria ocupar a Presidência dos Estados Unidos", opinou.

Ajuda à Ucrânia

Um amplo pacote de ajuda externa, que inclui US$ 60 bilhões (R$ 298 bilhões) para a Ucrânia, foi aprovado durante uma votação crucial no Senado dos EUA. Com pequena maioria democrata, o Senado votou por 67 votos a favor e 27 contra pelo desbloqueio do projeto de lei. A expectativa é de que o texto seja aprovado no decorrer da semana.

Biden pede a Israel plano sobre população de Rafah  

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que uma operação militar na cidade de Rafah, no sul de Gaza, não ocorra, a menos que um plano "garanta a segurança" da população. De acordo com a Casa Branca, Biden "reiterou sua opinião de que uma operação militar em Rafah não deve ser realizada sem um plano crível e realizável que garanta a segurança e o apoio aos mais de 1 milhão de pessoas que estão lá", afirmou a Casa Branca.

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Mike Haltzel, especialista do Centro para Relações Transatlânticas (CTR) da Universidade Johns Hopkins

"É claro que eu ficaria preocupado com o futuro da Otan, se Trump vencesse as eleições de 5 de novembro. No entanto, ele não vencerá. Acredito absolutamente que Trump colocaria em risco a segurança e a estabilidade do planeta, caso se tornasse presidente novamente."

Mike Haltzel, especialista do Centro para Relações Transatlânticas (CTR) da Universidade Johns Hopkins

Arquivo pessoal - Laurence Tribe, especialista em direito constitucional pela Universidade de Harvard

"A fala de Trump sobre a Otan é seu anúncio de que ele pretende cometer o que o Artigo 3 da Constituição dos EUA define como 'traição' por dar 'apoio e conforto' a um 'inimigo', o qual a Rússia se tornaria, sob o Artigo 5 do Tratado da Otan, por atacar um de nossos aliados."

Laurence Tribe, especialista em direito constitucional pela Universidade de Harvard

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Arquivo pessoal - Mike Haltzel, especialista do Centro para Relações Transatlânticas (CTR) da Universidade Johns Hopkins
Arquivo pessoal - Laurence Tribe, especialista em direito constitucional pela Universidade de Harvard

Eu acho...

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Mike Haltzel, especialista do Centro para Relações Transatlânticas (CTR) da Universidade Johns Hopkins

 

"A fala de Trump sobre a Otan é seu anúncio de que ele pretende cometer o que o Artigo 3 da Constituição dos EUA define como 'traição' por dar 'apoio e conforto' a um 'inimigo', o qual a Rússia se tornaria, sob o Artigo 5 do Tratado da Otan, por atacar um de nossos aliados."

Laurence Tribe, especialista em direito constitucional pela Universidade de Harvard

 

Biden pede a Israel plano sobre Rafah

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que uma operação militar na cidade de Rafah, no sul de Gaza, não ocorre, a menos que um plano "garanta a segurança" da população. De acordo com a Casa Branca, Biden "reiterou sua opinião de que uma operação militar em Rafah não deve ser realizada sem um plano crível e realizável que garanta a segurança e o apoio aos mais de 1 milhão de pessoas que estão lá", afirmou a Casa Branca.