Saúde

A síndrome que afeta Celine Dion, que fez aparição surpresa no Grammy

Cantora franco-canadense de 55 anos foi diagnosticada com distúrbio neurológico raro com características de uma doença autoimune no ano passado.

Reuters
Em dezembro de 2022, Céline Dion revelou diagnóstico a fãs

Na noite do Grammy, Celine Dion fez uma rara aparição desde que seu diagnóstico de síndrome da pessoa rígida veio a público.

O quadro, que causa a perda de controle dos músculos, é um distúrbio neurológico raro com características de uma doença autoimune.

Dion, de 55 anos, recebeu ajuda para subir no palco e apresentar o prêmio, cerca de 27 anos depois de tê-lo recebido das mãos de Diana Ross e Sting.

Taylor Swift, que acabou ganhando na categoria de Álbum do Ano, foi uma das muitas pessoas que se levantou quando a cantora apareceu.

"Obrigada a todos, eu amo vocês de volta. Quando digo que estou feliz de estar aqui, realmente digo isso do fundo do meu coração", disse Dion.

"Aqueles que foram abençoados o suficiente para estar aqui no Grammy Awards nunca devem subestimar o tremendo amor e alegria que a música traz para nossas vidas e para as pessoas ao redor do mundo."

Céline Dion, de 55 anos, vinha sofrendo com espasmos musculares incontroláveis e, em janeiro de 2022, cancelou as datas da turnê devido ao agravamento da condição.

Em dezembro, revelou o diagnóstico aos fãs em um vídeo em seu Instagram.

"Há muito tempo que venho lidando com problemas de saúde e tem sido muito difícil para mim enfrentar esses desafios… Infelizmente, esses espasmos afetam todos os aspectos da minha vida diária, às vezes causando dificuldades quando ando e não me permite usar as cordas vocais para cantar como estou acostumada", disse.

Em maio deste ano, como a doença persistia, ela cancelou todas as datas futuras da turnê, dizendo: "Estou trabalhando muito para recuperar minhas forças, mas fazer turnê pode ser muito difícil mesmo quando você está 100%… Quero que todos vocês sabe, não vou desistir."

Mas o que é a síndrome da pessoa rígida?

Rigidez muscular

Diagnosticada pela primeira vez em 1956, a síndrome da pessoa rígida, no passado chamada de "síndrome do homem rígido", é um quadro neurológico que acomete o sistema nervoso central e provoca alterações neuromusculares.

"A doença tem um caráter autoimune, ou seja, ela faz com que algumas células do próprio corpo ataquem outras células saudáveis", disse Gustavo Franklin, neurologista do Hospital Marcelino Champagnat, em entrevista à BBC News Brasil em dezembro de 2022.

"Um anticorpo chamado de anti-GAD é tipicamente relacionado com esse processo de autoimunidade. Ele ataca algumas estruturas nervosas levando aos sintomas característicos."

Os sinais, segundo o médico, são principalmente a rigidez dos músculos, que pode variar em intensidade e frequência, o que costuma dificultar o diagnóstico correto.

O paciente pode ter espasmos dolorosos nos membros como braços e pernas e também na coluna.

"Ter essa síndrome aumenta a chance da pessoa ter outras doenças autoimunes, como diabetes mellitus", afirmo Franklin.

Embora a síndrome no passado levasse "homem" em seu nome, o neurologista afirma que ela é mais comum em mulheres com mais de 40 anos.

O diagnóstico que confirma o quadro é feito por meio de um exame neurofisiológico chamado de eletroneuromiografia, pela observação dos sintomas e também pela análise do líquor dos anticorpos GAD.

Não há cura, mas há tratamento

Não há cura, mas segundo o neurologista há tratamentos que, em alguns casos, funcionam tão bem que o paciente é considerado em estado de remissão.

"O tratamento envolve medicamentos imunossupressores e remédios para aliviar os sintomas, como relaxantes musculares."

A autoimunidade, explica o especialista, pode ser primária (de causa genética) ou secundária, como no caso de cerca de 1% dos pacientes com o quadro.

"Esses casos mais raros são chamados síndrome paraneoplásica, o que indica que a doença autoimune pode ser paralela à presença de um tumor. Não é nada comum, mas toda vez que diagnosticamos a síndrome da pessoa rígida devemos avaliar a possibilidade de ter tumores concomitantes", acrescentou Franklin.

Em entrevista ao site canadense 7 Jours, Claudette Dion, irmã da artista, disse que Céline "trabalha muito" no combate à doença, mas o futuro da sua carreira de cantora é incerto.

"Nos nossos sonhos e nos dela, a ideia é voltar aos palcos. Em que estado? Não sei."

Claudette Dion acrescentou que muitas pessoas contataram a fundação da cantora franco-canadense para oferecer apoio: "As pessoas nos dizem que a amam e oram por ela. Ela recebe tantas mensagens, presentes, crucifixos abençoados".

Esta matéria foi publicada em 20 de dezembro de 2023 e atualizada em 5 de fevereiro de 2024.

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