ALERTA

A arma 'preocupante' que a Rússia está desenvolvendo, segundo os EUA

O governo americano disse que a Rússia poderia estar desenvolvendo uma arma nuclear para atacar satélites no espaço

Especialistas disseram à BBC que uma arma espacial poderia causar o caos para os EUA, que dependem de satélites -  (crédito: EPA)
Especialistas disseram à BBC que uma arma espacial poderia causar o caos para os EUA, que dependem de satélites - (crédito: EPA)
Satélite no céu
EPA
Especialistas disseram à BBC que uma arma espacial poderia causar o caos para os EUA, que dependem de satélites

A Rússia está desenvolvendo uma nova arma anti-satélite que é "preocupante", segundo autoridades do governo dos Estados Unidos.

O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, comentou o assunto na quinta-feira (15/2), um dia depois de um parlamentar republicano ter feito alertas vagos sobre uma suposta “séria ameaça à segurança nacional”.

Segundo o governo dos EUA, a suposta arma ainda não foi usada. Ela ficaria baseada no espaço e estaria equipada com uma arma nuclear para atingir satélites, segundo a rede de notícias CBS News. Kirby não confirmou esses detalhes.

A Rússia reagiu acusando os EUA de usarem as alegações de novas armas russas como uma estratégia para forçar o Congresso a aprovar ajuda adicional à Ucrânia "por bem ou por mal".

Kirby, que recentemente foi nomeado assessor do presidente Joe Biden, disse aos repórteres que não existe uma ameaça imediata aos americanos.

"Não estamos falando de uma arma que possa ser usada para atacar seres humanos ou causar destruição física aqui na Terra", disse ele.

Kirby disse que Biden foi informado sobre a suposta arma e que seu governo estava levando o desenvolvimento da arma "muito a sério". Ele afirmou que o presidente já havia ordenado "um contato diplomático direto com a Rússia" sobre a ameaça.

Na quarta-feira, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, o parlamentar republicano Mike Turner, havia feito um alerta enigmático sobre uma séria ameaça à segurança nacional, provocando uma série de rumores em Washington.

Na quinta-feira, Turner e outros membros do comitê se reuniram com o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, para discutir o assunto.

"Todos saímos com uma impressão muito forte de que o governo está levando isto muito a sério e que o governo tem um plano em andamento", disse Turner após a reunião. "Vamos apoiá-los quando eles o implementarem."

Embora armas espaciais pareçam algo saído da ficção científica ou de filmes como o do Super-Homem ou do James Bond, especialistas militares alertam há muito que o espaço será provavelmente a próxima fronteira da guerra em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia.

O que sabemos sobre a suposta arma?

Fora os comentários de Kirby, autoridades do governo dos EUA ainda não revelaram publicamente detalhes específicos sobre a suposta ameaça.

O Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, sugeriu que esse silêncio é proposital, dizendo aos repórteres na quarta-feira que os EUA priorizam as "fontes e métodos" que suas agências de segurança usaram para coletar informações sobre a ameaça.

Os veículos de imprensa New York Times, ABC e CBS relataram que a suposta ameaça teria relação com uma arma com capacidade nuclear que estaria sendo desenvolvida pela Rússia e que poderia ser usada para atacar satélites dos EUA no espaço.

Kirby disse aos jornalistas que não há provas de que a arma tenha sido utilizada, mas enfatizou que os EUA levam a ameaça "muito a sério".

Durante anos, autoridades dos EUA e especialistas aeroespaciais alertaram que a Rússia e a China têm desenvolvido constantemente capacidades militares no espaço, em meio à sua rivalidade com os EUA.

Um relatório divulgado no ano passado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, sugeriu que a Rússia estaria desenvolvendo uma série de armas anti-satélite (ASAT), incluindo um míssil que foi testado com sucesso contra um satélite extinto da era soviética em novembro de 2021.

Uma das autoras do relatório, Kari Bingen, ex-funcionária de alto escalão da inteligência do Pentágono, disse à BBC que durante a guerra na Ucrânia, a Rússia já usou uma variedade de outros métodos – como ataques cibernéticos e interferências – para dificultar as comunicações por satélite.

