DROGAS

O que está em jogo no diálogo entre China e EUA sobre o fentanil

Os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de mortes causadas pelo fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais forte que a heroína e mais fácil e barato de ser produzido

Os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de mortes causadas pelo fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais forte que a heroína e mais fácil e barato de ser produzido -  (crédito: Haley Lawrence/Unsplash)
Os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de mortes causadas pelo fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais forte que a heroína e mais fácil e barato de ser produzido - (crédito: Haley Lawrence/Unsplash)

China e Estados Unidos iniciaram conversas, nesta terça-feira (30), pela primeira vez em anos, sobre como frear a produção do opioide sintético fentanil.

Washington acusa Pequim de ser cúmplice no mortal comércio desta droga, que devastou comunidades em todo o território americano. 

A China nega tal acusação e defende a sua política de "tolerância zero" em relação às drogas, ao passo que insiste que as causas da crise desta dependência estão nos Estados Unidos

Veja abaixo o que está em jogo na reunião.

O que é o fentanil e de onde vem?

Os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de mortes causadas pelo fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais forte que a heroína e mais fácil e barato de ser produzido.

Este país registra anualmente 70 mil mortes por overdose, o que a torna a principal causa de morte de pessoas entre os 18 e 49 anos, segundo fontes americanas.

A Agência Antidrogas Americana (DEA, na sigla em inglês) considerou a China como "a principal fonte de todas as substâncias relacionadas ao fentanil nos Estados Unidos". 

No ano passado, um relatório do Serviço de Investigação do Congresso (CRS, na sigla em inglês) destacou que o fornecimento direto da droga proveniente da China foi interrompido em 2019 por uma maior fiscalização de Pequim, mas as rotas de fornecimento mudaram.

Em vez de enviá-la diretamente através de serviços de correio internacional, os componentes químicos são enviados da China para o México, onde o fentanil é fabricado para ser contrabandeado aos Estados Unidos. 

Estes produtos químicos podem ser produzidos em laboratórios clandestinos ou em "empresas químicas e farmacêuticas legítimas", segundo o CRS.

Pequim inicialmente insistiu que "não há tráfico ilegal de fentanil entre a China e o México", mas agora prometeu contê-lo. 

O Ministério das Relações Exteriores da China disse em dezembro que o país "realiza campanhas contra o fentanil e seus precursores químicos".

Estes "precursores" são substâncias químicas desviadas de seu curso legal e utilizadas na fabricação de diferentes tipos de drogas.

O porta-voz do ministério, Wang Wenbin, afirmou que a China "tomou medidas contra atividades ilegais e criminosas que envolvem contrabando, fabricação ilícita, tráfico e abuso de substâncias com fentanil".

O que os Estados Unidos fizeram?

O presidente americano, Joe Biden, tornou a luta contra um fentanil uma prioridade de seu governo.

Em outubro, o Departamento de Justiça dos EUA impôs sanções contra cerca de 20 entidades e indivíduos na China acusados de serem a "fonte de abastecimento" de muitos traficantes de droga nos Estados Unidos, fraudadores de moeda virtual e organizações criminosas no México.

Entre as empresas sancionadas, está uma companhia de Wuhan e inúmeras de Hong Kong e da China continental, acusadas de transportar 900 quilos de "precursores de fentanil e metanfetamina apreendidos", após serem enviados para Estados Unidos e México. 

"Sabemos que a cadeia de abastecimento global de fentanil, que mata americanos, muitas vezes começa com empresas químicas na China", afirmou recentemente o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland.

Pequim rejeitou as sanções e classificou-as como parte de uma campanha de Washington contra seu governo.

Qual o combinado entre China e EUA?

O diálogo sobre drogas estabelecido por estes dois países estagnou em um contexto de deterioração das relações entre ambos, com disputas sobre comércio, direitos humanos e a situação de Taiwan. 

Entretanto, após uma cúpula entre os presidentes Biden e Xi Jinping em San Francisco, em novembro, Washington e Pequim concordaram em retomar as discussões.

Na ocasião, o mandatário chinês afirmou que "tem empatia profunda" pelas vítimas do fentanil e prometeu combatê-lo.

Desde então, a China fechou uma empresa, bloqueou alguns pagamentos internacionais e retomou o compartilhamento de informações sobre transporte marítimo e tráfico, disse uma autoridade americana.

Washington espera que a China tome mais medidas contra as empresas que fabricam os precursores químicos da droga.

Para definir tal diálogo, autoridades americanas dos departamentos de Estado, Tesouro, Interior e Justiça participarão da reunião desta terça-feira. A China não informou quem representará o governo nas negociações.

A qual acordo poderão chegar?

A cooperação sobre o fentanil está estreitamente ligada aos altos e baixos da relação entre as duas potências. 

Após um diálogo entre os dois países na semana passada em Bangkok, um funcionário de alto escalão dos EUA afirmou que a ação conjunta contra o fentanil "deve ser contínua e constante".

Um relatório da Brookings Institution alertou esta semana que as redes criminosas chinesas, algumas das quais estão envolvidas no comércio de drogas, estavam expandindo suas operações internacionais. 

"Pequim raramente age contra a liderança das organizações criminosas chinesas", observaram os autores do documento.

A pressão internacional poderia forçá-la a tomar medidas contra o fentanil, mas sua "firmeza depende de sua orientação geopolítica e das relações bilaterais", completa o relatório.

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postado em 01/02/2024 21:19
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