O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assegurou que seu país responderá, "na hora e do modo que escolher", ao ataque com drone que matou três soldados norte-americanos e feriu 34, no domingo (28/1), na fronteira entre a Jordânia e a Síria. Sob pressão para bombardear o Irã, o democrata recebeu, na Sala de Situação da Casa Branca, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, e membros da equipe de segurança nacional do governo, de quem recebeu informações sobre o atentado.
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Biden anunciou que lançará mão de uma retaliação "muito racional". Ao mesmo tempo, John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, admitiu que o incidente representa "uma escalada" e "exige uma resposta", mas avisou: "Não estamos buscando uma guerra com o Irã".
O senador Lindsey Graham, principal nome do Partido Republicano no Comitê Judicial, instou Biden a atingir o Irã "agora" e "com força". "A melhor resposta (...) é alvejar o petróleo iraniano ou a infraestrutura militar da Guarda Revolucionária, valiosa para o regime. Qualquer coisa menos que isso será vista como fraqueza e colocará mais americanos em perigo", advertiu. O magnata e ex-presidente Donald Trump, favorito nas eleições de 5 de novembro, segundo as pesquisas, culpou "a fraqueza e a rendição de Biden" a Teerã.
A Resistência Islâmica no Iraque afirmou que lançou três drones contra bases na Síria, inclusive perto da fronteira com a Jordânia. Formado por uma aliança de grupos armados associados ao Irã, o movimento extremista exige a retirada das tropas norte-americanas do Iraque e rejeita o apoio de Bagdá a Israel em sua guerra na Faixa de Gaza para desmantelar a capacidade armamentista do Hamas e vingar o massacre de 7 de outubro. O alvo atingido no último domingo foi a Torre 22, base militar de apoio logístico dos Estados Unidos, que tem desempenhado papel crucial no combate aos focos remanescentes do Estado Islâmico.
Negativa
O Irã descartou envolvimento no ataque e qualificou as acusações dos Estados Unidos de "infundadas". "A República Islâmica do Irã não vê com bons olhos a expansão do conflito na região", declarou Naser Kanaani, porta-voz da chancelaria de Teerã, por meio de um comunicado publicado no domingo, no qual sublinhou que "não está envolvido nas decisões dos grupos de resistência". Biden enfrenta um dilema complexo: com as ações dos rebeldes separatistas huthis do Iêmen contra barcos no Mar Vermelho, em retaliação à guerra de Gaza, e as ameaças da milícia xiita libanesa Hezbollah contra Israel, um ataque ao Irã poderia fazer o conflito no Oriente Médio se espalhar por vários países e sair de controle.
Nesta segunda-feira (29), tropas dos EUA voltaram a ser atacadas, dessa vez por foguetes disparados contra a Síria. "Múltiplos foguetes foram lançados contra as forças americanas e da coalizão na Base de Patrulha Shaddadi, localizada na Síria. Não foram reportados feridos nem danos à infraestrutura", disse um alto funcionário do Pentágono, citado pela agência France-Presse, que não quis ser identificado. Desde a metade de outubro, as forças de Washington e da aliança contra o Estado Islâmico foram atacadas 165 vezes — 66 no Iraque, 98 na Síria e uma na Jordânia —, com drones, foguetes, morteiros e mísseis balísticos de curto alcance.
Em outra amostra da tensão regional, Israel atacou uma base do Hezbollah e da Guarda Revolucionária no sul de Damasco. Três mísseis mataram oito pessoas, incluindo combatentes pró-Irã. Entre os mortos, estão um segurança de um oficial da Guarda Revolucionária e dois guerrilheiros do Hezbollah.
"Acho que veremos uma resposta militar mais contundente do que a que vimos nas últimas semanas (no Iêmen), mas receio que a resposta não seja suficientemente forte", disse à reportagem Bradley Bowman, diretor do Centro sobre Poder Político e Militar da Fundação para a Defesa das Democracias, em Washington. "Desde o massacre de 7 de outubro, venho dizendo que o perigo real, em termos de uma guerra regional mais ampla e de proteção dos interesses dos EUA, são respostas demasiadamente fracas deste governo. A Casa Branca vê a contenção e a proporcionalidade como prudentes e eficazes. Um simples tapa no pulso convidará os nossos inimigos a continuarem nos atacando."
Bowman explica que há várias maneiras de impor um custo elevado à República Islâmica do Irã, sem que sejam ataques diretos ao território iraniano. "Há militares da Guarda Revolucionária e instalações relacionadas que podem ser atingidas no exterior. Também existem recursos navais iranianos que podem facilitar os ataques dos huthis às embarcações no Mar Vermelho."
O iraniano-alemão Ali Fathollah-Nejad — diretor do Centro para o Oriente Médio e a Ordem Global (em Berlim) — afirmou ao Correio que a resposta dos Estados Unidos ao bombardeio à Torre 22 envolve um contexto complicado. "Washington, ao mesmo tempo, experimenta o risco de antipatia por entrar em uma guerra direta com o Irã e uma pressão para vingar o assassinato de seus soldados", disse. "Embora pareça que os EUA sejam favoráveis a atacar posições da Guarda Revolucionária na região, e não dentro do Irã, alguns elementos dentro do território iraniano favorecem tensões regionais", acrescentou.
Segundo Fathollah-Nejad, o aumento da instabilidade no Oriente Médio poderia ajudar a desviar a atenção da opinião pública iraniana de uma situação interna delicada. "Há um receio do regime teocrático islâmico em relação a mais uma participação historicamente baixa na próxima eleição, dentro de um mês", observou. Em 1º de março, o Irã realizará eleições legislativas.
EU ACHO...
"A insistência do Irã de que nada teve com o ataque é uma reminiscência da mesma alegação que Teerã tem feito no contexto dos atentados cometidos pelos huthis contra embarcações no Mar Vermelho. Ainda que os aliados do Irã possam ter algum nível de independência e de autonomia de ação, seria muito arriscado para a República Islâmica permitir ações independentes, em um perigoso contexto como o da guerra em Gaza, uma vez que Teerã busca evitar um confronto direto com Israel ou com os EUA, temendo a segurança do próprio regime."
Ali Fathollah-Nejad, diretor do Centro para o Oriente Médio e a Ordem Global, em Berlim
Combates nas ruas e nos túneis de Khan Yunis
As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciam que fizeram avanços importantes nos combates contra o grupo extremista Hamas em Khan Yunis (sul), a segunda maior cidade da Faixa de Gaza e considerada a capital da facção. De acordo com Rafael Rozenszajn, major e porta-voz das IDF, os soldados conseguiram desmantelar dois batalhões do Hamas no leste da cidade e eliminar mais de 2 mil integrantes do grupo, na superfície e no complexo de túneis. "Nossa Divisão 98 luta apoiada pela infantaria, pela unidade de comando, por blindados, pela engenharia e por unidades de especiais, ombro a ombro, acima do solo e do subsolo, ao mesmo tempo. É um novo método de combate, que inclui tecnologia avançada. Alguns dos componentes são usados pela primeira vez", explicou. Ele admitiu ao Correio que Khan Yunis está cercada pelas tropas. "Nossas forças avançarão de acordo com o plano elaborado pelos comandantes que atuam na região. Nos últimos dias, houve um progresso grande das tropas", acrescentou. Ao todo, 136 reféns seguem retidos em Gaza. "Não desistimos dele e não desistiremos", disse o militar. Rozenszajn acrescentou que, desde o início da guerra, em 7 de outubro, 9 mil combatentes do Hamas e 19 comandantes de batalhões do grupo extremista foram mortos.