GUERRA

Área que se tornou último refúgio de 1 milhão de palestinos vive tensão com ataque iminente de Israel

Em situação humanitária já desesperadora, cidade que se tornou refúgio para palestinos que fugiram de outras partes de Gaza teme ofensiva iminente após declaração de Benjamin Netanyahu

REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
A maioria das pessoas que está em Rafah foi desalojada anteriormente devido a conflitos em outras partes de Gaza — e hoje vive em tendas

Os Estados Unidos alertaram Israel que lançar uma ofensiva militar na cidade de Rafah, no sul de Gaza, sem um planejamento adequado seria um “desastre”.

Cerca de 1,5 milhão de palestinos estão sobrevivendo na cidade que faz fronteira com o Egito, em condições humanitárias terríveis.

A Casa Branca disse que não apoiaria grandes operações sem a devida consideração pelos refugiados ali.

Os comentários foram feitos dias depois de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter declarado que os militares foram instruídos a se preparar para agir em Rafah.

Falando na noite de quinta-feira (08/02), e sem se referir a Rafah, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que as ações de Israel em Gaza têm sido "exageradas".

Ataques aéreos israelenses em Gaza na sexta-feira (09) mataram pelo menos 15 pessoas, incluindo oito em Rafah, segundo o ministério da saúde administrado pelo Hamas. Israel não se posicionou sobre os números.

Salem El-Rayyes, jornalista autônomo que vive num campo para desalojados em Rafah, disse que crianças estão entre os mortos. Segundo disse à agência Reuters, um ataque aéreo atingiu uma casa e os corpos das vítimas "voaram do terceiro andar".

A maioria das pessoas que está em Rafah foi desalojada anteriormente devido a conflitos em outras partes de Gaza — e hoje vive em tendas.

BBC

Garda al-Kourd, mãe de dois filhos que diz ter se deslocado com a família seis vezes durante a guerra, diz aguardar um ataque israelense, embora tenha esperança de que um acordo de cessar-fogo possa ser firmado antes.

"Se eles vierem para Rafah, será o nosso fim. É como se estivéssemos à espera da morte. Não temos outro lugar para ir", disse ela à BBC a partir da casa de um parente em Rafah, onde vive com outras 20 pessoas.

O chefe do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, disse à BBC que uma operação israelense em Rafah — que chamou de “o maior campo de deslocados do mundo” — seria uma catástrofe.

"Há pessoas em suas frágeis coberturas de plástico. Elas estão brigando por comida. Não há água potável. Há doenças epidêmicas e eles [as forças israelenses] querem trazer uma guerra para este lugar", disse Egeland.

Grande parte do norte e do centro de Gaza foi reduzida a ruínas pelos bombardeios contínuos de Israel desde o início da guerra, em 7 de outubro.

Anteriormente, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que os militares israelenses tinham uma “obrigação especial, ao conduzir operações lá ou em qualquer outro lugar, de garantir que estão levando em consideração a proteção a vidas civis inocentes”.

“As operações militares neste momento seriam um desastre para essas pessoas e não é algo que apoiaríamos”, disse ele, acrescentando que os EUA não viram nada que sugerisse que Israel iria lançar em breve uma grande operação em Rafah.

O porta-voz adjunto do Departamento de Estado Vedant Patel endossou as falas de Kirby, dizendo: “Nós [os EUA] não apoiaríamos a realização de algo como isto sem um planeamento sério e crível”.

Questionado pela BBC sobre para onde os refugiados em Rafah deveriam ir no caso de uma operação, Patel disse que esta é uma das "perguntas legítimas que acreditamos que os israelenses deveriam responder”.

Falando da cidade israelense de Tel Aviv, o secretário de Estado Antony Blinken disse que qualquer “operação militar que Israel empreenda precisa colocar os civis em primeiro lugar... E isso é especialmente verdadeiro no caso de Rafah”.

É raro que os EUA, um aliado chave e apoiador militar de Israel, falem sobre quaisquer fases futuras da ofensiva militar do país em Gaza — mas estes foram avisos claros.

REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
Família rodeada por destroços em Rafah após bombardeio israelense em foto desta sexta-feira (09/02)

Todo ano, Washington envia cerca de US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) em ajuda militar a Israel — tornando este o país que recebe a maior fatia desse tipo de financiamento americano.

Cerca de 1.300 pessoas foram mortas durante os ataques do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro, segundo autoridades israelenses.

Mais de 27.800 palestinos foram mortos e pelo menos 67 mil feridos na ofensiva lançada por Israel em resposta, segundo o ministério da saúde administrado pelo Hamas.

“Eles vivem em abrigos improvisados superlotados, em condições insalubres, sem água corrente, eletricidade e alimentos adequados”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre a situação dos palestinos na quinta-feira (08).

“Fomos claros ao condenar os atos horríveis do Hamas. Também fomos claros ao condenar as violações do direito humanitário internacional em Gaza.”

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