No campo desmatado do Deserto de Ngev, próximo ao kibutz Re-im, começou, ontem, uma marcha de quatro dias, com destino a Jerusalém. O cenário da morte de 364 pessoas pelo Hamas, em 7 de outubro, foi o ponto de partida de uma caminhada composta por familiares dos cerca de 130 reféns mantidos pelo grupo terrorista. O local, onde ocorreu o festival de música Tribe of Nova, transformou-se em um memorial, que recebe milhares de visitantes semanalmente.
Com bandeiras onde se lê "Unidos para libertar os reféns", a marcha, organizada pelo Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, homenageou as vítimas do ataque e contou com a participação de sobreviventes. Segundo o porta-voz do fórum, Haim Rubinstein, "os jovens que queriam festejar e amar se viram num pesadelo que ninguém poderia imaginar". Citado pelo Times of Israel, Niv Cohen, que estava no show, disse que, embora salvo, sua "alma ficou para trás". "Apelo a todos os tomadores de decisão — tenho certeza de que vocês usarão todos os meios políticos para trazer de volta meus amigos e todos os reféns."
A procissão, prevista para chegar a Jerusalém no sábado, acontece em um momento de expectativa de uma possível trégua, às vésperas do Ramadã, celebração religiosa muçulmana, que começa em 10 de março. "Minha esperança é que tenhamos um cessar-fogo na segunda-feira", afirmou o presidente americano, Joe Biden, questionado por jornalistas.
Trégua
Após quase cinco meses de guerra, os Estados Unidos, o Catar e o Egito, mediadores do conflito, esperam que o cessar-fogo ocorra em contrapartida da libertação de parte dos reféns. Segundo a agência de notícias France Presse (AFP), uma fonte próxima ao Hamas informou que a pausa nos ataques poderá ser de seis semanas. A cada dia, um refém seria trocado por 10 palestinos presos em Israel.
Ontem, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, pediu que Israel permita aos muçulmanos rezarem na mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, no mês sagrado do Ramadã. Um ministro de extrema-direita israelense propôs proibir o acesso ao local. "No que diz respeito a Al Aqsa, seguimos pedindo a Israel que facilite o acesso ao Monte do Templo aos fiéis pacíficos durante o Ramadã, como foi feito no passado", disse Miller.
Fome
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que 2,2 milhões de pessoas, ou seja, a maioria da população da Faixa de Gaza, enfrentam risco de fome, em particular no norte do território, que não recebe nenhum comboio com ajuda humanitária desde 23 de janeiro. "Se nada mudar, a fome é iminente", advertiu Carl Skau, diretor-executivo adjunto do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU.
Ontem, bombardeios de Israel atingiram novamente Zeitun, no norte do enclave, que é cenário de combates nas ruas. Khan Yunis e Rafah, no sul, também foram atacados.
Apesar das várias advertências internacionais, o chefe de Governo de Israel reiterou o empenho em prosseguir com a ofensiva e prometeu iniciar uma operação contra Rafah, uma localidade do sul da Faixa onde 1,5 milhão de palestinos sobrevivem aglomerados, muitos deles procedentes de outros pontos do território em busca de refúgio, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Netanyahu insiste que Rafah é o "último reduto" do Hamas e uma eventual trégua apenas "adiaria" a ofensiva que está determinado a lançar. Um pequeno protesto foi organizado na localidade, em um sinal do crescente desespero dos moradores.
Um balanço do Ministério da Saúde de Gaza indica que a ofensiva israelense deixou, até agora, 29.954 mortos. A maioria das vítimas seriam crianças e mulheres. Já o Hamas, ao atacar o sul de Israel, em outubro, causou a morte de 1.160, principalmente de civis.
Na vizinha Síria, Israel bombardeou, ontem, posições perto da capital, Damasco, informou um meio de comunicação estatal sírio. "Nossas defesas antiaéreas responderam a uma agressão israelense nos arredores de Damasco e derrubaram a maioria dos mísseis", afirmou a emissora estatal do país árabe. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma organização não-governamental sediada no Reino Unido, informou que os bombardeios visaram grupos apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah libanês.
Saiba Mais
Prefeitos reeleitos
Os prefeitos de Tel Aviv e de Jerusalém renovarão os seus mandatos, segundo os resultados preliminares das eleições municipais israelenses de terça-feira. As primeiras informações das urnas também mostram que os partidos ultraortodoxos obtiveram quase metade dos votos na Prefeitura de Jerusalém, principalmente devido à baixa participação entre outros blocos. Em Tel Aviv, a ex-ministra da Economia, Orna Barbivai, reconheceu a vitória de Ron Huldai, que é presidente da Câmara há 25 anos. O prefeito de Jerusalém, Moshe Lion, de um partido local chamado "Nossa Jerusalém", também parece ter obtido a reeleição, segundo os dados do Ministério do Interior.
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