"Isso já faz parte da sua doutrina de combate", disse ela.

É preciso se preocupar?

Parlamenteres americanos – incluindo o presidente da Câmara, Mike Johnson – disseram que não há necessidade de pânico público.

Turner foi alvo de críticas por divulgar a ameaça. Seu colega de partido, o republicano Andy Ogles, o acusou de "desrespeitar de forma imprudente o bem-estar e a alma do povo americano".

Mas especialistas e ex-funcionários alertaram que qualquer ameaça aos satélites dos EUA pode ter um impacto profundo no país.

Mais do que qualquer um dos seus potenciais adversários globais, as Forças Armadas dos EUA dependem fortemente das comunicações por satélite para tudo — desde vigilância e detecção de lançamento de mísseis até à navegação no mar e no ar, com bombas guiadas por GPS e comunicações no campo de batalha.

Caças americanos em porta-aviões
Getty Images
As Forças Armadas dos EUA dependem fortemente de satélites para tudo, desde a navegação até a seleção de alvos

"As nossas Forças Armadas, a forma como elas lutam hoje e o investimento em armas que fabricamos dependem das capacidades espaciais", disse Bingen, que já foi a segunda maior autoridade de inteligência do Departamento de Defesa dos EUA.

"Sem isso, estaríamos em uma situação bastante difícil. Não poderíamos lutar da maneira que aprendemos a lutar nos últimos 30 ou 40 anos."

A dependência dos satélites também é evidente no mundo civil, onde os satélites são usados para uma ampla gama de funções cotidianas, desde serviços de caronas habilitados por GPS e entrega de alimentos até previsão do tempo, agricultura de precisão e transações financeiras que dependem de tempo baseado em sinais de satélite.

"Os satélites são parte fundamental da nossa vida cotidiana", disse Bingen. "Os americanos e os cidadãos de todo o mundo dependem do espaço e nem sequer percebem isso."

Existem regras sobre armas espaciais?

Os EUA, a Rússia e a China já têm capacidade para atacar satélites em todo o mundo. Mas, em teoria, os países não podem usar armas nucleares nestes alvos.

Todos os três países são signatários do Tratado do Espaço Sideral de 1967, que proíbe os países de enviarem para órbita "quaisquer objetos que transportem armas nucleares ou quaisquer outros tipos de armas de destruição em massa".

Mick Mulroy, antigo vice-secretário adjunto da Defesa dos EUA, disse que esse tratado internacional não oferece qualquer garantia de segurança no atual clima geopolítico.

"A Rússia demonstrou um total desrespeito pelos tratados que assinou e mostrou vontade de usar a força militar na Ucrânia, contrariando todas as leis e normas internacionais", disse ele. "Eles não cumprem a sua palavra e nem cumprem as obrigações dos tratados."

Bandeira da Forca Espacial dos EUA
Getty Images
A Força Espacial dos EUA virou formalmente um ramo das Forças Armadas em 2019

O espaço será um novo campo de batalha mundial?

Matthew Kroenig, comissário da Comissão do Congresso sobre Estratégia dos Estados Unidos e ex-funcionário de defesa e inteligência durante os governos Bush, Obama e Trump, disse à BBC que é natural que o espaço se torne um foco cada vez mais importante das Forças Armadas ao redor do mundo.

"Até este ponto, os humanos têm explorado o espaço", disse ele. "Mas agora estamos entrando em uma fase em que vemos a comercialização do espaço e estamos apenas no começo disso."

A próxima fase, disse ele, verá países de todo o mundo tentando "garantir" uma parte do espaço.

"Nós sempre assumimos que os mares e os céus estão livres e abertos para atividades comerciais", disse Kroenig. “Idealmente, é como gostaríamos que fosse o espaço daqui a 30 anos — podendo viajar, fazer negócios e talvez até viver no espaço”.

"Precisamos ter certeza de que ele será um domínio seguro."

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BBC
Bernd Debusmann Jr - Da BBC News em Washington
postado em 16/02/2024 06:50 / atualizado em 16/02/2024 15:40
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