O aliado e ex-assessor para assuntos internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, foi um dos presos na quinta-feira (8/2) em operação da Polícia Federal (PF) que investiga uma organização criminosa acusada de tentar promover um golpe de Estado.
Segundo informações do portal G1, Filipe Martins foi preso pela PF na casa de sua namorada em Ponta Grossa, no Paraná.
A BBC News Brasil procurou a defesa de Filipe Martins, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Bolsonaro também foi alvo da Operação Tempus Veritatis. A PF determinou que o ex-presidente entregue seu passaporte e não mantenha contato com os demais investigados.
Além de Martins também foram presos preventivamente dois ex-assessores de Bolsonaro: o coronel do Exército Marcelo Câmara e o major do Exército Rafael Martins de Oliveira.
O militar Bernardo Romão Correa Neto também tem mandado de prisão expedido contra ele, mas está no exterior.
Também foram alvo de mandados de busca e apreensão o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha, e Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.
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'Posição de proeminência'
De acordo com a decisão assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou sua prisão preventiva, Filipe Martins faria parte de um grupo criminoso investigado por tentar organizar um golpe de Estado nos períodos que antecederam e se seguiram às eleições presidenciais de 2022, em uma tentativa de garantir a manutenção de Jair no poder.
Em novembro de 2022, Martins teria apresentado ao ex-presidente uma minuta de decreto para "executar um golpe de estado" e realizar novas eleições.
O documento também decretava a prisão de diversas autoridades, entre as quais Alexandre de Moraes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Posteriormente foram realizadas alterações a pedido de Bolsonaro, segundo a PF, permanecendo apenas a determinação de prisão de Moraes.
A deliberação que levou à prisão do ex-assessor também aponta Martins como alguém que exercia posição de proeminência nas tratativas jurídicas, através da intermediação com pessoas dispostas a redigir os documentos que atendessem aos interesses do grupo.
'Gabinete do ódio' e gesto racista
Figura próxima de Jair Bolsonaro e seus filhos, Filipe Martins foi nomeado assessor especial da Presidência para assuntos internacionais no início de 2019, após ter trabalhado com o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no governo de transição.
Assim como Araújo, Martins era seguidor de Olavo de Carvalho. O ex-assessor de Bolsonaro também foi um dos principais responsáveis por atrelar a família do ex-presidente a Steve Bannon, ex-estrategista do americano Donald Trump.
Durante sua passagem oficial pelo governo, Martins acumulou polêmicas.
Em junho de 2021, o ex-assessor foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter feito um gesto considerado alusivo a movimentos racistas de supremacia branca durante uma sessão no Senado no mesmo ano.
Ele estava atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com transmissão ao vivo pela TV Senado, quando fez o gesto com as mãos e foi flagrado pelas câmeras.
Na época, Martins disse que estaria apenas ajustando seu terno e que o gesto não foi feito com nenhuma intenção política.
Ele foi absolvido da acusação de racismo na 1ª instância, mas, em novembro passado, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), derrubou a decisão anterior, e ele voltou a ser investigado.
Martins também foi incluído no inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal, suspeito de participar do chamado “gabinete do ódio”, grupo baseado no Planalto para difundir mentiras e ataques a adversários políticos de Bolsonaro.
Martins saiu do Brasil com Bolsonaro, em dezembro de 2022, após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais.
Ele retornou ao Brasil no ano passado e, desde então, manteve uma presença bastante discreta nas redes sociais, onde antes publicava com frequência.
Especialmente no Twitter, Martins reverberava ideias sobre "globalismo", "ideologia de gênero" e outros muitos temas que inspiraram parte da ideologia propagada por Bolsonaro e seus aliados.
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