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2 anos da guerra na Ucrânia: 5 questões-chave para entender o conflito

Não há motivos para acreditar que a guerra vai terminar em breve, mas podemos analisar a situação atual e o que pode acontecer no futuro.

Especialistas dizem que é provável que uma longa guerra de desgaste com mais vítimas -  (crédito: Getty Images)
Especialistas dizem que é provável que uma longa guerra de desgaste com mais vítimas - (crédito: Getty Images)
Uma mulher cobre o rosto com a mão enquanto está em frente a uma casa em chamas em Irpin, nos arredores de Kiev, 4 de março de 2022
Getty Images

A guerra na Ucrânia completa dois anos em 24 de fevereiro, e não há razão para acreditar que o conflito vai terminar em breve.

Nem a Ucrânia, nem a Rússia, tampouco os principais aliados de ambos os lados, veem qualquer chance de um acordo de paz no momento.

Kiev está convencida de que suas fronteiras internacionalmente reconhecidas devem ser restabelecidas e que vai expulsar as tropas russas. Já o posicionamento de Moscou segue sendo de que a Ucrânia não é um país propriamente dito, e as forças russas vão continuar a avançar até que seus objetivos sejam alcançados.

A seguir, vamos analisar o que está acontecendo agora, e o rumo que o conflito pode tomar no futuro.

Quem está ganhando?

Os violentos combates continuam durante o inverno, custando muitas vidas a ambos os lados.

A linha de frente de combate se estende por 1.000 km — e sua forma mudou pouco desde o outono de 2022.

Poucos meses após a invasão em grande escala, há dois anos, a Ucrânia fez as forças russas recuarem no norte e em torno da capital, Kiev. Retomou ainda grandes partes do território no leste e no sul no fim daquele ano.

Mas, agora, as forças russas estão entrincheiradas com fortificações resistentes, e os ucranianos dizem que sua munição está acabando.

Muitos veem um cenário de impasse militar – incluindo o ex-comandante-em-chefe ucraniano, Valerii Zaluzhnyi, destituído recentemente do cargo, e vários blogueiros militares russos pró-Kremlin.

Em meados de fevereiro, as tropas ucranianas se retiraram da cidade de Avdiivka, há muito tempo disputada, no leste.

As forças russas consideraram isso como uma grande vitória – como Avdiivka está estrategicamente posicionada, abriria caminho potencialmente para invasões mais profundas.

Kiev disse que a retirada visava preservar a vida dos seus soldados, e não escondeu que suas forças estavam em menor número e com menos armas.

Foi a maior conquista da Rússia desde que tomou Bakhmut em maio do ano passado. Mas Avdiivka fica a apenas 20 km a noroeste de Donetsk, cidade ucraniana ocupada pela Rússia desde 2014.

Mapa mostra área sob controle militar russo na Ucrânia
BBC

Um avanço tão pequeno está longe da ambição inicial da Rússia em fevereiro de 2022, compartilhada por blogueiros militares e reiterada pela propaganda estatal, de tomar a capital Kiev “em três dias”

Atualmente, cerca de 18% do território ucraniano permanece sob ocupação russa, incluindo a península da Crimeia, anexada em março de 2014, e grande parte das regiões de Donetsk e Luhansk, no leste, que a Rússia tomou pouco depois.

Mapa mostra a localização de Avdiivka no leste da Ucrânia
BBC

O apoio à Ucrânia está diminuindo?

Nos últimos dois anos, os aliados da Ucrânia enviaram uma grande quantidade de ajuda militar, financeira e humanitária ao país – sendo quase US$ 92 bilhões provenientes de instituições da União Europeia e US$ 73 bilhões dos EUA até janeiro de 2024, de acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial.

Os tanques, as defesas aéreas e a artilharia de longo alcance fornecidos pelo Ocidente ajudaram substancialmente a Ucrânia.

Mas o fluxo de contribuições diminuiu nos últimos meses, em meio ao debate sobre por quanto tempo os aliados vão poder apoiar de forma realista a Ucrânia.

Nos EUA, um novo pacote de ajuda de US$ 60 bilhões está parado no Congresso devido a disputas políticas internas.

E existe ainda o receio entre os aliados da Ucrânia de que o apoio dos EUA vai diminuir se Donald Trump voltar à Casa Branca após as eleições presidenciais de novembro.

Na União Europeia, um pacote de ajuda de US$ 54 bilhões foi aprovado em fevereiro, após muita discussão e negociação, especialmente com a Hungria, cujo primeiro-ministro, Victor Orban, é um aliado de Putin que se opõe abertamente ao apoio à Ucrânia.

Além disso, a União Europeia está em vias de entregar apenas cerca de metade das munições de artilharia que pretendia fornecer a Kiev até o final de março de 2024.

Os países que apoiam a Rússia incluem seu vizinho Belarus, cujo território e espaço aéreo foi usado para acessar a Ucrânia.

Gráfico mostra a ajuda à Ucrânia por parte de instituições da UE, EUA, Alemanha, Reino Unido e outros países
BBC

O Irã vem fornecendo drones Shahed à Rússia, dizem os EUA e a União Europeia, embora o Irã apenas admita ter fornecido um pequeno número de drones à Rússia antes da guerra.

