RÚSSIA

Viúva de Alexei Navalny promete continuar batalha contra Putin

Família de Navalny não tem acesso ao corpo do líder oposicionista e acusa Kremlin de tentar ocultar evidências de crime

 Leading Kremlin critic  Alexei Navalny's widow Yulia Navalnaya takes part in a meeting of European Union Foreign Ministers in Brussels, Belgium, on February 19, 2024. Navalnaya accused Russian president of killing her husband and vowed to continue his work, three days after he died in a Russian Arctic prison. (Photo by YVES HERMAN / POOL / AFP)
       -  (crédito:  AFP)
Leading Kremlin critic Alexei Navalny's widow Yulia Navalnaya takes part in a meeting of European Union Foreign Ministers in Brussels, Belgium, on February 19, 2024. Navalnaya accused Russian president of killing her husband and vowed to continue his work, three days after he died in a Russian Arctic prison. (Photo by YVES HERMAN / POOL / AFP) - (crédito: AFP)

Em um vídeo publicado em redes sociais, Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, acusou ontem o presidente russo, Vladimir Putin, de matar o líder oposicionista e prometeu que assumirá a luta pela "liberdade" do seu país. "Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Vou continuar pelo nosso país, com vocês. Peço a todos que estejam ao meu lado (...). Não é uma vergonha fazer pouco, é uma vergonha não fazer nada, é uma vergonha se permitir ter medo", declarou.

Principal adversário do chefe do Kremlin, Navalny morreu na última sexta-feira, aos 47 anos, em uma prisão do Ártico, no distrito autônomo de Yamalia-Nenetsia, localizado na região de Yamal, onde cumpria uma pena de 19 anos. "Há três dias, Vladimir Putin matou o meu marido. Putin matou o pai dos meus filhos", denunciou, acrescentando: "Com ele, queria matar o nosso espírito, a nossa liberdade, o nosso futuro".

Navalnaya pediu unidade "para atingir Putin, os seus amigos, os bandidos com dragonas, os cortesãos e os assassinos que querem paralisar" a Rússia. Ela afiançou que vai descobrir "quem cometeu o crime" e em quais circunstâncias.

Após a divulgação do vídeo, a viúva do líder opositor se reuniu com o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell. "Como Yulia disse, Putin não é a Rússia, e a Rússia não é Putin", publicou o diplomata na rede social X (ex-Twitter), após encontro, em Bruxelas, que contou com a participação dos ministros das Relações Exteriores da UE.

"Exame pericial"

Desde a sexta-feira passada, quando a morte de Navalny foi anunciada, familiares tentam ter acesso ao corpo do líder opositor, sem sucesso. Diante da situação, acusam o Kremlin de ocultar eventuais evidências de assassinato. A equipe de colaboradores de Navalny informou ontem que os investigadores realizarão um "exame pericial" no cadáver durante, pelo menos, duas semanas.

"Os investigadores disseram aos advogados e à mãe de Alexei que não vão entregar o corpo e que nos próximos 14 dias farão uma análise química", declarou a porta-voz da oposição, Kira Yarmish, pelo YouTube. "Vou dizer uma vez mais: o corpo de Navalny está sendo escondido para omitir as marcas do assassinato. Esta 'análise clínica' de 14 dias é uma mentira grosseira", afirmou a porta-voz, mais tarde, em nota divulgada na rede X.

A mãe de Navalny, Liudmila, viajou no sábado para a colônia penal do Ártico, onde o filho estava preso, mas não a deixaram visitar o necrotério onde, segundo lhe disseram, está o corpo do opositor. Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, se limitou a dizer que a investigação "continua em andamento" e não chegou a nenhuma conclusão "até o momento".

Yarmish afirmou que o Comitê de Investigação, responsável pelas investigações penais na Rússia, comunicou que o inquérito sobre a morte de Navalny foi prolongado. "Não se sabe até quando vai prosseguir. A causa da morte continua sendo 'indeterminada'. Eles mentem, tentam ganhar tempo e nem sequer escondem", assinalou.

Segundo Evgeni Smirnov, advogado da ONG especializada Pervy Otdel, os investigadores podem reter legalmente o corpo de uma pessoa que morreu na prisão por até 30 dias. Mesmo depois desse período, as autoridades podem decidir abrir uma investigação criminal e manter os restos mortais "pelo tempo que quiserem", de acordo com Smirnov.

Nas informações iniciais, o Serviço Penitenciário Russo (FSIN) divulgou que o opositor morreu após perder a consciência durante uma caminhada. Ele estava detido desde seu retorno à Rússia no início de 2021, ao fim de um tratamento a Alemanha, depois de sofrer um grave envenenamento. Desde então, Navalny enfrentava problemas de saúde há vários meses.

Durante sua reclusão, o principal adversário político de Putin passou quase 300 dias em uma cela disciplinar, em condições rigorosas de isolamento. O presidente russo, que nunca mencionou Navalny por seu nome, não fez qualquer comentário sobre a morte do detrator.

Onda de indignação

A morte de Navalny causou uma onda de comoção e indignação na Rússia e no Ocidente, onde muitos líderes acusaram Moscou de ser o culpado. A chancelaria alemã convocou o embaixador russo no país após a morte. "Diante da falta de informação, acreditamos que é absolutamente inaceitável fazer declarações tão odiosas", reagiu o Kremlin.

Na Rússia, as tentativas modestas de prestar homenagem ao opositor foram reprimidas, em plena campanha de intimidação contra qualquer crítica às autoridades desde o início da invasão na Ucrânia, em fevereiro de 2022. No fim de semana, a polícia russa prendeu centenas de pessoas que depositavam flores e acendiam velas em dezenas de cidades para homenagear o dissidente.

Ainda assim, ontem, muitas pessoas desafiaram o governo e continuaram a reverenciar Navalny em Moscou. "Alexei Navalny está vivo em nossa memória, é um raio de luz em nossa vida. continuaremos seu trabalho", declarou Larissa, uma motorista de ambulância de 54 anos, à agência France Presse (AFP).

Alexandra, 21 anos, disse que lhe dava medo visitar o monumento, pelos vídeos que viu das prisões realizadas nos últimos dias. Mas, ainda assim, decidiu ir. "Durante os primeiros dias, chorei sem parar. Estou muito chateada", contou.

Navalny era a figura de maior destaque da oposição na Rússia, onde ganhou popularidade — em particular entre os jovens — graças às investigações sobre a corrupção durante o governo Putin.

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postado em 20/02/2024 04:00
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