América do Sul

Câmara da Argentina aprova versão desidratada da "Lei Ônibus" de Milei

O governo de Milei teve que abrir mão de quase metade dos 664 artigos previstos no texto original. Protestos foram realizados em Buenos Aires por críticos ao presidente ultraliberal

Os legisladores debatem o 'projeto geral' de reformas econômicas do governo no Congresso em Buenos Aires em 2 de fevereiro de 2024.  -  (crédito: Juan Mabromata / AFP)
Os legisladores debatem o 'projeto geral' de reformas econômicas do governo no Congresso em Buenos Aires em 2 de fevereiro de 2024. - (crédito: Juan Mabromata / AFP)

A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou, na noite desta sexta-feira (2/2), o texto-base do pacote de reformas proposto pelo presidente Javier Milei. A chamada “Lei Ônibus” passou com 144 votos contra 109, mas foi bastante desidratada pela oposição ao líder ultraliberal.

A aprovação ocorre após três dias de sessões na Câmara e é o primeiro grande teste de Milei no Congresso argentino. No entanto, os deputados ainda devem discutir cada um dos mais de 380 artigos individualmente a partir da próxima terça-feira (6/2). Depois, o texto será enviado ao Senado — onde a minoria oficialista espera reeditar alianças.

A versão aprovada é bem “desidratada”, já que o governo teve que abrir mão de quase metade dos 664 artigos previstos no texto original. Entre os cortes está o capítulo fiscal da reforma, e pontos importantes como a redução no número de empresas estatais que serão privatizadas e os poderes extraordinários que o Executivo busca para passar reformas futuras sem o Congresso.

Grande parte da discussão centrou-se nos "poderes delegados", que, segundo os opositores, implicam "conceder a soma do poder público", bem como nas privatizações e na captação de dívida externa sem aprovação do Congresso.

O deputado opositor Máximo Kirchner lembrou que o atual ministro da Economia, Luis Caputo, era funcionário do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) quando a Argentina negociou um empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 217,6 bilhões, na cotação atual) com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Nós argentinos já sabemos o que acontece quando o modelo econômico se centra no ajuste e na desregulamentação", alertou o deputado opositor Leandro Santoro, evocando os ajustes que desencadearam a crise econômica e social de 2001. Vários deputados opositores denunciaram não ter visto uma cópia da versão final redigida pelo oficialismo após negociações difíceis.

"Temos duas opções claras", leu a deputada Lorena Villaverde, do partido A Liberdade Avança, de Milei: "Nos tornarmos a maior favela do mundo, ou dar continuidade a este caminho, em direção à prosperidade e à liberdade".

Balas de borracha e gás lacrimogêneo

Na quinta-feira, centenas de manifestantes contrários às reformas que protestavam em frente ao Congresso foram reprimidos por policiais com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, até serem dispersados. "Houve excessos", respondeu um dos líderes da bancada governista, José Luis Espert, em coletiva de imprensa na porta do Congresso, ao ser perguntado sobre a ação das forças de segurança que deixou dezenas de feridos, segundo a AFP conseguiu comprovar.

O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, informou nesta sexta-feira (2) que os incidentes deixaram oito presos e que sete agentes das forças de segurança ficaram feridos devido aos "atos de violência". Forças da polícia militarizada haviam alertado que respeitariam o protocolo de restrições severas às manifestações de rua criado por Milei e por sua ministra de Segurança, Patricia Bullrich.

"Houve alguns pequenos momentos de tensão", comentou Bullrich aos jornalistas, alegando que os argentinos precisam de uma "mudança cultural" para acabar com a "tomada das ruas".

Ajustes em andamento

Milei já ditou um megadecreto que modifica centenas de normas e leis, para reverter com amplas desregulações uma crise que mantém mais de 45% dos argentinos na pobreza, com uma inflação anual de 211% em 2023.
Antes, o ultraliberal avançou com uma desvalorização do peso de 50% e a liberação de todos os preços da economia, o que acelerou a inflação a 25,5% em dezembro.

Milei também renovou o programa creditício de US$ 44 bilhões com o FMI, que elogiou esses primeiros ajustes, mas previu uma recessão de 2,8% da economia argentina em 2024. Na quarta-feira, o Fundo aprovou o desembolso de US$ 4,7 bilhões (R$ 23,1 bilhões) - para pagamento de sua própria dívida - em apoio às "medidas econômicas" de Milei, embora tenha advertido que "o caminho para a estabilização será difícil".


Com informações da AFP e da Agência Estado.

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postado em 02/02/2024 20:51 / atualizado em 02/02/2024 20:54
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