Os veículos aéreos não tripulados (Vant), mais conhecidos como drones, se revelaram eficazes para atingir alvos na Ucrânia – em uma guerra em que há uma demanda por drones de ambos os lados devido à sua capacidade de escapar das defesas aéreas.

As sanções não funcionaram tão bem quanto os países ocidentais esperavam, e a Rússia ainda consegue vender seu petróleo e obter peças e componentes para sua indústria militar.

Não acredita-se que a China esteja fornecendo armas a nenhum dos lados. De uma maneira geral, o país asiático adotou uma linha diplomática cuidadosa no que se refere a esta guerra: não condenou a invasão russa, mas tampouco apoiou Moscou militarmente — embora tenha continuado a comprar petróleo russo, assim como a Índia.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia também se empenharam bastante em cortejar países em desenvolvimento, incluindo uma série de visitas diplomáticas à África e à América Latina.

Os objetivos da Rússia mudaram?

Acredita-se amplamente que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda quer toda a Ucrânia.

Em entrevista recente ao apresentador de talk show americano Tucker Carlson, Putin – que não foi contestado – expôs mais uma vez sua visão distorcida da história e do conflito.

Ele argumenta há muito tempo, sem fornecer evidências sólidas, que os civis na Ucrânia – especialmente na região de Donbas, no leste – necessitam de proteção russa.

Antes da guerra, ele escreveu um longo artigo que negava a existência da Ucrânia como um Estado soberano, dizendo que russos e ucranianos eram “um só povo”.

Em dezembro de 2023, ele declarou que seus objetivos para o que a Rússia chama de “operação militar especial” permaneciam inalterados, incluindo a “desnazificação” – que se baseia em alegações infundadas sobre a influência da extrema direita.

Ele também diz que quer a “desmilitarização” e uma Ucrânia “neutra”, e continua a protestar contra a expansão da influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste.

Como um Estado independente, a Ucrânia nunca pertenceu a nenhuma aliança militar. Seus objetivos políticos incluíam a adesão à União Europeia, e o país estava em negociações para estreitar os laços com a Otan – ambas as perspectivas parecem agora mais próximas do que no início da guerra.

Estes objetivos procuravam fortalecer o Estado da Ucrânia e protegê-la de ser arrastada para qualquer projeto geopolítico que visa restaurar a União Soviética de alguma forma.

Como a guerra poderia terminar?

Dado que nenhum dos lados parece propenso a se render, e que Putin parece determinado a permanecer no poder, as previsões dos analistas tendem a crer em uma guerra prolongada.

O centro de pesquisa de segurança global Globsec combinou as opiniões de dezenas de especialistas para avaliar a probabilidade de diferentes desfechos.

O cenário mais provável é de uma guerra de atrito, também conhecida como guerra de exaustão, que se estenderia para além de 2025, com fortes baixas de ambos os lados, e a Ucrânia continuando a depender do fornecimento de armas de aliados.

O segundo cenário mais provável inclui potenciais escaladas de conflitos em outras partes do mundo, como no Oriente Médio, na China-Taiwan e nos Balcãs – com a Rússia tentando exacerbar as tensões.

Dois outros cenários em potencial, ambos considerados igualmente prováveis, seriam a Ucrânia realizar algum avanço militar, mas nenhum acordo ser alcançado para acabar com a guerra – ou a ajuda dos aliados da Ucrânia diminuir, e eles pressionarem o país a chegar a uma solução negociada.

Permanece a incerteza, no entanto, tanto sobre o potencial impacto das eleições presidenciais dos EUA, assim como sobre a forma como outras guerras, especialmente o conflito Israel-Hamas, vão afetar as prioridades e alianças dos apoiadores da Ucrânia e da Rússia.

Soldado passa pelo muro memorial aos soldados mortos em Kiev, 4 de fevereiro de 2024
EPA
Especialistas dizem que é provável que uma longa guerra de desgaste com mais vítimas

O conflito poderia se alastrar ainda mais?

Em meados de fevereiro, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, advertiu que manter a Ucrânia num “déficit artificial” de armas ajudaria a Rússia.

Ele disse numa conferência de segurança internacional, em Munique, que Putin tornaria os próximos anos “catastróficos” para muitos outros países se o mundo ocidental não o enfrentasse.

O centro de pesquisa Royal United Services Institute (Rusi) afirma que a Rússia conseguiu fazer a transição da sua economia e indústria de defesa para ampliar a produção militar, e está se preparando para uma guerra longa. Diz ainda que a Europa não está acompanhando o ritmo — preocupação levantada também pelo ministro das Relações Exteriores da Polônia.

Países europeus — incluindo alertas feitos pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha e pelo serviço de inteligência da Estônia — manifestaram recentemente receio de que a Rússia possa atacar um país da Otan na próxima década.

Isso levou a Otan e a União Europeia a acelerar seu planejamento para o futuro, tanto em termos de capacidade militar como de preparação das sociedades para viver num mundo bem diferente.

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BBC
Kateryna Khinkulova e Victoria Prisedskaya - BBC World Service
postado em 22/02/2024 20:15 / atualizado em 22/02/2024 23:02
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